Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

E as Superbike ?

O êxito das derivadas de série parece assegurado

Já vimos aqui como a MotoGP está bem encaminhada, através de uma série de campeonatos tributários promovidos em conjunto pela FIM e pela Dorna e que vão atraindo e fornecendo jovens pilotos ao Mundial e, em última análise, à classe rainha.

andardemoto.pt @ 15-2-2022 21:27:24 - Paulo Araújo

Nas Superbike há um sistema semelhante, onde os novos pilotos surgem especialmente através das pequenas Super Sport 300 cujo êxito a nível de campeonatos nacionais foi incontestável e já nos deu algumas estrelas como Ana Carrasco ou Manuel González.

Claro que o trabalho aqui é facilitado pela grande vantagem de marketing, óbvia para atrair todos os fabricantes, de colocar sob o escrutínio público as mesmas motos que se vendem para utilização em estrada, e que são imediatamente reconhecíveis. A chamada formula silhueta.

Vale a pena lembrar de onde vieram essas verdadeiras bombas e até debruçar-nos um pouco sobre os custos envolvidos na categoria: adquirir uma 1000 superdesportiva básica, com um preço de referência atualmente a rondar €22.000, desmontá-la completamente até ao quadro, descartando as peças superfluas mais óbvias, como instrumentos, suspensões, travões, radiadores, plásticos, grand eparte do sistema elétrico e habitáculo e volte-se a reconstruí-la do zero adicionando um kit de competição que incluirá, pelo menos, modificações do grupo térmico ao nível da cambota, bielas em titânio, pistões, válvulas, cames, caixa de velocidades, juntas e  eletrónica permitindo variar e otimizar os mapas de injecção.


Adicionem-se algumas suspensões e um sistema de travagem premium, e acabamos com uma moto capaz de, nas mãos de um bom piloto, rivalizar com uma MotoGP, e por apenas uma fração do seu preço.

Se o piloto for excepcional, em vez de apenas bom, com uma tal moto qualificar-se-ia facilmente na grelha de MotoGP, e não necessáriamente na última fila, bastando lembrar que um par de épocas atrás, nos treinos pré-época de Jerez, Jon Rea bateu na sua Kawasaki Ninja de Superbike os tempos de volta de MotoGP.

Se do lado técnico, as coisas estão asseguradas, do lado humano há grandes diferenças, pois  mesmo os melhores dos pilotos das Superbike auferem salários bem abaixo do milhão de euros anual, basicamente o ponto de partida dos vencimentos na MotoGP, e muitos nem sequer chegam a um quinto desse valor. 

Quanto ao espetáculo, esse está garantido, com a consolidação dos dois vetores principais, o fator técnico e o fator humano. Este último necessita de um destaque, porque vem sendo afetado pelo drama da morte de jovens pilotos, facto que preocupou a Dorna e a FIM ao ponto de já terem sido tomadas uma série de medidas, como a limitação de idade mínima de entrada nas séries, a  limitação do número de pilotos na grelha, e penalizações mais severas para os prevaricadores, para tentar minimizar os riscos, sendo sempre impossível eliminar completamente esse fator horripilante que é a morte de um jovem.

No fundo, as Superbike, de uma forma mais discreta, acabam por ser outra correnteza de talento a caminho da MotoGP.

Quando já nos questionamos, a nível global, sobre a sobrevivência do motor a combustão, pelo menos, e por anacronico que possa parecer, as classes de competição parecem asseguradas nos próximos anos... Depois, vai haver motos eléctricas!

andardemoto.pt @ 15-2-2022 21:27:24 - Paulo Araújo

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