
Cristiana Cera
A miúda da mota azul. Conservadora-restauradora e motociclista.
OPINIÃO
A culpa é da minha Mãe
Desde que me lembro de ser gente que cresci a ouvir a minha Mãe a lamentar-se de ter vendido a sua moto.
andardemoto.pt @ 9-1-2023 09:30:00 - Cristiana Cera
Nos finais dos anos 70, numa pequena aldeia Ribatejana, a minha mãe desafiou os padrões de uma rapariga “normal” de aldeia. Com 20 anos, e com as suas poupanças do trabalho árduo, comprou a sua companheira de aventuras, uma Forvel Vip 2, a única “mini trial” de fabrico nacional, que mesmo sendo de pequenas dimensões, segundo o fabricante, o quadro era reforçado e adaptado à altura de qualquer condutor e para qualquer idade. Equipada com amortecedores telescópicos, as rodas eram de aço estampado 3.00 x 8”. Existiam duas versões: uma com motor Casal M 149 (mudança de mão) e outra com motor Casal M 147 (mudança de pé). Neste caso, a da minha Mãe era a M149.
Com o seu 1,50m de altura, ia a todo o lado, a uns estonteantes 60 Km/h! Chegava a ir à praia do Baleal, na sua moto azul metalizado e com o seu lindíssimo capacete AGV. Por onde passava era sempre notada, pois ninguém ficava indiferente à pequena moto!
Com a construção da nossa casa e já com filhos pequenos, decidiu vender a moto para pagar o trabalho do carpinteiro.
O lamento da venda era amiúde, ao longo dos anos, especialmente quando se falava de motos.
Perto do meu 30º aniversário e já com a minha vida organizada, decidi que iria voltar a ver a minha mãe a andar de Forvel!
A busca começou inicialmente por tentar localizar a moto que teria sido dela, contudo, cheguei a um beco sem saída e perdi o rasto…
Plano B: comprar uma igual, já que, como trabalho na área da conservação e restauro, faço todo este tipo de trabalhos de recuperação! Infelizmente, cedo percebi que estas motos rondam os 4000€ - restauradas e legalizadas – e apesar de estar com a vida organizada, vamos lá a ter calma!
Durante esta busca vi centenas de motos deste e de outros estilos e sem me dar conta, fui-me apaixonando - especialmente - pelas “velhinhas”!
Acabei por abandonar a busca até que uns anos mais tarde, numa feira de clássicos vi uma Casal Diana G3 (que ainda tenho)!
Pequena, a funcionar e ainda por cima super acessível. Uma pechincha! Só precisava de mimo e restauro estético. Não hesitei por um segundo e trouxe-a para casa, pois não cabia em mim de felicidade, ao imaginar a cara da minha Mãe a receber uma moto idêntica à que tinha tido!
Infelizmente os nossos pais não são para sempre jovens, como os conhecemos outrora, e assim que se sentou na moto, percebeu que já não teria destreza para a conduzir. Tinha a “desilusão” estampada no rosto. Prometi a mim mesma que ainda iria alterar o assento e adaptar tudo o que a fizesse sentir com mais segurança. Ainda não desisti de a ver voltar a conduzir!
Com a moto ali parada (um desperdício) acabei por pedir ajuda ao meu Pai e a um Tio para me ensinarem a conduzi-la. Bem… mal sinto o acelerador a vibrar na mão, a sensação de frio na barriga, as “borboletas” (como costumamos chamar): a minha vida mudou!! Não larguei mais – vocês sabem como é – e o bichinho das motos pegou!
Pus mãos à obra e ficou lançado o início desta aventura! Restauro completo, uns quantos quilómetros e passeios e… o resto eu conto-vos depois!
Resumindo: A culpa é da minha Mãe!
Outubro 2022
andardemoto.pt @ 9-1-2023 09:30:00 - Cristiana Cera
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