Contraponto Energica Experia vs BMW F900 XR - “Electrões vs Octanas”
Depois de termos ensaiado a Energica Experia, o interesse suscitado foi tanto, que nos sentimos impelidos a “escavar” mais fundo. Afinal de contas esta moto tem a maior bateria do mercado, daí resultando uma autonomia capaz de rivalizar com as suas congéneres a gasolina. Estava dado o mote para um exercício diferente…
andardemoto.pt @ 31-10-2023 07:00:00
Faça uma consulta e veja caracteristicas detalhadas:
BMW F 900 XR | Moto | AdventureEnergica EXPERIA | Elétrica | Elétrica
A discussão mais relevante dos nossos tempos. Independentemente de andarmos a esvaziar os pneus dos SUV estacionados no Bairro Alto, ou de termos uma linha de escape directa no nosso fumarento GT TDI, os extremismos são geralmente alimentados pela ignorância. O futuro elétrico já é uma realidade urbana (e não só) para os nossos colegas automobilistas, mas no nosso contexto, para além das scooters, não existia algo de verdadeiramente excitante no mundo das duas rodas. Quem gosta de Andar de Moto, geralmente gosta de fazer uns bons kms seguidos, ou pelo menos, quer ter essa possibilidade. Juntamos então duas realidades que se tocam e se distanciam pelos seus atributos, conseguindo concretizar o seu propósito no mesmo contexto, mas com soluções muito diferentes. Chamem-nos de loucos, mas vamos comparar duas motos capazes de fazer um turismo despachado, a Enérgica Experia e a BMW F900 XR. “Electrões vs Octanas”.
“Qual é o paradigma actual do mercado das motos elétricas?”
Não atingindo os valores de vendas que os congéneres de quatro rodas atingem, o segmento das scooters tem tido bastante aceitação, na perspectiva de uma utilização urbana menos poluente e com custos reduzidos. Subindo a fasquia, existem alguns modelos mais focados nas prestações, com uma exclusividade assumidamente exacerbada. Mas enquanto às motos não chegam os promissores combustíveis sintéticos, os motores híbridos (gasolina mais electricidade), ou os motores a hidrogénio, a tecnologia alternativa mais avançada (em termos de produto final), é aquela que recorre a uma bateria e a um propulsor eléctrico. Se na Europa, a sua expansão é mais lenta, na Asia (India e China), o boom é impressionante. Já não é o futuro, é uma realidade quotidiana. E à medida que os postos de carregamento começam a povoar grande parte do território nacional, caem por terra as desculpas de não serem práticas e por isso viáveis. A “ansiedade da autonomia” perde a sua dimensão quando banalizamos o seu alcance real.
“Porquê estes dois modelos, especificamente?”
A Energica Experia foi desenvolvida de raiz para ser capaz de devorar kms com a mesma desfaçatez de um motor térmico. O seu novo propulsor (um motor síncrono de relutância assistido por ímanes permanentes, uma tecnologia semelhante ao utilizado no Tesla Model 3) serve-se da nova bateria (com capacidade máxima de 22,5 kWh, e nominal de 19,6 kWh) para entregar valores muito interessantes de autonomia. Estamos a falar de cerca de 400 km em registo urbano e cerca de 250 km em registo misto, sendo que estes números foram comprovados por nós e por diversas vezes. O “travão motor” (com três níveis de intensidade) actua como processo regenerativo, optimizando ou penalizando a autonomia consoante o contexto. É fácil de perceber que a sua utilização na cidade e na Auto-Estrada (onde conseguimos percorrer quase 150 km com uma carga completa) são realidades diametralmente opostas. A nível de potência e binário, podemos contar com 80 cv (102 cv de pico) e 115 Nm (com uns bárbaros 900 Nm à roda), valores que a colocam a par da rival a gasolina por nós escolhida. Mas atacamos já a presença do “elefante na sala”, pois a unidade ensaiada (com as três malas e sistema de chave Keyless), aproxima-se dos 31.000 €. É o preço a pagar pela tecnologia eléctrica, e esta diferença foi fundamental para a análise que se segue.
A versão ensaiada da BMW F900 XR está longe de poder exibir todos os extras que a marca oferece, se juntarmos todos os packs dinâmicos e de conforto, facilmente ascendemos aos 18.000 € (com o conjunto das três malas). Uma Sport Touring premium a gasolina, com o crivo de qualidade bávaro. E a robustez refinada dos seus atributos casa na perfeição com a potência disponível, num pacote ciclístico bastante interessante. Entre vários “encontros” (tendo inclusive sido a eleita para mapear um dos nossos roteiros), conseguimos em média atingir os 270 km de autonomia, utilizando todos os 105 cv (para 88 Nm de binário) que o bicilíndrico paralelo de 895 cc produz. Com a mesma jante de 17” dianteira, posição de condução confortável (com capacidade de carga e protecção aerodinâmica), e pendor desportivo, os dados estavam lançados para um fenomenal jogo de diferenças.
