Simon e Lisa Thomas - uma viagem de 14 anos em motos
Saíram de casa há quase 14 anos, pegaram nas suas motos e partiram para conhecer o mundo. Ainda não pararam!
andardemoto.pt @ 12-12-2016 01:35:18
Texto: Rogério Carmo Fotos: 2ridetheworld
Eles são marido e mulher, são exploradores, são fotógrafos, são aventureiros, comunicadores, mas são sobretudo motociclistas.
Tive oportunidade de conhecer este casal inglês, simples e simpático, que recentemente se deslocou a Portugal, país que ironicamente quase não conhece, para estar presente e animar a celebração do 6º aniversário do Clube BMW Motorrad Fans.
Quando se conheceram, Simon um comunicador nato e Lisa Thomas uma organizadora perfeccionista, nenhum deles fazia ideia que o outro andava de moto desde os 16 anos. Na altura não tinham moto, e faziam uma vida perfeitamente normal, cheia de rotinas e responsabilidades, com a família e os amigos a cobrarem a sua parcela de tempo e atenção.
Em Maio de 2003, ainda sem as ajudas dos “smartphones” e do Google Earth, ele com 33 anos e ela com 41, o destino deu-lhes uma grande ajuda, com acontecimentos inesperados e pouco agradáveis que lhes proporcionaram o empurrão final para partirem numa grande e inimaginável aventura.
Depois de um breve curso de condução avançada em “off-road”, aos comandos das suas BMW R1150GS e F650GS, e depois de venderem a casa e o carro, partiram para uma volta ao mundo em duas rodas. O objectivo era dar a volta ao planeta, atravessar os 7 continentes e, a par com estabelecer 5 recordes mundiais, angariar fundos para 3 instituições de caridade.
A verdade é que passados quase 14 anos eles ainda não pararam. Até hoje, já percorreram mais de 680,000 quilómetros, perfeitamente documentados, através de 78 países, incluindo os pontos mais a norte e mais a sul, possíveis de alcançar numa moto.
Desde as agruras do cabo Norte, na Noruega, até às temperaturas escaldantes do Deserto do Sahara, passando por debilidades físicas causadas pela Malária, pela escassez de água, e por avarias mecânicas graves, o rol de peripécias e as intermináveis aventuras são matéria para as esporádicas mas divertidas apresentações que fazem em empresas e grupos, e que são nos dias de hoje uma das poucas fontes de rendimento que alimentam esta sua paixão.
Em viagem dividem as tarefas, como um casal normal. Ele trata da mecânica, ela trata da navegação e da comida.
Ele trata da abordagem das fronteiras, e ela serve de arma secreta quando as coisas correm mal, sendo ou simpática ou uma autêntica fera dependendo da gravidade da situação.
Ambos escrevem, ambos tiram fotos, ambos montam e desmontam a tenda, e ambos conduzem.
Enquanto ela trata da preparação das novas etapas (sem recurso a Google já que se habituou a trabalhar com os mapas de papel, ele trata da comunicação com os patrocinadores, e gere o melhor que pode o website e os diversos discos rígidos que os acompanham em viagem, onde guarda os mais de 2,3 milhões de fotos que ambos têm tirado por todo o mundo e que ilustram os muitos artigos que escrevem para as revistas de viagem.
Ao cabo de todos estes anos, ainda não consideram ter visto tudo o que queriam. Tampouco conseguem definir o local mais bonito, ou o mais avassalador, devido às grandes diferenças que, pelo menos os sitios mais marcantes, têm entre si. Até porque, segundo dizem, o que os marca são as gentes, e não os locais. O grande sonho de ambos é ir à Antártida, e inventar uns caminhos que possam proporcionar mais umas aventuras.
Uma das experiências que consideram mais marcante foi a travessia da India. Simon ainda não racionalizou a frustração de não ter conseguido chegar ao Taj Mahal, quando chegou a estar a menos de 80km de distância. Lisa ficou marcada pelas vacas que atravancam o trânsito.
