
Adelina Graça
Duas rodas, duas asas
OPINIÃO
Do Palácio de Magdalena ao Palácio de Cristal
Depois da épica passagem pelos Pirenéus cheguei finalmente a Santander: aguardavam-me os meus primos numa receção intensa e calorosa depois de tantos anos sem nos vermos.
andardemoto.pt @ 11-4-2023 03:15:12 - Adelina Graça
Era hora de encostar a Rodas Grandes por uns dias, descansar o corpo, absorver todas as emoções vividas nas montanhas e dar espaço ao ócio.
Debaixo do manto de nevoeiro que paira sobre Santander a cidade vibra de movimento, com a resplandecente baía que se vai revelando ao longo do dia, sob o dissipar do nevoeiro. O mar Cantábrico, os jardins exuberantes de Las Llamas e os edifícios, desde as Catedrais aos Palácios, do qual se destaca, claro, o Palácio da Magdalena, situado na pequena península da baía de Santander.
Dias bem passados, onde te podes sentar tranquilamente no Mercado Del Este ou no Mercado de la Esperanza e apreciar toda a azáfama urbana no movimento lento de um trago de vinho branco, acompanhado das mais variadas iguarias trazidas diretamente do Cantábrico.
Andar de moto é uma ode ao famoso físico, o tempo depende tão só da velocidade a que queres viver cada momento. E sim, também se anda de moto parada, ali, naquele momento, a digerir cada emoção, a reviver momentos inesquecíveis e a sentir o Mundo a movimentar-se freneticamente, como roda que percorre cada metro de asfalto.
Mas deixando-me de melancolias, lá me despedi dos meus primos e arranquei novamente para Sul, direitinha à Invicta, sim, mais uma perfeita loucura, 700 km de estrada seguidos. E lembrar-me que no dia anterior estava sentada no meio do mercado de la Esperanza, com todo o tempo do mundo, agora vejo-me de baterias recarregadas rumo ao meu maravilhoso País, cheia de ansiedade de chegar à “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta”.
700 km de estrada fazem-te doer praticamente tudo, cheguei ao Porto moidinha mas de coração cheio – só parei junto ao encontro da Ponte D. Luiz I, ali, bem à beirinha do majestoso Douro, já a noite tinha caído sobre a cidade.
A maravilhosa cidade do Porto tinha-se vestido a rigor e as margens apinhavam-se das gentes calorosas, numa enorme festa vibrante de vida e calor humano, que te faz renascer depois de tantos km.
“Òh menina de onde vem?”
“Santander”
“É mulher do carago!”
Parei ali a majestosa Rodas Altas, atravessei a ponte a pé, abeirei-me de uma cave e bebi o cálice de vida num Porto. Renasci!
Essa noite passei-a num Hostel junto à Torre dos Clérigos, de janelas abertas, debruçadas sob a azáfama galhofeira. Jantei numa esplanada das apinhadas e sempre joviais ruas do Porto, ao som da calorosa pronúncia do Norte.
Como é belo e verdadeiro este nosso Porto.
E que melhor forma de acabar esta viagem.
No dia seguinte rumava para Lisboa já a sonhar com a próxima viagem que me levaria para lá do Adriático.
andardemoto.pt @ 11-4-2023 03:15:12 - Adelina Graça
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