Entre Viseu e Ourém a neve juntou-se à muita chuva no 25.º Portugal de Lés-a-Lés - 2023
A segunda etapa desta edição de Bodas de Prata do LaL foi trabalhosa e exigente, mas acabou com sol!
andardemoto.pt @ 9-6-2023 23:26:00
Segundo a organização do 25.º Portugal de Lés-a-Lés, a chuva e até a neve, criaram um dilúvio de emoções fortes aos 2500 motociclistas que estão a descobrir Portugal entre Bragança a Sagres.
A 2ª etapa da aventura que cumpriu 240 quilómetros de de belas estradas e paisagens entre Viseu e Ourém revelou-se uma jornada muito trabalhosa e exigente, apesar da curta distância a cumprir, com os participantes a demorarem mais de 9 horas para ligar as duas cidades.
De Viseu, a caravana começou a sua viagem ainda noite escura e, desde logo, com fortes aguaceiros que tornaram alguns pequenos troços de terra mais complicados. Mas ninguém deu por mal empregue o primeiro esforço do dia, para visitar duas das antas que existem no Circuito Pré-Histórico Fiais/Azenha, parte do importante roteiro megalítico de Carregal do Sal.
E logo a primeira, a Lapa da Orca, bem conservada apesar de ter mais de 5500 anos, revelou-se uma enorme surpresa, com a descoberta de que os nobres que na véspera ‘picavam o ponto’ em Torre de Moncorvo, tinham regredido à pré-história transformando-se em aguerridos, mas simpáticos, Cro-Magnons.
Esta é a função dos Moto Clubes, neste caso o do Porto, que são, desde o primeiro momento, a alma e a força que mantêm despertos e animados os participantes nesta grande aventura organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal.
Seguiu-se mais um troço de terra, facílimo depois de ter sido alisado pela autarquia tabuense, para descobrir as surpreendentes cascatas de Sevilha, formadas pelo pequeno rio Cavalos, afluente do Mondego, recuperando das primeiras emoções em Tábua. Onde o clube MK Makinas fez juz ao seu nome, distribuindo fruta, água, sandes e sumos junto à curiosa capela de planta octogonal, do Sr. dos Milagres.
Entre Viseu e Tábua não podiam faltar outras descobertas, bastando atravessar o rio Dão para encontrar estradas e lugares de um passado marcante, como a nobre Santar, com os seus solares, e as curiosas aldeias de Póvoa Dão e Beijós.
Algo que só as etapas mais curtas permitem: descobrir locais nunca antes visitados pelo Lés-a-Lés. Ou Cabanas de Viriato, onde pontifica a casa do herói nacional Aristides de Sousa Mendes. Tendo salvo mais de 30 mil judeus condenados à morte pelo regime nazi, o Cônsul de Bordéus morreu na miséria, depois de ter sido renegado por Salazar.
Esta história foi cinematograficamente interpretada por Vítor Norte, actor que continua a marcar presença assídua na maior maratona motociclística da Europa, sempre acompanhado pela sua fiel Gina, uma Yamaha Virago que já pouco lhe deve faltar para ter percorrido todos os caminhos de Portugal.
Venda da Esperança deu acesso ao belíssimo tapete de asfalto da estrada nacional 17, rumo a Lourosa. Não a mais conhecida, de Santa Maria da Feira, mas uma outra, de Oliveira do Hospital, que apesar de ter 14 vezes menos habitantes, tem quase o triplo da área, e recebe uma Feira Moçárabe, a 12 e 13 de agosto, que merece honras especiais de divulgação.
É que, ao lado de jovens odaliscas que iam brindando os participantes com água, pão com chouriço e fruta, os presidentes da autarquia oliveirense, José Francisco Rolo, e da Junta de Freguesia de Lourosa, José Carlos Marques, trajavam a rigor de sarracenos.
Para a aldeia foi um dia de festa em redor da Igreja Moçárabe, com 1111 anos de idade e cujos arcos interiores apresentam uma inconfundível arquitetura árabe, além de outros motivos de interesse, como os túmulos exteriores ou a torre do relógio.
Sempre com a chuva no horizonte, desmotivando os motociclistas de despirem os impermeáveis, a caravana passou por Vila de Coja e Arganil, antes da chegada a Góis onde, depois de tantas e tão boas curvas, nas agradáveis margens do rio Ceira, há sempre a garantia de uma recepção calorosa a todos os motociclistas, acompanhada de um reforço alimentar que viria a revelar-se extremamente útil.
É que, os corajosos que optaram por seguir o itinerário principal traçado pelos elementos da Comissão de Mototurismo da FMP, gastaram todas as calorias para controlar a moto na degradada e lamacenta subida até ao aeródromo do Coentral, onde o Moto Clube de Góis registava a chegada dos mais atrevidos.
