Teste CFMOTO 700CL X Heritage – Mais do que a vista alcança

A CFMOTO 700CL-X Heritage é um produto de uma casa que quer demonstrar que o preconceito em relação às marcas do oriente é justamente isso...um preconceito.

andardemoto.pt @ 15-2-2022 00:51:11 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte

A atenção ao detalhe, a qualidade dos componentes e um conjunto ciclístico sólido e bem estudado, dão-lhe o mote para vingar num dos segmentos mais competitivos do mercado. Demasiado bom para ser verdade?

Não vamos perder tempo a tentar etiquetá-la esteticamente. Basta olhar para o depósito volumoso com painéis em alumínio escovado, o proeminente guiador largo e alto, a traseira limpa com a saída de escape curta, os pneus mistos a desafiar a promessa de aventura e todas as linhas que se perfilam para criar uma imagem de naked misturada com uma scrambler, ou até mesmo uma dirt-tracker.

O que realmente interessa é que a CFMOTO 700 CL-X Heritage é apelativa, intriga-nos no conceito mas não nos deixa indiferentes na sua presença. 

Quando olhamos de perto, os pormenores ficam ainda mais interessantes. Há um cuidado latente com a qualidade dos componentes. A iluminação integral em LED com a assinatura da luz diurna em X, o assento estilizado, as manetes com regulação, as bainhas KYB douradas, até o pedal de travão e o selector de mudanças bem desenhados, fazem com queiramos perder algum tempo a admirá-la.

Por esta altura torna-se claro que há uma séria intenção da marca em tornar esta moto num produto premium. Mas está na altura de abrirmos o livro, depois de tão interessante sinopse...

A posição de condução é bastante confortável, vamos sentados com os joelhos pouco flectidos e o generoso assento, a 800mm de distância ao solo, tem a consistência certa entre o apoio e a tolerância, o equilíbrio correcto para podermos rolar bons quilómetros sem dramas. 


O guiador foi, para mim, uma das peças mais intrigantes desta moto. Alto e largo, coloca-nos de braços bem abertos e subidos, permitindo até uma boa postura de controle quando rolamos...em pé!.

Pessoalmente não faria muito mais do uma centena de metros fora de estrada (por mais que os Pirelli MT60 RR prometam milagres), pois o sistema de escape está demasiado exposto e a ciclística tem claramente  o seu habitat natural no asfalto.

Consigo perceber o apelo estético de uma postura descontraída, mas não era preciso sentirmos que estamos numa BMX. Até porque, esta 700 CL-X Heritage tem um comportamento desportivo muito saudável, baseado na sua agilidade e qualidade das suspensões.

A forquilha KYB invertida, com um diâmetros de 41mm, é totalmente regulável e dá-nos uma óptima leitura do que está a acontecer no eixo da frente. O mono amortecedor traseiro, igualmente KYB, com regulação de pré-carga e extensão, segue a mesma linha de raciocínio.


A CFMOTO 700CL-X Heritage sente-se sempre imediata nas transferências de massa (sempre são 196 Kg) e muito composta nas oscilações, proporcionando uma comunicação progressiva com o condutor.


Agora é a parte em que deixamos a nota de rodapé manifestando o interesse em testarmos a mais recente versão Sport, com avanços em vez de guiador (uma solução ergonómica que é capaz de casar melhor com as aptidões dinâmicas deste conjunto).

Neste enquadramento de andamentos mais vivos, a travagem proporcionada pelo sistema J.Juan mostrou-se eficaz, mesmo com apenas um disco no eixo dianteiro (mas de 320mm de diâmetro), apresentou-se mordaz e potente, perfeitamente à altura dos acontecimentos.

Assim como o funcionamento da embraiagem deslizante, uma salvaguarda de segurança nas reduções mais agressivas. Sobretudo porque este bicilíndrico de 692,2 cc de cilindrada gosta de mostrar serviço.



Não sendo a unidade mais refinada a baixas rotações, a entrega de potência (74 cv @ 8500 rpm e 68 Nm @ 6500 rpm) revela-se fulgurante nas notas mais altas, fazendo inclusive lembrar um carburador de “goela aberta”.

Entusiasma os sentidos e faz-nos querer repetir a experiência sempre que possível, até porque o som do escape e da alimentação fazem-se acompanhar com doses bem interessantes de adrenalina. 

Esta crua forma de estar não torna o conjunto incivilizado, pois conseguimos rolar tranquilamente graças à boa parametrização do acelerador electrónico, que oferece dois mapas de condução, o ECO e o SPORT.

Facto curioso, estes podem ser alterados sem ter de se cortar acelerador, dando azo a um “boost” extra quando, de punho trancado, passamos para o modo mais agressivo… Divertido, no mínimo!


Claro que os consumos se ressentem neste registo, mas não será difícil conseguir valores abaixo dos 6L/100km, que garantem uma autonomia razoável tendo em conta o depósito de 13 Litros de capacidade.

A ausência de controle de tracção não nos melindrou de sobremaneira. A capacidade de tracção dos Pirelli MT 60 e a boa ligação motriz ao punho direito, molda-nos um cenário de previsibilidade em relação a eventuais percas de atrito, facto que nunca aconteceu em condições de asfalto seco.

Ainda no capítulo da electrónica, o Cruise Control é uma adição interessante. Não tendo a 700CL X veleidades de Cruiser, o conforto que propõe permite tiradas maiores sem qualquer problema, e neste cenário esta ajuda faz todo o sentido.



A intenção clara de manter um certo padrão de qualidade alastra-se aos comutadores e ao ecrã LCD, de informação clara e objectiva (com capacidade de interação com um smartphone), sem grandes floreados estéticos.

Como já referimos anteriormente, a CFMOTO quer marcar uma posição, vincando os seus argumentos num design apelativo, mantendo esse trunfo mesmo quando inspecionamos a máquina de perto. Na nossa opinião, conseguiram-no. E com distinção.

Analisando as concorrentes directas, entre as quais se encontram a Yamaha XSR 700 (desde 8,295€), a Kawasaki Z650 RS (desde 8.390€) e a Ducati Srambler Icon (desde 9,945€), o posicionamento da 700CL-X é bastante competitivo.

Por 7,490€, tipifica uma postura asiática de análise mercado, que coloca esta CFMOTO estratégica e cirurgicamente abaixo do pedido pelas competidoras, o que só a enaltece, porque esta máquina não desilude como peça de engenharia, o propósito estético é muito bem alcançado e vem equipada com argumentos importantes no capítulo da electrónica e dos componentes ciclísticos.

E ainda oferece um truque “especial” para ganhar instantaneamente velocidade quando mudamos o mapa para a posição Sport!



Equipamento:

Neste teste usámos o seguinte equipamento de proteção e segurança:

Capacete Nolan N80-8

Blusão RSW 222

Calças RSW Peter

Botas TCX Clima Surround GTX

andardemoto.pt @ 15-2-2022 00:51:11 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte


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