Frente-a-frente Neo-Retro - Kawasaki Z900RS vs Moto Guzzi V7 vs Triumph Bonneville T20
Reviver ou reinventar o passado? As linhas clássicas causam uma atração inexplicável mas, no entanto, também é difícil resistir aos encantos da tecnologia. Juntar as duas tendências nestas clássicas modernas é uma aposta forte na probabilidade de sucesso.
andardemoto.pt @ 23-5-2023 11:53:58
As motos de estilo Neo-retro, também chamadas de clássicas modernas, parecem vindas do tempo dos nossos avós e bisavós mas, na realidade, apenas se assemelham com as motos dessa época, já que incorporam as mais recentes tecnologias que as tornam incomparavelmente mais fiáveis, robustas, seguras, fáceis e interessantes de conduzir.
Apesar de fazerem virar muitas cabeças, estas motos estão longe ser ser as mais vendidas no mercado. E os fabricantes sabem disso, pelo que as produzem numa espécie de montra dos pergaminhos das suas marcas, sabendo de antemão que um público nostálgico, e provavelmente também bem abonado, as cobiça e elege, principalmente como segunda ou terceira moto, sobretudo para as poder contemplar e desfrutar em relaxantes passeios de fim-de semana ou diariamente como veículos utilitários.
Com estes modelos inspiracionais, os consumidores nostálgicos podem saciar os seus intentos de transmitir uma imagem clássica e ao mesmo tempo desfrutarem do que de melhor a tecnologia tem para oferecer, com o benefício de não terem de chegar a casa mais tarde do que previsto, com as mãos e roupas sujas de óleo, os dedos escavacados pelo alicate e os arames, esfomeados e a tresandar a gasolina, sem sequer terem conseguido percorrer metade do percurso previsto.
E com isto não quero tirar o mérito aos verdadeiros heróis e mestres de mecânica que a muito custo recuperam e mantêm em funcionamento aqueles velhos modelos originais que a todos encantam. Adiante.
Não por capricho, mas pela isenção jornalística que a ordem alfabética me concede, começo este frente-a-frente pela Kawasaki Z900RS, moto que se destacou pela sua resposta explosiva e grande agilidade, passo pela Moto Guzzi V7 Special 850 cujas linhas voluptuosas e som encantador são apaixonantes, e termino com a Triumph Bonneville T120 Black que, pela sua silhueta e desempenho, justifica perfeitamente o seu enorme sucesso de vendas ao longo das últimas décadas.
Na sua diversidade, já que são bastante diferentes entre si, qualquer uma destas 3 motos é perfeitamente capaz de satisfazer os motociclistas mais exigentes. Qual a melhor para si? Pois vai ter mesmo que as experimentar! Aqui vou apenas referir o que pode esperar de cada uma delas.
Kawasaki Z900RS
Fortemente inspirada na mítica Kawasaki Z1 Super Four, lançada no mercado em 1972, com umas linhas simples e esguias que favorecem o aspecto leve e ágil, a Z900RS incorpora tecnologia avançada que lhe confere um comportamento dinâmico que os motociclistas dos meados do século passado nem sequer podiam imaginar.
A diferença começa pelo motor. Igualmente um tetracilíndrico em linha, mas dotado de um corpo de admissão duplo que lhe confere uma maior suavidade na resposta ao acelerador, vem equipado com controlo de tracção para evitar surpresas em pisos mais escorregadios, uma caixa de velocidades extremamente suave e precisa, assistida por uma embraiagem deslizante, e termina numa linha de escape propositadamente afinada para um som irresistível sem ter que rebentar os tímpanos a ninguém.
Na suspensão, a forquilha invertida de 41mm de diâmetro, regulável em compressão, extensão e pré carga, e o amortecedor traseiro com instalação horizontal, que compacta o centro de gravidade da moto, garantem um desempenho dinâmico excelente, difícil senão impossível de alcançar com a tecnologia de há 50 anos, proporcionando uma direção precisa e uma agilidade e estabilidade notáveis.
A travagem, com pinças de instalação radial na roda dianteira, tal como a respectiva bomba principal, elevam a segurança para parâmetros completamente desconhecidos na década de 70, até porque os pneus de então não teriam capacidade para garantir a aderência exigida por este potente sistema que morde discos de 300mm de diâmetro.
E já que estou a falar nas rodas, não queria deixar passar o facto de, apesar de as jantes terem um desenho lindíssimo, que potencia a leveza do conjunto, estas são em moderna fundição de alumínio e não de nostálgicos aros raiados, como o modelo em que se inspira e como as duas outras participantes neste frente-a-frente.
Aos seus comandos é difícil ficar indiferente ao nível de conforto oferecido pela suspensão e pela posição de condução. Tudo é leve, simples e tudo funciona como deve ser, e o painel de instrumentos recorda os tempos idos, com os aros cromados e os seus mostradores analógicos que ensombram o discreto painel digital que os completa em termos de informação.
O nível de acabamentos da Kawasaki Z900RS é irrepreensível, exibindo componentes de qualidade que proporcionam uma solidez perceptível em andamento, com ausência de vibrações e ruídos parasitas.
Em andamento, a Kawasaki Z900RS proporciona um elevado prazer de condução, sobretudo em andamentos mais rápidos, nos quais se pode desfrutar de uma elevada sensação de segurança.
Moto Guzzi V7 Special 850
Uma elegante silhueta que mantém os mesmos traços há mais de 50 anos, acompanhada desde sempre por um carismático motor de dois cilindros de configuração em V a 90º, com instalação transversal, fazem deste icónico modelo da Moto Guzzi um dos mais representativos desta categoria de motos clássicas modernas.