“Serão assim tão diferentes de conduzir?”
A resposta a esta questão é algo complexa. A experiência de condução de uma moto elétrica é absolutamente única. Começando na diferença de ruido (sim, porque a Experia tem um som muito característico), e terminando na ausência de caixa de velocidades, existe todo um mundo de adaptação. Um processo que acaba por se tornar fascinante, entenda-se…
Sendo bastante parecidas esteticamente, a fisionomia da BMW dá-nos sempre a impressão de ser uma moto mais pequena. Os mais de 40 kg que as separam notam-se sobretudo nas manobras a baixa velocidade, altura em que a Enérgica nos revela uns quantos truques (possui marcha lenta para trás e para a frente).
A rolar, a distribuição de peso nesta moto é tão equilibrada que nos coloca questões quanto à veracidade dos seus números. Não só o volume das suas formas é bastante contido, como nos revela um encaixe ergonómico bastante fácil de conviver. Se pensarmos que iguala o peso de uma GS 1250 Adventure, ficamos estupefactos com a desfaçatez com que ignora a sua inércia, uma obra de engenharia cuidadosamente elaborada, que nos surpreendeu pela sua agilidade.
Num registo de passeio, são ambas capazes de ter bom senso durante muitos quilómetros, poupando o físico sem concessões de maior. As grandes diferenças surgem quando puxamos pelo seu lado mais desportivo. Se previsibilidade e confiança são adjectivos que podem ser colados a máquinas Sport Touring, estas duas não desiludem. O acerto mais rijo das suspensões da Enérgica dão-lhe um maior feeling no eixo dianteiro, sendo muito bem servida pelo maior poder de travagem. A XR acaba por sofrer mais nas transferências de massa mais bruscas, mas não se deixa ficar muito atrás…a não ser que haja uma ultrapassagem. A maneira como um motor eléctrico ganha momento é inigualável. Temos de mudar a nossa percepção do que é possivel fazer com uma moto, tal não é o imediatismo e a intensidade da sua aceleração. E ficamos rapidamente viciados naquele som de disco voador…
“Vamos decifrar os números?”
Numa perspectiva de viajante, quaisquer 200 km percorridos são susceptíveis de uma paragem. Nessa altura, a Experia precisará de menos de meia hora para se recompor parcialmente (80 %) e cerca de 50 min para atingir os 100 % da sua bateria, com a vantagem de poder utilizar os carregadores ultra rápidos (entre 120 e 160 kWh). Em casa, numa tomada normal, serão necessárias cerca de 7h para conseguir a carga total. A tabela seguinte serve para apurarmos os dados relativos aos gastos das duas motos.
“Epílogo (porque as conclusões são para quem tem demasiadas certezas!)”
Já vos mostramos os números, já vos falamos das sensações de condução, já vos explicamos o caminho a percorrer por uma tecnologia que ainda terá muito que evoluir. E isto sem termos a certeza de ser este o ovo de Colombo que nos fará voltar a ter ursos polares no Ártico e Pirilampos nos jardins da Amadora.
Quem tem a mente aberta acredita que conhecimento é poder. O valor desta Experia coloca-a a par das máquinas mais caras do mercado, e a sua exclusividade deriva unicamente da solução motriz que oferece. Se entrássemos numa loja e lá estivessem à venda estas duas Sport Tourings de 100cv, uma questão relevante seria como amortizar a diferença de preço. Feitas as contas, a Experia demorará 7 anos (percorrendo uma média de vinte mil quilómetros anuais) para justificar a diferença do seu valor. Mas se nos entregarmos à emoção, a experiência de condução desta elétrica envia as contas todas para lá de Marte. Nós adorámos a curiosidade do público em geral nos dias em que rodámos com a Enérgica. Mas por pouco tempo, porque rapidamente desaparecíamos em direcção ao infinito, num assobio frenético.
Nota: Foram considerados os valores de carregamento mais baixos (numa tomada caseira normal, de 220V); Foram desconsiderados os gastos em pneus, kits de transmissão e consumíveis do sistema de travagem (por serem relativamente comuns a ambas); A amortização de capital compreende a diferença de valores inicial a dividir pela poupança ao longo de um ano de utilização (considerando uma média de 20000 km/ano);
Faça uma consulta e veja caracteristicas detalhadas:
BMW F 900 XR | Moto | AdventureEnergica EXPERIA | Elétrica | Elétrica
andardemoto.pt @ 31-10-2023 07:00:00
Clique aqui para ver mais sobre: Test drives