Matéria Prima

Como se fossem tesouros. Aqueles que as descobrem orgulham-se da sua inacessibilidade, do estertor de prazer quando as percorreram, da sua tipologia e do cenário que as envolvia. Falam como se o conjunto de todos os elementos os tivesse brindado com um presente dos Deuses, uma epifania divina.

Claro que hoje em dia é mais fácil, basta abrir um mapa digital e o mundo revela-se no tamanho de um ecrã, mas este é apenas o princípio da viagem, é preciso sentir o asfalto, perceber a cadência das curvas.

A estrada é uma peça fundamental na equação de andar de moto. Aquela que nos faz pegar na nossa máquina de duas rodas e partir para o desafio. O tapete que serve apenas o propósito de garantir o atrito da borracha, veste-se de um misticismo maior quando se torna retorcido, ou quando fica inundado de paisagens inebriantes.

As motos vivem intrinsecamente ligadas ao contexto onde se movem, seja ele mais ou menos refinado, afinal é tudo uma questão de desafio. Que o digam os pilotos da poeira, que o digam os pilotos do circuito. 

Para o viajante, quer-se perdulária e interessante, sempre com o fito de se tornar inesquecível. Para o tecnicista, quer-se revirada e mutável, para poder testar as suas apetências técnicas e vencer a batalha, como se de um Adamastor se tratasse.

O que os diferencia na capacidade de repetição do percurso, une-os no respeito pela arte, uma boa estrada é uma entidade viva, tem alma, corpo, e obriga-nos a percebê-la, conhecer-lhe os segredos.

Todos nós temos a nossa favorita, e as ferramentas que escolhemos para a enfrentar entregam-se à nossa vontade de tornar a experiência memorável. Venham de lá os descapotáveis com a sua sensação de liberdade enlatada, nada bate a sensação de termos de trabalhar as leis da Física para fazermos a magia acontecer. E isso só é possível sentado numa peça de engenharia com um motor ligado a duas rodas. Ponto.

Este mês inauguramos um roteiro que vos indicará as melhores estradas do país, por região ou zona. Para que vocês, caros leitores e companheiros motociclistas escolham as vossas e viajem à procura de outras. Que os deuses da borracha vos façam felizes, sozinhos ou acompanhados, com ou sem pendura. Para que a estrada nunca acabe.