A subida que fez muitos rogarem pragas à organização, que parecia ter misturado os roadbooks e integrado neste, umas páginas do Lés-a-Lés Off-Road, sobretudo na parte final, onde o muito nevoeiro acrescia ainda mais dificuldades ao piso muito degradado.
Como recompensa pelo esforço, os afoitos tiveram a possibilidade de assistir a um nevão, na muito inclinada pista do aerodromo de combates a incêndios, situado no segundo topo da serra da Lousã. Bom, na verdade era neve artificial, mas com o nevoeiro e a descida da temperatura que se fez sentir a 1184 metros de altitude, a neve até parecia mesmo verdadeira…
Bem mais simples e com enorme beleza paisagística, foi a descida para Castanheira de Pera, que compensou em dobro todo o esforço feito a subir, com estradinhas deliciosas, por Coentral Grande, Sarnada e Pera, povoações rodeadas de árvores autóctones e com muros ‘decorados’ por musgos centenários, a que a chuva e o nevoeiro conferiam um aspeto místico, fazendo recordar tempos de antanho.
A passagem pela Praia das Rocas, fez pensar do bem que se estaria ali se fosse um dia de sol, com temperaturas mais condizentes com a época do ano.
Ainda houve quem conseguisse ir ver a belíssima aldeia de xisto da Pena, ou os poços de neve, junto à igreja de Santo António da Neve, pois claro. No inverno enchiam-se estes poços com neve para depois, no verão, serem cortados em cubos de gelo que eram transportados, embrulhados em palha e às costas de jumentos, até ao Zêzere, e daí para a capital.
Menos sorte tiveram outros participantes, que deram trabalho à equipa da Moto Medic, que acompanhou a caravana com as 8 motos para, caso necessário, prestarem apoio imediato a partir de um centro de comando móvel equipado com modernos meios de rastreamento.
Presente desde a 7.ª edição do Lés-a-Lés, a equipa de Luís Isqueiro teve “mais dificuldades devido à chuva e ao mau tempo, mas apenas por causa das comunicações.
Chuva que não aumentou assim tanto os incidentes nem o número de assistências pedidas, antes mudou o perfil das lesões, com vários motociclistas a sofrerem quedas a baixas velocidades ou mesmo parados, sofrendo traumatismos e contusões.
Aliás, entre os 17 casos do primeiro dia, o mais grave foi uma entorse num tornozelo”.
E note-se que o pelotão contou ainda com a presença dos osteopatas e massoterapeutas Inês, Miguel, Edgar, Rui, Mauro e Adriana, todos profissionais formados no Instituto de Medicina Tradicional, que desde 2018 estão sempre prontos a recuperar os motociclistas mais “ferrugentos” para a etapa seguinte.
Quem também se divertiu à grande nos pisos de terra foi o pluricampeão nacional de Enduro e Todo-o-Terreno, Paulo Marques, que, pela primeira vez trouxe toda a família consigo. À esposa Elisa, que já alinhava nesta aventura há uma década, juntaram-se os filhos Gil, Francisca (à pendura do namorado Pedro) e a mais jovem Joana.
Sempre em grupo e muito divertidos esta família é a prova mais evidente de que este é, sempre e cada vez mais, um evento familiar, confirmado pelo número crescente de participantes com os filhos à pendura ou mesmo noutras motos.
Todos unidos no prazer do mototurismo e do contacto com da natureza, esta sublinhada na passagem por Adega, em Pedrógão Grande, onde em 2017 e após a enorme vaga de incêndios, foram plantados um carvalho e um sobreiro, numa ação incluída no âmbito da campanha de reflorestação da FMP, em que foram distribuídas milhares de árvores autóctones pelos concelhos mais atingidos pelo fogo.
Mas além da natureza, o Lés-a-Lés proporciona também as descobertas históricas, como nas passagens em Cernache do Bonjardim, terra de Nuno Álvares Pereira, ou em Dornes, terra de mística templária que ostenta uma curiosa torre pentagonal, numa aldeia que, devido à subida das águas do Zêzere, ficou transformada numa península.
O dia, apesar de fustigado por grandes chuvadas, acabou com bom tempo, em Ourém, permitindo uma visita opcional ao grande e muito fotogénico castelo.
E muitos foram os que, chegando cedo, subiram ao interior das muralhas, atualmente em fase de recuperação e dinamização, com centro de interpretação e tudo, enquanto outros, talvez mais fatigados ou menos interessados nestas descobertas, estacionaram numa das muitas esplanadas da cidade, antes do animado jantar no Centro Municipal de Exposições.
Entretanto chegava a hora de ir descansar, cedo porque amanhã, a última etapa do 25.º Portugal de Lés-a-Lés prevê-se muito exigente. Uma tirada maratona entre Ourém e Sagres, com 425 quilómetros para cumprir em 10 horas e 20 minutos! Vá lá que a meteorologia parece mostrar alguma clemência para o último dia da aventura…
andardemoto.pt @ 9-6-2023 23:26:00
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