Cristiana Cera

Cristiana Cera

A miúda da mota azul. Conservadora-restauradora e motociclista.

OPINIÃO

A evolução natural

Posso afirmar veementemente que no meu percurso das motos nunca dei um passo maior que a perna. E neste caso a minha perna é bem curta! Aliás, é mesmo por ter perna curta (155cm de altura) e noção de alguns limites que isso acarreta, que sempre fui muito ponderada aquando a escolha das motos.

andardemoto.pt @ 27-6-2023 10:59:53 - Cristiana Cera

Como já vos contei, comecei a andar de moto numa Diana G3, para quem não conhece, é uma moto de 50cc tipo Casal Boss, baixinha. A meu ver, estas motas são perfeitas para nos iniciarmos na condução. Pouca potência, pouca velocidade e poucas mudanças! Inicialmente achei que esta moto serviria bem para a minha “ambição” de motard (risos), ir à loja na pequena aldeia onde vivo e dar uns passeios aqui pelo Concelho do Cartaxo.

Logicamente, o bichinho cresceu dentro de mim e a baixa velocidade (que nem um semáforo de velocidade conseguia disparar) começou a saber a pouco.


Após 6 meses a conduzir a Diana G3 decidi então tirar a carta de moto. Com a carta veio a compra da Yamaha SR 250, que transformei na Azulinha. Rebaixei o assento, adaptei-a à minha estatura e fui ganhando confiança. Inicialmente a moto parecia-me enorme e pesada, mas adaptei-me e pensei: agora sim estou satisfeita!

 Em conversa com amigos comecei a ouvir que isto não iria ficar por aqui, (queria, iria querer outra moto mais potente) mas não acreditei, estava muito satisfeita e nunca fui pessoa de grandes velocidades. Estavam enganados! Esta moto iria servir-me por muitos anos, não precisava de outra, estavam doidos.

Já diz o ditado: pela boca morre o peixe. Um ano volvido, comprei a moto dos meus sonhos, a Triumph Bonneville de 2005 ainda a carburadores. Rebaixei o assento e algumas pequenas alterações para me sentir mais segura. Era uma moto muito pesada para mim, mas habituei-me rapidamente. Dava-me muito gozo conduzir em modo de passeio, suave.


 Olhava para motos maiores e pensava sempre que nunca as conseguiria conduzir, pois tinha a noção dos meus limites.


Por vicissitudes, passados 2 anos, tive de vender a Triumph e comprei a Moto Guzzi V7 Special.

A diferença da Moto Guzzi era abismal, nervosa, pedia velocidade. A primeira vez que a acelerei e senti aquele puxão para o lado pensei: “o que fui fazer à minha vida. Eu nunca me vou habituar a esta moto”. Deixei-a cair algumas 5 vezes, mas não desisti.

Decidi fazer nesse ano a viagem aos Picos da europa com um grupo de amigos. Depois fiz os Pirenéus, sul de França e costa Brava, a maioria do percurso, sozinha. No final dessas duas viagens a destreza e o à-vontade que ganhei com a moto, foi visível. Parecia-me já uma moto super fácil de conduzir.

Só uns meses após ter a Moto Guzzi é que voltei a pegar na Yamaha. Digo-vos, estava capaz de sacar um cavalinho nela de tão leve que me parecia. Como era possível a Yamaha, agora, parecer-me tão leve e tão fácil de conduzir!?


Acham que fiquei por aqui? Não! Após a viagem aos Pirenéus percebi que queria começar a fazer viagens maiores e para isso necessitava de uma moto mais confortável feita para este tipo de viagens.

Nunca tinha pensado para mim numa moto como a BMW G 650 GS, mas acabou por ser a escolhida. Na verdade, quando me foi sugerida senti-me logo capaz de a conduzir, não senti nenhum limite que mentalmente me impedisse de a experimentar. Obviamente que tive de rebaixar um pouco o assento e ainda assim apenas chego com a ponta do pé ao chão, mas não me faz diferença. Consigo sentir-me muito confortável a manobrá-la.

Olho para trás e penso: conduzir uma moto destas e a chegar apenas com uma ponta do pé ao chão era impensável para mim, há uns anos. A verdade é que sinto que fiz um percurso na evolução das minhas motos, muito natural, a prática com cada uma delas, todas um pouco maiores que as anteriores foram-me dando confiança para superar os desafios maioritariamente mentais. As quedas que tive foram sempre parada, apenas por não estar habituada ao peso e nunca dei “um passo maior que a minha perna”.

Já são 5 motos na lista e 4 na garagem. Vício? Sim, sem dúvida, mas foi uma evolução. Evolução essa, muito natural.

Venha a big trail, estou quase pronta!

andardemoto.pt @ 27-6-2023 10:59:53 - Cristiana Cera


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