Ambos ficaram psicologicamente esgotados por ter que enfrentar as multidões que incessantemente os abordavam.
Descreveram o desespero como se estivessem a afogar-se em pessoas. Foi uma experiência de tal forma intensa que depois disso, precisaram de “tirar férias” e literalmente fugiram para o Deserto do Thar onde ficaram a desfrutar da solidão e das estrelas durante alguns dias. Ficará para sempre a mnemónica: I’ll Never Drive India Again (INDIA).
Mas na memória de ambos, está também bem viva a pior das experiências que viveram ao longo de todos estes anos:
Aconteceu em plena floresta Amazónica, com uma humidade de quase 100%, sem qualquer contacto com a civilização, quando Simon sofreu uma grave queda ao tentar passar uma velha e degradada ponte que acabou por ruir.
Ele e a sua GS caíram de uma altura de quase dez de metros, tendo ambos ficado gravemente afectados. A moto sofreu várias avarias e Simon, sem saber, fracturou 3 vértebras cervicais.
Paralizado de todo o lado direito, necessitou de 3 dias para, com a ajuda de Lisa e de todos os comprimidos que levavam com eles, conseguir pôr a moto em condições de rolar. Isto apenas para começarem uma agonizante viagem de 23 dias, com a Lisa a ter que rebocar a moto de Simon, enquanto ele, literalmente amarrado aos comandos, tentava suportar as dores, o calor e o desgastante esforço que representou para a mulher ter que literalmente o arrastar a ele e à sua moto até à civilização.
Mas depois de uma operação de emergência, e de uma recuperação de quase dois meses, tudo voltou à normalidade e daí para cá, ambos já percorreram mais 180.000 quilómetros.
Casados há 21 anos, mais de metade da sua vida conjugal foi passada em viagem, nas suas motos, sem casa, apenas com uma tenda, e todo o mundo para a montar.
Neste momento vivem o início de uma nova época. Há cerca de um ano, receberam um e-mail de alguém que dizia querer oferecer-lhes duas motos novas. Descrentes nem ligaram ao assunto, mas voltaram a ser abordados pela pessoa, e lá se resolveram a marcar um encontro. Afinal a oferta era mesmo real!
Alguém bem na vida, que pediu anonimato mas que os admira pela coragem e perseverança, ofereceu-lhes mesmo duas novas BMW (poderia ser qualquer outra moto, mas a escolha, para Simon e Lisa era óbvia, depois de cada um ter partilhado com as suas velhas BMW mais de 600.000km por todo o mundo.
Enquanto fazem este desvio pela Europa para também visitar a família, têm as motos na América.
As novas estão prontas a rolar e já todas equipadas para a aventura, e as velhas estão guardadas provisoriamente no Bob’s BMW Vintage Museum, em Jessup no Maryland, antes de voltarem para a Europa para o Museu da BMW, sendo que nem o Simon nem a Lisa se querem desfazer delas por dinheiro algum.
A Lisa está também a preparar o lançamento do seu livro Dirty Dinning, (pode ver mais informações sobre o livro no facebook - clique aqui) sobre cozinha de aventura, que vai sair para o mercado ainda antes do Natal.
Planos para parar não têm. Acham que vão conseguir continuar a viver esta vida por mais uns dez anos. O que andam, isso sim, é à procura de um local onde possam, novamente, voltar a ter uma casa. Mas o assunto não é pacífico... Ou não fossem um casal...
Para acompanhar as viagens destes aventureiros, ligue-se ao site deles, o 2ridetheworld, onde além de muitos conselhos de viagem, pode ficar a saber mais sobre eles e as suas aventuras. E até pode contribuir para as causas que representam, ou tão só pagar-lhes um café, uma bebida, ou um almoço. Passe por lá!
Aqui fica o mapa actualizado das voltas que este casal de aventureiros tem dado pelo mundo.
andardemoto.pt @ 12-12-2016 01:35:18
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