Suzuki GSX-8S - Razão e Emoção
A nova Suzuki GSX-8S surge com argumentos sólidos e consistentes para atacar o segmento das naked de média cilindrada. Um novo motor e um quadro desenvolvidos de raiz, dão o mote para a típica eficácia que a marca sempre nos entregou. Fomos testá-la com o Douro aos nossos pés…
andardemoto.pt @ 19-6-2023 17:30:03 - Texto: Pedro Alpiarça
Existe aqui um pormenor bastante relevante, pois temos de ter noção de que já se passaram uns anos desde que a Suzuki nos brindou com uma moto completamente nova. Mas finalmente, este ano de 2023 vê nascer dois modelos importantíssimos para a marca (na verdade, são três, se contarmos com a última versão da V-Strom 1050). Um motor bicilíndrico paralelo e um quadro que servem de base para uma streetfighter e uma trail de média cilindrada.
Depois da sua retirada do MotoGP, o mundo ficou em choque, mas a marca não ficou parada, fazendo renascer a mítica Hayabusa, a super-naked GSX-S 1000 e a competente turístico-desportiva GSX-S 1000 GT que dela deriva. Mas nunca o mercado esteve tão predisposto a modelos mais acessíveis na cilindrada, no peso e sobretudo que assentem os seus argumentos na facilidade de utilização. As nakeds de carácter desportivo preenchem o coração daqueles que não abdicam das emoções fortes, com a razoabilidade de também não quererem perder os pontos na carta de condução de uma vez só.
A GSX-8S chega-nos com uma imagem impactante e provocadora, mas ao mesmo tempo familiar. As suas linhas angulosas e a silhueta compacta, assumem a centralização de massas e uma propositada atenção dedicada ao eixo dianteiro. O farol frontal (iluminação full LED) em escada, mimetiza a GSX-S 1000, e passa a ser referência de identidade nos novos modelos da marca (também encontramos esta montagem na nova V-Strom 800 DE). Na palete cromática à disposição (Azul “Pearl Cosmic Blue”, Branca “Pearl Tech White” ou Preta “Metallic Mat Black/ Glass Sparkle Black”), caiu-nos no goto aquele Azul, diferente de tudo o que existe no mercado e que dá um carácter muito especial à moto. Vestelhe uma aura diferente, e não sendo demasiado adolescente, conseguirá tirar uns anos de vida aos seus proprietários mais calvos, sobretudo aqueles que procuram um estilo mais atrevido.
E este é o pressuposto que a Suzuki persegue nesta sua nova naked. Uma diversão adulta, controlada e competente. Capaz de dar responsabilidade aos “miúdos”, e um sorriso na cara aos mais “velhos”. Passamos a explicar tão estapafúrdia analogia…
A GSX-8S tem uma postura refinada na sua condução, em que as expressões “solidez” e “competência” são muitas vezes repetidas. O novo bicilíndrico paralelo (com defasamento de cambota a 270º; 776 cc debitando 83 cv às 8500 rpm e 78 Nm às 6800 rpm) não impressiona nos seus números, mas também não desilude, pelo contrário. Desde as baixas rotações que mostra a sua personalidade baseada num binário sempre presente, e com uma progressão muito interessante independentemente da mudança. Não é fulgurante no último terço, mas a sua linearidade cheia de ímpeto acaba por convencernos, sobretudo nos médios regimes. A ausência de vibrações (graças a um novo sistema de 2 veios de equilíbrio primário, patenteado pela marca, denominado de “Cross Balancer”), é notória, e os injectores de alta pressão contribuem para a boa parametrização do acelerador electrónico, cujo tacto é absolutamente infalível.
Os mapas de motor são bem escalonados e apenas alteram a sensibilidade do punho direito na entrega de potência. Sem se mostrar demasiado preguiçoso, ou demasiado intempestivo, encontramos no mapa B a resposta ideal para a maior parte das situações, calmo e modulável em cidade e comunicador e entusiasta nos ritmos mais vivos. Sendo que no meio está a virtude, não deixamos de experimentar a bonomia do modo C (contextual em situações de baixo atrito), ou o mais directo modo A, cuja ausência de respostas bruscas (aquele típico ON/OFF de acelerador quando voltamos “à carga”) é demonstrativa do bom trabalho efectuado neste departamento.
Como ajudas à condução temos uma almofada de segurança electrónica baseada em 3 níveis de controlo de tracção e a possibilidade de o podermos desligar em andamento (sem ter a moto estacionária) é uma realidade que agradecemos. Mesmo desligando a ignição, a GSX-8S recorda-se da nossa escolha, não nos castrando a criatividade dinâmica. Porquê desligar o controlo de tracção, poderão perguntar? Porque a estabilidade ciclística assim nos permite…mas já lá vamos.
Toda a interacção com o sistema (mapas de motor e ajudas electrónicas) é simples e directa, operando apenas 3 comutadores no punho esquerdo. O ecrã TFT de 5” a cores prima pelo seu display simples e informativo, sem querer inventar a roda a nível de design, e nós agradecemos este pragmatismo nipónico. É uma pena a Suzuki não ter considerado a conectividade com os periféricos mini computadores que também servem para fazer chamadas (vulgo smartphones). Até porque grande parte da concorrência consegue ter esta tecnologia disponível.
