
Gustavo Branquinho
Motociclista viajante
OPINIÃO
3º Encontro Ibérico da Royal Enfield - Hasta pronto Hermano!
Pelo terceiro ano consecutivo, e pela segunda vez em Cuenca, realizou-se o encontro Ibérico da Royal Enfield, organizado pelo importador da marca para a Península Ibérica
andardemoto.pt @ 3-10-2023 17:58:41 - Gustavo Branquinho
Nestas linhas vou partilhar convosco a aventura de partir do Seixal rumo a Cuenca, na Ponda, nome de guerra da minha Royal Enfield Himalayan, com quem tantas aventuras tenho vivido. Esta realizou-se entre os dias 22 e 24 de Setembro para ir ao 3º Encontro Ibérico da Royal Enfield.
Sou participante desde a primeira edição deste evento e posso atestar que é uma experiência fantástica para qualquer Royalista que se preze, não só pela aventura de partir para tão longas distâncias com uma máquina inigualável no seu caráter e compromisso, mas ir também conhecer outros amantes da marca e vivenciar como encaram a marca noutro país.
Este ano, felizmente, o encontro teve novamente a presença de mais alguns portugueses, entre os representantes da Royal Enfield Porto e mais uns aventureiros, perfizemos um total de 6, sendo que o prémio da mota e participante que chegaram de mais longe veio para Lisboa.
No meu caso foram, nada mais nada menos que 780 quilómetros até ao parque de Campismo de Cuenca. Cerca de 12 Horas de viagem, entre paragens para abastecer, descanso e alimentação.
A Ponda circulou a uns estonteantes 100 Km/h e por vezes lá se atrevia a uns 110 Km/h, isto na Autovia, porque nas nacionais a média baixava até aos limites impostos por lei. Desta vez as médias de consumo não foram o seu forte, porque circulei sempre acima das velocidades normais de viagem, mas as vias assim pediam e posso dizer que, mesmo com algumas subidas com inclinação de 6%, a Ponda aguentou-se muito bem sem pedir muitas mudanças abaixo.
Lá se foi fazendo o trajeto de forma agradável e passadas cerca de 12 horas já se percebia que a serrania de Castela e La mancha era predominante no olhar e, em pouco tempo estávamos a entrar em Cuenca, Património da Humanidade, cuja construção em escarpa é característica (também conhecida como Casas Colgantes que é como quem diz casas suspensas), pois a cidade está num vale, banhado pelo Rio Jucar e as casas do centro estão literalmente penduradas nas escarpas, sendo uma das grandes atrações da terra.
Fazer uma viagem desta dimensão na Himalayan é, por si só, um desafio, perfeitamente recompensado pela beleza com que Cuenca nos recebe, com toda a serrania de estonteante beleza que a envolve e os inúmeros locais de atracão turística, como a "casco" antigo, a Cidade Encantada, a Catedral de Nuestra Señora de la Gracia ou simplesmente assistir ao maravilhoso pôr do sol no miradouro do Emiliano, algo que recomendo vivamente.
O importador Ibérico preparou para os participantes diversas actividades, desde aulas de iniciação ao off-road a diversos passeios que levaram os participantes a conhecer alguns locais fantásticos da região de Cuenca, e saídas de test-drive com todos os modelos da marca, algo a que a organização não se poupou pois tinha disponíveis para teste mais de trinta motos da marca, para que todos pudessem ficar a conhecer os novos modelos.
A Super Meteor 650 e a Hunter 350, foram os mais requisitados por todos. Por mim escolhi a Hunter 350 e a Classic 350 na versão Signals. A primeira para poder conhecer a mota que julgo ser a mais citadina e de entrada na marca, ideal para recém encartados.
A segunda, a Classic Signals revigorada agora com o novo motor 350 cc, trás ao de cimo toda a nostalgia inerente ao modelo com referencias militares de tempos passados, lembrando que a marca teve um papel importante na segunda Guerra Mundial com a Flying Flea, moto minimalista que era largada de pára-quedas para facilitar a mobilidade no teatro de operações.
Como sabem, isto de Andar de Moto cria laços humanos fantásticos e não é necessária uma convivência profunda e intensiva, basta deixarmos a nossa essência vir ao de cima e deixar transparecer o humanismo do nosso interior. As amizades que se vieram a construir desde há três anos estreitaram-se e deram lugar à partilha de bons momentos e de outros menos bons, em que um abraço e uma palavra amiga fazem toda a diferença.
A amizade não tem fronteiras e é engraçado como, depois de ter ficado conhecido como o “Português”, desde a primeira edição, desta vez já me terem batizado de “El Português I - Rei da última dinastia Hispano-Lusa”, o que diz bem da amizade, carinho e reconhecimento pelo esforço empregue em tamanhas deslocações.
Entre diversas saídas em passeios e momentos de confraternização, foi possível também partilhar o Poison, um licor fabricado por mim e que na proporção certa, é um verdadeiro desbloqueador de conversas e até de timidez.
Pelo meio, muitos sorrisos, muitas histórias sobre as nossas montadas, sempre com um denominador comum, a paixão e admiração incondicionais pela marca que reivindica para si o título de mais antiga em produção contínua. pois tendo sido criada no ano de 1901, em Redditch, na Inglaterra, nunca deixou de produzir motos até aos dias de hoje.
Sou um apreciador nato de café e tudo se transforma num motivo para sacar da mala a máquina de Café que sempre me acompanha nas minhas viagens. E isto levou ao convite a uns amigos para provarem o meu Café de viagem. Preparar o fogão a álcool, encher a caneca de água, medir a proporção exata de café e dar asas à magia daquele reconfortante aroma que sabe sempre bem bem quando saímos por essa estrada fora.
Mais uma vez o que é bom acaba-se depressa. O fim de semana aproximava-se do seu términus e, com isso chegava a hora de regressar novamente à estrada, antevendo mais 12 horas de caminho.
A saudade já se fazia sentir e ainda não tinha partido. Um a um, os participantes lá se iam fazendo à estrada, um para Valência, outro para Guadalajara, um casal que seguía para Murcia… Sabem aquele agridoce que fica na boca, o olho que treme na despedida, o abraço que não quer terminar e a única certeza que fica no ar é que, se Deus quiser, para o ano estaremos de novo juntos. Mais um “Hasta pronto Hermano “ e segui caminho com o bater do monocilíndrico da Ponda, estrada fora de regresso a casa.
Quero deixar ainda uma nota de agradecimento à organização do evento que acolhe os participantes com muito carinho e dedicação, e fazer votos para que esta iniciativa se mantenha por muitos anos, pois já estou a preparar-me para a próxima edição.
andardemoto.pt @ 3-10-2023 17:58:41 - Gustavo Branquinho
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