Não percas mais tempo, Vai!

O tempo é um instante, depois de 30 anos a olhar para os aventureiros que passavam rua fora, chegou a altura de me fazer ao caminho também.

Ganhei coragem e deixei para trás as desculpas que não me deixavam ser feliz!

Nesta jornada tudo é emoção, o dia que fui buscar a rodas grandes, o dia que me fiz à estrada, o dia que caí, o dia que pedi ajuda, o dia em que prestei ajuda, o dia que chorei dentro do capacete, o dia que ri a bandeiras despregadas, o dia que cantei como Pavarotti, desafinadíssimo, enfim, uma amálgama de vivências que ficam para sempre gravadas na tua memória.

Lembro-me das fronteiras, são uma marca especial nas lembranças, as fronteiras são sempre emocionais, sabes que vais entrar num Mundo novo, com aqueles guardas gélidos e as dúvidas que percorrem as veias e te enchem de ansiedade.

Lembro-me do guarda búlgaro que conseguiu manter a compostura gélida até ao último segundo, altura em que não aguentou mais e esboçou um maravilhoso sorriso, “welcome!”

Lembro-me na fronteira da Albânia com a Macedónia do Norte, quando a guarda fronteiriça foi assaltada por uma vontade enternecedora de dar um mimo àquela meia leca que estava em cima de uma moto tão grande, a única coisa que tinha era uma pastilha! Sim, deu-me a pastilha mais ternurenta que tinha no pacote, devolveu-me os documentos de sorriso encantador e mandou-me seguir.

Confesso que a admiração e ternura que vou sentindo Mundo fora, de cada vez que alguém me diz, parabéns pela coragem, é algo que me enche de força para seguir!

Hoje, olho para trás e a única coisa que me arrependo é de não o ter feito mais cedo. Ao longo desta jornada tive a oportunidade única de me conhecer verdadeiramente, não há nada mais gratificante do que sentires orgulho em ti, sentir que cada vez que ligo a rodas grandes tenho o destino nas minhas mãos.

Nesta crónica, quero deixar um carinho especial à pessoa que me inspirou nesta minha aventura, a minha querida amiga Paula Kota que anda nisto há tanto tempo, e que tantas vezes me tirou o sono com as suas crónicas, num irrequieto pulsar do coração que também quer ir.

Se esta crónica ajudar alguém a desafiar os medos e ousar ser feliz estrada fora, aqui deixo o meu testemunho.

Depois de em 2017 ter sido operada à cabeça e pensar que não me levantaria mais de uma cama, cá estou eu estrada fora, com a força de quem ultrapassou as fronteiras da alma e as transformou em destinos.

Beijinho Paula!