Antes de falarmos do ex-libris desta máquina (a sua ciclística), uma nota de apreço especial para o Quick-Shifter bidireccional instalado de série. Esta peça de hardware faz toda a diferença numa condução empenhada, elevando a fluidez da mesma e fazendo brilhar o correcto escalonamento da caixa de velocidades. Outros sistemas presentes são o arranque fácil (Suzuki Easy Start System, em que basta um toque no botão de start para dar vida ao motor), e o Low RPM Assist, que aproveita o mais leve movimento na embraiagem (de dupla função, assistida e deslizante) para elevar as rotações do motor, facilitando os arranques.
Outra das peças de engenharia desenvolvidas de raíz, é o novo quadro de duplo berço, criado especificamente para este bloco motriz que é comum à nova trail com o mesmo motor. O braço oscilante em alumínio foi desenvolvido especificamente para a GSX-8S, assim como o sub-quadro (pintado no tal Azul Cósmico). De ergonomia simpática e bastante espaçosa ( 810 mm de altura do assento ao solo, tendo este um design e construção “confortavelmente desportivo”), a afinação mais desportiva da suspensão (Forquilha KYB invertida com 43mm de diâmentro e 130mm de curso; e mono amortecedor KYB com ajuste de précarga) rapidamente lhe indica o propósito. O andamento sobre as estradas mais partidas não é desconfortável graças à boa leitura das irregularidades no curso inicial da forquilha, sendo que o amortecedor traseiro tem um comportamento um pouco mais rude neste cenário. Nos pisos mais irregulares conseguimos perceber onde está o cerne do trabalho ciclístico desenvolvido, e a maneira segura como a GSX8S lida com estes eventos, conquistando-nos de sobremaneira.
O grande truque ciclístico, para o equilíbrio dinâmico, tem a ver com a sua geometria. A generosa distância entre eixos (1465 mm) não lhe retira agilidade, mas torna-a menos reactiva aos movimentos mais bruscos, e até porque a suspensão de afinação mais desportiva ajuda a ganhar confiança na frente, logo, a sensação de aprumo é constante. A GSX-8S tem na sua estabilidade o argumento ideal para conseguirmos puxar pelo seu lado mais divertido. A sua agilidade surge a meio da curva, onde mantém a linha cegamente, mas com margem de manobra para possíveis correções.
A travagem (duplo disco dianteiro de ø310 mm mordido por pinça radial Nissin de 4 pistões e disco de ø240 mm mordido por pinça Nissin) eficaz e bastante modulável, ajuda-nos a preparar as entradas em curva.
Embora não tenha uma direcção que funcione à velocidade do pensamento, a sua precisão é garantia de que vamos acertar nos pontos que queremos, e este é um dos maiores elogios que lhe podemos fazer. A confiança na sua previsibilidade é ajudada pelos Dunlop RoadSport 2 (120/70 R17 no eixo dianteiro e 180/55 R17 no eixo posterior), entregando bastante feedback ao condutor. Lembra-se de termos ficado surpreendidos com o facto de podermos desligar o controle de tracção em andamento? A GSX-8S é aquele tipo de moto que dá gosto desligar o seu cérebro digital para lhe tentarmos descobrir os limites, uma clara demonstração da sua boa comunicação mecânica com o condutor.
Nas toadas mais tranquilas, agradecemos os baixos consumos (conseguimos fazer facilmente médias abaixo dos 5 litros/100 km, para um depósito de 14L), e os 202 Kg a cheio não se sentem exagerados nas manobras a baixas velocidades. A Suzuki propõe malas laterais semirígidas e um deflector frontal, para quem quiser fazer de Chaves a Faro pela nossa N2…
A Suzuki GSX-8S aparece de mansinho num dos segmentos mais concorridos do mercado. Os valores motrizes e a electrónica, estão a par das concorrentes, mas mesmo não tendo conectividade com o smartphone, o Quick-shifter de série é muito bem vindo. É uma moto sólida e consistente, e a sua entrega a baixos e médios regimes fazem dela uma máquina que gosta mais de rolar embalada do que propriamente aos gritos. Os quase 9 mil euros (8.999 €) por ela pedidos colocam-na ligeiramente acima das rivais mais directas, e teremos de fazer um comparativo para o tal épico jogo das diferenças. Uma coisa é certa, a sensação geral de um dia bem passado aos seus comandos, mostrou-nos que faz jus à expressão: “Moto que nunca mais acaba!”; dando-nos tudo aquilo que lhe pedimos. E este Azul ao vivo é absolutamente fantástico. Teremos aqui a simbiose perfeita entre razão e emoção?
Equipamento:
- Capacete: Nolan N80-8 50th Anniversary
- Blusão: REV’IT! Hyperspeed Air
- Luvas: REV’IT! Chevron
- Calças: REV’IT! Lombard 3 RF
- Botas: TCX RO4D WP
andardemoto.pt @ 19-6-2023 17:30:03 - Texto: Pedro Alpiarça
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