Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

Curiosidades - As marcas e os nomes

Ao longo da história, as marcas de motos ganharam os seus nomes, alguns bem sugestivos, das mais diversas maneiras…

andardemoto.pt @ 12-9-2018 23:55:00 - Paulo Araújo

O leitor já ouviu falar das motocicletas Raio-de-sol? E das Sem Par? No entanto, são duas marcas Inglesas famosas – basta traduzir: Sunbeam e Matchless – esta última, logo apelidada pelos maldosos de Matchbox (caixa de fósforos). Claro que se disséssemos Triunfo (Triumph) a coisa já ficava mais óbvia. 

A dada altura havia tantas marcas, que a maioria eram simplesmente uma adaptação do nome do seu proprietário ou fundador. Assim foi com a Norton de James Lansdowne Norton, cuja filha Ethel pincelou o famoso logotipo que adorna as motos negras e prateadas desde então. O mesmo se passou com a Vincent ou com as Peugeot, sendo já as Coventry, algumas 7 diferentes ao longo dos anos, baptizadas pela cidade de origem.

Alguns nomes imortalizaram parcerias célebres, como a dos irmãos Davidson e do seu sócio engenheiro William Harley- este teve tal influência na criação da marca que os Davidson insistiram que o seu nome figurasse primeiro na sigla centenária da Harley-Davidson ao contrário da lógica alfabética. 

Outras vezes, pelo contrário, um dos nomes era mais apelativo, ou mais sonante que o outro e prevaleceu, ou poderíamos ter de nos referir hoje às Honda como Fujiwara-Honda ou FH… Excluído do nome, esquecido pela história, poucos têm noção da importância do sócio que acompanhou Soichiro Honda nos primeiros anos, como Diretor Comercial da empresa. 

Aliás, os Japoneses gostam de criar siglas partindo de traduções do seu nome em Inglês como a dos famosos pneus Ishibashi… nunca ouviu falar? E se dissermos Bridgestone, que quer dizer a mesma coisa?


Já os alemães preferiam iniciais mais sóbrias, e dizer BMW também era mais prático que ficar com a boca cheia de Bayerische Motoren Werke… Por vezes, quando a qualidade do produto podia não ser a melhor, uma ideia era tentar dar-lhe logo credibilidade à partida com o nome… como em Powerful, Excelsior, Zenith, ou Economic.

Os franceses tendiam para o mais poético, demonstrado por nomes como Mignon (engraçada) ou Moto Rêve (moto de sonho), numa tentativa de imbuir os produtos com qualidades que talvez não fossem além do nome no depósito… Nesse capítulo, as marcas nacionais também têm culpas no cartório, com Perfectas, Carinas, Dianas e outros nomes de gosto igualmente duvidoso… e decerto, se a indústria tivesse chegado aos anos 90, eventualmente haveria uma moto Cátia Vanessa!

A conquista do espaço também disparou a imaginação, como se viu com as Famel Foguete e Foguetão, ou pela mais emblemática das nacionais, a V5. Do lado do deselegante e a prestar-se a confusões, que dizer da Pachancho… 

Depois, havia a Só4 do Barreiro, nomeada pela razão de que precisamente só fizeram… quatro! Lá fora, não parecia haver um registo de patentes e marcas a funcionar, e nomes repetidos eram lugar-comum: Houve Simonettas, Simoninis e Simoncellis, duas Columbias, uma americana e outra francesa, três Coronas e quatro Simplex… Três Glórias apagaram-se sem vestígio tal como quatro Torpedos da Checoslováquia, Alemanha e Inglaterra, além de uma Torpado de Itália, que não só não fizeram ondas como se afundaram sem deixar rasto entre 1903 e 1956.


Houve nomes monossilábicos estranhíssimos, como Od, Ob, Ut, Tx, Vis ou Zwi… uma Israelita. 

Algumas marcas levantavam questões interessantes, ou cómicas: um alemão andaria descansado com o Cudell, um triciclo de 1905, sabendo que uma Verga ou Pirotta italianas o poderiam abalroar? 

