Gracinda Ramos
Professora de artes, pintora e motociclista de todos os dias.
OPINIÃO
Passeando pela Grécia/Balcãs – subindo a Bulgária até Pleven
Hoje ia subir a Bulgária.
andardemoto.pt @ 30-6-2024 12:38:00 - Gracinda Ramos
As saudades que eu tinha de passear por aquele país! Lembrava-me que a última vez que andara por ali, e estivera em Plovdiv, tive sensações muito agradáveis, com a simpatia do povo, os caminhos solitários ladeados por campos cultivados e as paisagens rurais com aldeias quase escondidas entre a vegetação. Por isso agora tinha em mente explorar outros sítios e outros percursos, assim a minha mão mo permitisse…
Ao pequeno-almoço pude encontrar-me com o pessoal do alojamento. De entre aquela gente simpática havia quem, efetivamente, se lembrasse de mim e da minha moto preta.
“Ah, já não tenho essa moto preta, agora é branca!”
“Pois, já passaram alguns anos teve de trocar por outra.”
“Bem, na realidade esta é a seguinte à que tive a seguir à preta…”
E vieram ver o meu ultimo modelo!
Entretanto, tal como da ultima vez que ali estive, o gatão veio tomar o pequeno almoço no meu colo. Há coisas que não mudam!
Considerando que eu estive ali há 6 anos, o bichano terá pelo menos uns 7 ou 8 anos. Lá ficou todo contente no meu colo enquanto eu arrefecia o meu pulso febril e tomava o meu café. Eu gosto de gatos!
Plovdiv, uma das cidades mais antigas da Europa, tem um imenso significado histórico como uma encruzilhada cultural que remonta aos tempos antigos. O antigo centro histórico de Plovdiv é um tesouro de património arquitetónico que reflete o rico passado e as diversas influências da cidade.
Na subida para a parte mais alta da cidade, perto da porta medieval de Hisar Kapia, fica a Casa Kuyumdzhioglu, uma casa do sec. XIX que é hoje o Museu Etnográfico Regional de Plovdiv. Só pude visitar por fora pois estava fechada. Mas é tão linda que valeu na mesma o tempo que lhe dediquei.
O antigo Centro Histórico de Plovdiv possui uma mistura única de estilos arquitetónicos, incluindo arquitetura romana, bizantina, otomana e renascentista búlgara.
Quando volto a uma cidade procuro, sempre, ver o que ainda não vi e deixo, sempre, algo para ver quando voltar a passar lá. Desta vez eu queria subir até Nebet Tepe, uma das colinas da cidade. Nada de especial em termos de caminhada, já que eu estava alojada perto dali.
Ali foi onde a antiga cidade foi fundada. Os primeiros assentamentos em Nebet Tepe datam de 4.000 a.c. Dali de cima pode ver-se toda a cidade, desde os vestígios romanos até às colinas no horizonte. Dizem que as colinas de Plovdiv são sete (lembrei-me que Lisboa também é uma cidade de 7 colinas!) No entanto, sendo um ponto tão importante para a cidade e um monumento cultural de importância nacional, com tanta história acumulada por tantos séculos, pareceu-me bastante negligenciado e abandonado a si próprio. Uma pena!…
As icónicas ruas estreitas de paralelo irregular, ladeadas por casas coloridas do século XIX, com distintos andares superiores salientes, são emblemáticas do charme da região.
As casinhas são tão fofas com fachadas ornamentadas e pisos superiores suspensos sobre estruturas de madeira, que só apetece fotografar e desenhar até à exaustão. E a cor das paredes, com o reflexo da luz forte do sol, tornava cada ruela estreitinha num “túnel de beleza”.
A porta medieval de Hisar Kapia é imponente, com as casas em redor de cores fortes a tornar o conjunto verdadeiramente único.
Lembro-me que a primeira vez que cruzei aquela porta de moto, estava com a minha CrossTourer preta, assustei-me com a irregularidade das pedras do chão. Eu tinha tido motos mais baixas por tanto tempo que tive medo de, se me desequilibrasse com o saltitar da moto, não chegasse a tempo com os pés ao chão para me segurar de pé.
Claro que acabei por me rir de mim própria, como podia eu ter medo de cair com uma moto tão mais leve do que a que eu tinha antes? Qualquer pésada ao chão me equilibraria muito facilmente! E lá continuei o meu caminho pelas ruelas todas tortas da cidade, toda contente.
Depois do piso torto do centro histórico, qualquer paralelo parecia alcatrão lisinho! Eu sempre digo que, depois de experimentar o pior, qualquer coisa parece melhor.
A Bulgária pode não ser um país rico e ter algumas estradas em mau estado, (todos os países têm) mas, no geral, pode-se circular com bastante conforto pelo país. Na realidade a maioria das estradas que já percorri no país, (e foram muitas) estavam em bom estado. E desta vez não foi diferente. Outra curiosidade que sempre me agradou no país é que, embora seja exigida uma vinheta para se circular nas autoestradas/vias rápidas, essa exigência não se aplica às motos. Lembro-me de andar pelo país e, embora sem conseguir ler uma palavra de búlgaro, perceber pelas figurinhas em placas, que estavam por todo o lado, que precisava de uma vinheta. Preocupada em poder ser intercetada pela polícia e não ter a dita cuja, assim que vi uma cabine de venda da coisa, fui tratar de comprar uma para mim. Qual não foi a minha surpresa quando a senhora me diz “Moto free!” Ainda perguntei se era free naquela estrada, mas ela, fazendo gestos de negação com as mãos, respondeu: “motos free in all Bulgaria!”. Wow! E eu habituada a que a moto pagasse para tudo, no meu país!