Descendente direta da V7 Sport, apresentada ao mundo em 1971, está agora equipada com um motor de 850cc, estreado na elegantíssima V85TT, com o qual vê refinado o seu desempenho dinâmico.
Comparativamente com o anterior, a ficha técnica evoca um aumento de potência de 25%, debitando agora 65cv (contra 52cv) sendo que o binário máximo subiu também de 60 para 73Nm, isto à custa de um mais amplo regime de funcionamento e de um mapeamento do motor que lhe confere uma entrega de 80% do binário logo a partir das 3.000rpm. Este novo motor vem ainda equipado com um sistema de controlo de tração regulável em dois níveis de intervenção, para poder fazer frente a pisos mais escorregadios.
Além disso, a V7 Special 850 beneficia agora em termos de conforto, graças à configuração desta unidade motriz que liberta mais espaço para o posto de condução, permitindo assim aproveitar melhor a posição de condução desportiva.
Para tal, além de ter reforçado alguns pontos estruturantes do quadro, de ter alongado o braço oscilante e instalado novos amortecedores traseiros com maior curso, a Moto Guzzi aprimorou a ciclística com componentes de topo, como a maxila de travão Brembo de 4 pistões e disco único de 320 mm de diâmetro.
Mas este é um daqueles casos em que o todo é maior que a soma das partes. Claro que o design italiano também conta mas, mais do que isso, a história de sucesso deste modelo foi construída com base no seu desempenho e na experiência de condução que proporciona.
E ainda pela utilização de uma transmissão final por veio e cardã, pelo grande depósito que lhe confere uma excelente autonomia, pelo seu carismático e exclusivo motor e pela simplicidade de todo o conjunto, que lhe proporciona uma grande facilidade de personalização.
Nesta versão de 2023, com uma pintura que prima pela qualidade de acabamento realçada por uma enorme superfície cromada, apenas estranhei o aspecto do farolim traseiro, demasiado obvio em termos de modernidade e pouco apelativo em termos estéticos.
Mais aspetos negativos, apenas o dilema que causa sobre se deve ser conduzida ou apenas olhada. E se equacionarmos o seu preço acessível, então a tentação é ainda maior.
Triumph Bonneville T120 Black
Com uma história que remonta há já 70 anos, pois a primeira Bonneville saiu da fábrica em 1959, a T120 recorda-nos que a primeira moto de produção da Triumph foi comercializada em Abril de 1902, dando início a uma das histórias mais empolgantes do motociclismo.
Em 2021 a T120 recebeu um actualização profunda, ficando substancialmente mais leve e mais tecnológica, com a adição de uma travagem assinada pela Brembo e um pacote eletrónico que integra modos de motor, controlo de tração e controlo automático de velocidade. Iluminação por LED, um painel de instrumentos muito completo, imobilizador eletrónico são alguns dos benefícios que a modernidade confere a este que é um dos mais cobiçados e bem sucedidos modelos do segmento das clássicas modernas.
Além do seu aspeto, qualquer outra semelhança com as unidades motrizes do século passado é pura coincidência. Os dados da ficha técnica podem não despertar emoções aos motociclistas teóricos, mas quem a conduzir fica imediatamente encantado com o seu desempenho e rendido às suas prestações dinâmicas.
Disponível com diversas motorizações e decorações, esta versão T120 da Bonneville é a mais potente, pois está equipada com o motor bicilíndrico paralelo High Torque que tem uma cilindrada de 1200cc e disponibiliza 105Nm de binário máximo logo às 3.500rpm, com uma potência máxima de 80cv às 6.550rpm.
A sua suavidade de funcionamento e a resposta contundente e sem quaisquer hesitações, aliam-se a uma grande agilidade e a uma ciclística irrepreensível para proporcionarem um enorme prazer de condução.
A posição de condução descontraída, de costas direitas, comandos leves e precisos, um posto de condução desafogado que oferece espaço suficiente para partilhar o passeio com um passageiro e uma enorme sensação de conforto e segurança, são grandes argumentos que rivalizam com a qualidade dos acabamentos.
Pormenores como as ponteiras de escape “pea shooter”, os corpos de admissão a imitarem os antigos carburadores AMAL, os foles a cobrir os hidráulicos da forquilha, os cachimbos das velas expostos, a imitarem a antiga baquelite, remetem-nos para tempos em que andar de moto, apesar de maravilhosa, não era uma actividade nem tão segura nem tão aprazível.
A Triumph Bonneville T120 é um lobo em pele de cordeiro que se adapta perfeitamente a qualquer utilizador e tipo de utilização, que pode enfrentar qualquer tipo de caminho e que fica bem em qualquer cenário.
Indiscutivelmente a mais clássica das silhuetas deste grupo, a Bonneville T120 é também a mais tecnologicamente avançada das 3. O painel de instrumentos esconde a sua modernidade por detrás de dois mostradores com um misto de apresentação analógica e digital, incluindo sinalética facilmente perceptível.
Das motos aqui apresentadas é indiscutivelmente a moto mais fácil de conduzir e a que transmite uma maior sensação de confiança. É também a que apresenta melhores acabamentos e pormenores estéticos. E quanto a gostos, a sua silhueta nostálgica é provavelmente a mais cobiçada de todas, realçada neste modelo “Black” em que os cromados foram preteridos por acabamentos a negro.
andardemoto.pt @ 23-5-2023 11:53:58
Clique aqui para ver mais sobre: Test drives