Que hipóteses tinha o dono de uma Azaritti de chegar ao seu destino sem problemas? Pilotar uma Ninbus dinamarquesa seria como andar nas nuvens? Seria de esperar que uma Autotosco inglesa fosse mal acabada? Pelo menos, mais que uma Perfecta… e longe de um pedido de socorro, a SOS inglesa queria dizer “So Obvioulsy Superior”! Quando a fábrica de LePaulin fechou em 1959, alguém terá dito paz à sua Alma? E um sobrinho poderia levar emprestada a Kuhne da tia?

Calcula-se que uma Corre francesa fosse rápida, mas quantas Favor faziam os operários diariamente na respectiva fábrica? Podia-se ir longe numa Far? Talvez levando, por precaução, uma Farnell e uma Schweppe fresquinha… 

Como distinguir uma MM americana das suas homónimas inglesa e italiana sem parecer que tínhamos um caramelo entalado nos dentes? E como dizer não a uma SIM de 1953? Em que pé enfiavam os Suecos uma Sok de 1925? As Nut inglesas eram duras de roer? E quantas pessoas de pé poderia levar uma Unibus, também inglesa, de 1925? Quantos francos custava uma Dollar francesa de 1939? Seria uma Dobro-Motorist alemã boa para ultrapassar? E a Ner-a-Car, quantas rodas tinha?


Muitas marcas derivaram de nomes industriais de fábricas que começaram por fazer outra coisa completamente diferente. Armas no caso das Breda ou CZ (Céska Zbrojovka, “Armas Checas”), teares de tecelagem no caso da Suzuki, estaleiros navais, locomotivas e aviões no da Kawasaki Heavy Industries. 

E se a JAP inglesa de John Alfred Prestwich não tivesse começado bem antes da Segunda Guerra Mundial, teria dado origem a muita confusão… 

Por vezes, o emblema revelava o que as iniciais escondiam, como no caso da BSA, acrónimo de Birmingham Small Arms, cujo emblema são… 3 carabinas apoiadas em cruzeta. Ou da Rumi italiana, originalmente uma fábrica de balanças e equipamento de precisão. 

Nomes que agora seriam, no mínimo, de mau gosto, eram encarados como desejáveis há 80 anos… houve pelo menos 4 marcas evocativas de impérios, a Imperia de 1920 e a de 1935 e Imperiais na América e Inglaterra, a sair fresquinhas entre 1901 e 1910. Até houve uma Colonial em 1911 e uma New Imperial em 1925. Antes disso tinha havido 4 Monarks entre Suécia, Japão, América e Inglaterra, mas pelos vistos a dinastia acabou em 1962.

Já os italianos puxavam para a sua aristocracia: A Gilera foi fundada pelo Conde Giuseppe Gilera, e a MV Agusta pertencia ao Conde Agusta, que lhe juntou o nome da cidade de Verghera, com Alessando DeTomaso, que de resto era Argentino, a deter uma variedade de marcas a dada altura como a Benelli, Morini e Moto Guzzi. Todas, já agora, dotadas dos nomes dos seus fundadores. 

Nos países de Leste, a cidade de origem era o tema comum, MZ querendo dizer Motorrad Zcshopau, tal como Ural, Dniepr, etc. Para os franceses e italianos confirmar de que se tratava mesmo de uma moto parecia importante, como em Motosacoche, Motobécane, Motopedale, Moto Monte, Moto isto ou aquilo… Acho que para António José Pinto, fundador da nossa única marca sobrevivente, a AJP, deve ter dado um jeitão haver no mercado uma gama completa de peças espanholas com a sigla AJP .

Por vezes, imposições comerciais ou de direitos baralhavam as coisas… A Enfield inglesa não tem qualquer relação com a família Real, foi um vendedor que achou que o mais majestoso Royal Enfield iria facilitar as vendas … Quando os seus fundadores venderam a Husqvarna Sueca, começaram de novo baralhando as suas iniciais e deram com Husaberg… a MZ foi brevemente MuZ, e a Vertematti deu em VOR, que quer dizer apenas Vertematti Off Road. Por fim, podíamos recordar a definição popular e não repetível aqui de Famel…

andardemoto.pt @ 12-9-2018 23:55:00 - Paulo Araújo

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