O meu destino era Veliko Tarnovo, uma cidade com uma importância significativa na história búlgara.
Não havia onde deixar a moto. Ainda andei para baixo e para cima, na rua, à procura de um cantinho para a pôr, mas nada! Então recorri à minha estratégia mais básica, subir o passeio e perguntar ao senhor da cabine de entrada se havia um sítio por ali onde pousar a minha motita para ir visitar a fortaleza. Claro que havia, ali mesmo! E lá ficou ela, quase no meio do caminho, onde ele me indicou, de forma que ele a pudesse ver. Não são fantásticos os búlgaros?
Para visitar a Fortaleza de Tsarevets é preciso comprar um bilhete. Oh valha-me Deus, além de ir derreter a mioleira caminhando colina acima debaixo do calor, ainda tenho de pagar por isso! E a Kaca (Tickets) sempre me faz sorrir!
E lá estava ela, a Fortaleza de Tsarevets, também conhecida como “Cidadedos Czares”. É uma fortaleza histórica construída durante o Segundo Império Búlgaro, possui até hoje um imenso significado histórico e atrai visitantes de todo o mundo.
As coisas que eu estudei e descobri sobre a Bulgária aparecem ali tão bem situadas. O leão tem uma presença significativa na cultura oficial dos búlgaros e é um símbolo do poder do Estado, também sendo integrado no brasão nacional. A palavra antiga para leão, lev, é utilizada para denominar a moeda da Bulgária.
E à medida que se sobe, as perspetivas sobre a cidade são muito bonitas.
Toda a colina era cidade, cercada por densas florestas e altos picos. Era certamente bastante impressionante, sobretudo pelo seu poder e imponência, que na época seriam bem maiores.
A localização estratégica da cidade, nas falésias sobranceiras ao rio Yantra, tornou-a numa fortaleza natural e num símbolo de força e resiliência.
Olha-se para os desenhos dos mapas e olha-se em redor, e está lá tudo! O rio Yantra a dar a volta a tudo, de uma forma que apenas um drone conseguiria registar.
No ponto mais alto da colina, fica a Igreja Patriarcal da Ascensão, que foi construída sobre os vestígios de uma igreja cristã antiga, do século V.
Durante o império búlgaro no século XIII, esta igreja era considerada a principal igreja do país, fazendo parte do patriarcado da igreja ortodoxa da Bulgária. Não haveria Czar sem o patriarcado, daí a grande importância desta igreja na época.
Hoje, depois de restaurada, não funciona como igreja e não conserva, certamente, grande parte das suas caraterísticas originais, mas é um espaço bonito e intrigante, pela decoração que ostenta.
Ui, estava tão fresquinho ali dentro que só faltava um banco ou uma cadeira para eu ficar por horas lá dentro!
Sair dali era como cair no mundo real, depois de ter relembrado trechos dahistória da Bulgária que trazia comigo para me orientar, desde a cabine da
entrada.
Bora lá, que para baixo todos os santos ajudam.
Pleven está localizada numa região agrícola na planície do Danúbio, eu já lá andara perto quando fizera o Rio da nascente até ao delta, mas explorara a redondeza deixando a cidade para ver mais tarde.
Ora o “mais tarde” seria hoje, por isso siga para lá que tenho fome, quero ver coisas e comer sem pressas!
A praça principal de Vazrazhdane é o “centro do mundo” ali!
A gente começa a caminhar e parece que toda a praça foi preenchida por uma enorme fonte sem fim, que passa, ora por baixo ora por cima dela. Está por todo o lado! Com desníveis, cascatas e repuxos de vários tipos e estilos, aquilo dá caminhos criativos em várias direções, com gente que se senta um pouco em qualquer lado a ler ou a conversar. Há um clima curioso e diferente por ali!
Ao passear ao longo da enorme fonte encontrei os 3 famosos sapinhos de Pleven sobre uma pedra. Ao que parece alguém tentou “sequestrar” um deles, danificando a simpática obra escultórica. Um cidadão anónimo conseguiu evitar o sequestro tornando-se oficialmente o seu salvador.
Sempre que me passeio pelos países de leste tenho aquela sensação de caminhar pelas histórias da História que estudei na escola, por isso os memoriais chamam-me a atenção, pois podem referir-se a eventos que eu já conheci. E assim era, outra vez, naquele momento!
É o monumento “Bratska Mogila” que foi construído nos anos 70 em memória dos combatentes caídos contra o fascismo e o capitalismo. Hoje também glorifica os soldados búlgaros que morreram na Guerra Russo-Turca.
E a câmara da cidade ao fundo.
Depois, lá estava a Capela-mausoléu de São Jorge, o Conquistador.
O mausoléu foi dedicado aos soldados russos e romenos que morreram durante o cerco de Pleven em 1877 e é chamado de São Jorge, em homenagem ao padroeiro dos soldados. E eu a pensar que estava lá dentro o santo!
Muitos dos restos mortais dos soldados foram depositados no local. O edifício faz parte do brasão da cidade.
Era hora de ir para casa… O meu quarto ficava lá bem no alto, o que me proporcionava uma perspetiva bem bonita da cidade… ou antes, daquele lado da cidade!
Davam chuva para amanhã, por isso eu estava a preparar-me mentalmente para o banho e a escolher as visitas de interiores, já que na rua provavelmente não daria para ver grande coisa. Amanhã seguirei para a Sérvia…
andardemoto.pt @ 30-6-2024 12:38:00 - Gracinda Ramos
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