Teste Ducati Diavel V4 - Prazer infernal
O novo motor V4 Granturismo é a grande estrela desta nova Ducati que apresenta características dinâmicas e estilísticas marcantes, capazes de lhe causar uma séria crise de identidade.
andardemoto.pt @ 9-5-2023 07:00:00 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte
Era uma vez uma cruiser com ambições. Nasceu provocadora, para desassossegar tudo e todos com a sua atitude pouco digna para a sua classe. Farta de ser apenas melhor que as outras, jurou que havia de mudar da classe power cruiser, para onde a pudessem perceber melhor. Roubou um desportivo motor V4 e tornou-se numa nova classe de moto que não tinha concorrência, e que era muito difícil de classificar.
Eventualmente esta poderia ser uma história que qualquer moto do futuro contaria às suas netas. Mas a verdade é que a Ducati Diavel sempre foi considerada uma falta de respeito para o seu segmento.
Por diversas razões empurrada para uma classe em que a desportividade é apenas uma coisa que as outras motos têm, sempre foi incompreendida no seio do universo cruiser.
Demasiado rápidas para serem conduzidas com os pés para a frente, demasiado modernas para serem clássicas, pouco ágeis para serem desportivas, tanto a primeira como a segunda geração deste modelo enfrentavam uma séria crise de identidade.
Apesar do prazer de condução que conseguiam proporcionar, faltava-lhes um pouco para poderem ser apreciadas por quem não prescinde de acelerações vigorosas e inclinações vertiginosas. Com uma agilidade algo limitada pela exagerada dimensão do pneu traseiro e pela longa distância entre eixos, eram apenas compensadas pelo baixo centro de gravidade e pela avantajada disponibilidade do motor.
No entanto, com esta nova versão equipada com o motor que deriva do da Panigale V4, a Diavel V4 ganhou um comportamento dinâmico mais eficaz, que a torna num caso sério para os amantes da velocidade.
Sobretudo para aqueles mais experientes e a quem as costas, os braços e os joelhos, castigados por muitos anos a rolar, já não são o que eram e já não permitem grandes tiradas e respetivas doses de adrenalina aos castigadores comandos de motos desportivas.
Para conseguir tal feito, relativamente à Diavel 1260 S, a Ducati emagreceu a Diavel V4 em 13kg, poupando 5kg no motor (que pesa apenas 66,7kg) e 8kg nos restantes componentes.
O novo motor V4 Granturismo, que debita quase 170 cavalos a partir de um binário de 126 Nm, faz com que os 236 quilos de peso do conjunto, em ordem de marcha, pareçam substancialmente mais leves.
Na realidade, a relação peso/potência da Diavel V4 (1,4 cv/kg) é melhor do que, por exemplo, a de uma Kawasaki Z900 (1,68cv/kg) ou de uma Honda CB1000R (1,48 cv/kg), levando ainda de vantagem um binário consideravelmente superior ao de ambas (aproximadamente mais 20Nm). Isto permite que a Diavel V4 registe um arranque de 0 aos 100km/h em apenas 3 segundos e uma extrema facilidade em atingir velocidades perfeitamente obscenas.
Equipado com uma cambota contra-rotante, este motor V4 Granturismo proporciona uma melhoria significativa da aceleração à saída das curvas, já que ao invés de contribuir para o aliviar da suspensão dianteira e respectiva carga no amortecedor traseiro, potencia o efeito inverso, mantendo o conjunto mais estável, proporcionando assim uma maior confiança graças a uma maior precisão da roda dianteira.
Tendo trocado o sistema de distribuição desmodrómico por um convencional sistema de retorno das válvulas por mola, os intervalos de manutenção para afinação foram alargados para os 60.000 quilómetros e a resposta a baixos regimes tornou-se mais suave, sem no entanto perder capacidade de resposta nos regimes mais elevados.
O novo motor V4 Granturismo tem ainda em conta o conforto dos ocupantes, e consegue mitigar o calor irradiado desligando a bancada de cilindros traseira, quando os requisitos de potência assim o permitem. Ao ralenti ou a baixos regimes, os dois cilindros traseiros vêm a cortada a alimentação de combustível, aliviando a pressão térmica, facto que também contribui para consumos mais razoáveis.
A posição de condução da Diavel V4, bastante integrada na moto, contribui também para uma eficaz centralização de massas, que permite abusar da fabulosa travagem na entrada das curvas e da demolidora resposta do acelerador na saída delas.
A confiança proporcionada pelo pacote eletrónico é apenas limitada pelo bom-senso e pela certeza de que em caso de eventual excesso, ainda há margem para resolver a situação.
Equipada com Riding Modes, Power Modes, Cornering ABS, Traction Control e Wheelie Control, é difícil encontrar surpresas no caminho, já que estas ajudas eletrónicas asseguram que o quadro e os componentes de qualidade integrados nos diversos sistemas: travagem, suspensão e entrega de potência, vão cumprir a sua função em conjunto e sem falhas, para que se possa ter uma experiência de condução realmente inesquecível.
E nem lhe faltam todas as mordomias que a tecnologia disponibiliza: Quick Shifter, Power Launch, Cruise control, Hands-Free, ecrã TFT a cores de 5" TFT, Ducati Multimedia System, com integração do Smartphone, comutadores retroiluminados, iluminação Full-LED e pisca-piscas dinâmicos.
Poder-se-à argumentar sobre a agilidade, considerando que a Diavel V4 tem ainda uma considerável distância entre eixos, um pneu traseiro escandalosamente largo e uma inclinação lateral um pouco mais reduzida.
Não deixando de ser um facto, isso é compensado por uma maior estabilidade e por uma excelente distribuição de peso, com um centro de gravidade muito baixo, que inclusivamente facilita as manobras a baixa velocidade e à mão.
Durante a semana que dela pude desfrutar e ficar a conhecer, vão ficar recordações difíceis de esquecer. Não pela sua estética ou elan, mas sim pelo seu comportamento dinâmico.
A avassaladora competência do conjunto e a confiança que suscita em qualquer circunstância, a suavidade do motor mesmo a baixa rotação, a facilidade com que sobe de regime, mesmo nas relações de caixa mais altas, o excelente desempenho do quickshifter e da caixa de velocidades e o funcionamento imperceptível das ajudas eletrónicas à condução com todos os benefícios que daí advêm, deixaram-me deveras satisfeito e impressionado.
Isso e o conforto a bordo, proporcionado pelo perfeito encaixe no assento e por uma triângulo ergonómico muito bem estudado, que me garantiram muitos quilómetros de prazer, durante os quais tive oportunidade de castigar, e bem, os fabulosos pneus Pirelli Diablo Rosso III.
Pude ficar sem qualquer dúvida que a nova Ducati Diavel V4 é uma moto de um segmento aparte. Não é uma desportiva convencional, mas definitivamente não é uma cruiser, seja ela de que género for. É, no entanto, e a vários níveis, uma moto que realmente pode proporcionar um prazer infernal a qualquer motociclista que a possa ter na sua garagem.
Equipamento:
andardemoto.pt @ 9-5-2023 07:00:00 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte
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