Teste Indian FTR Carbon R - Flat tracker Gourmet

A terceira geração da moto mais desportiva da Indian, está melhor do que nunca. Quando se aperceberam da boa receptividade do mercado em relação à edição especial, na Indian deram luz verde à produção ilimitada da Carbon R, nada mais do que uma FTR  com equipamento premium e um toque de exclusividade. 

andardemoto.pt @ 7-11-2023 07:00:00 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte

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Indian FTR R Carbon | Moto | FTR

Começo por vos dizer que tive de me refrear no título. Após uns dias épicos a rolar com a FTR Carbon R, muitas foram as analogias que me surgiram para descrever esta moto, umas mais estapafúrdias que outras. “Hambúrguer com Foie Gras” esteve quase a vencer…  Para quem não sabe, “Foie Gras” é o fígado de um pato que foi alimentado até à exaustão, e é considerado uma iguaria que pode elevar o nível a qualquer prato (ou até mesmo, ser consumido isoladamente). Serve então este pormenor gastronómico para dar o mote deste teste. Uma rude flat-tracker americana cheia de carbono e com umas soberbas suspensões Ohlins. Um enorme culturista a beber um chá de Tília. Um Pit-Bull vestido com tutu cor-de-rosa…  Escolham…

A primeira impressão é absolutamente esclarecedora. O volume das formas é patrocinado pelo enorme bloco em V de 1203 cc, dominando todo o enquadramento. O depósito pequeno enaltece este facto, e toda a estrutura em treliça do quadro e braço oscilante também. Engenharia americana, sem rodeios nem rodriguinhos. A vasta quantidade de carbono dá-lhe um toque de sofisticação e confunde-nos os sentidos com uma suposta sensação de leveza. Esta é uma moto com M grande, e não tem medo de o afirmar, de tal forma que estes pormenores dedicados à sua riqueza inercial (num claro propósito de eficácia), prepara-nos para uma experiência de condução diferente. A forquilha dourada e o clássico reservatório do monoamortecedor traseiro (diz mesmo “advanced suspension technology designed for Indian”), têm o crivo sueco de tecnologia de ponta no que toca a suspensões, e os enormes discos de travão ostentam um sistema com sotaque italiano. Nesta altura já soltei umas quantas pinguinhas na roupa interior…tal não é o tamanho da excitação. A Indian FTR R Carbon é um colosso, com um impacto visual fortíssimo.


Utilizando o arcaico processo de rodar uma chave na ignição (graças a Deus, existem purismos que não se perdem), damos vida ao motor. O malfadado Euro 5 não consegue escamotear a sua alma, e uma vez acordado, resmunga veementemente com todo o seu carácter. Estamos na presença de uma arquitectura bicilíndrica em “V” refrigerada a água, com sotaque americano e, por mais civilizado que tente ser, deixa sempre escapar algumas notas rudes. 

A posição de condução é claramente desportiva, o largo assento apresenta-se alto, e o corpo projecta-se no sentido de controlar o eixo dianteiro. Esperamos intermináveis segundos até que o redondo TFT colorido ganhe vida, e quando assim acontece, a informação disponível surge bem desenhada. Não tenho nada a apontar em relação ao design nem à interacção, mas pormenores como a sobreposição do relógio em relação ao mapa de condução escolhido mereciam melhor cuidado. De resto, a possibilidade de navegação é bem vinda (com app dedicada), assim como o facto de ser um ecrã sensível ao toque. Temos sempre de resistir à tentação de “brincar” com o mesmo em andamento, retirando uma mão do guiador, apesar de haver um comutador no punho, para esse efeito. 


Todos os comandos têm um toque viril e contextual com a máquina em questão. A embraiagem não nos penaliza em demasia no trânsito e a ausência de um quick-shifter faz-nos lembrar que estamos na presença de uma máquina com um carácter muito próprio, com uma agenda nada subtil. A FTR faz-me sentir feio, porco e mau, sendo que todos estes adjectivos são altamente lisonjeadores pela sua antítese real. Define-se como durona, mas destrói corações com a sua classe.

A nível da electrónica disponível, temos controlo de tracção, três mapas de condução (Chuva, Padrão e Desportivo), e um cilindro traseiro que se desliga quando percebe que estamos prestes a cozinhar as partes pudendas. 

O accionamento deste sistema é tão subtil que mesmo fazendo uns largos quilómetros em cidade, nunca me apercebi de tal efeméride mas, em boa verdade, nunca me senti desconfortável “térmicamente”.

Se esta é uma moto que deriva do mundo dos circuitos ovais em terra batida, no mundo real a sua postura consegue ser estranhamente pacífica. O poderoso V2 (que debita 123 cv e 118 Nm) é complacente com as baixas velocidades, servindo-se da sua disponibilidade infinita nas rotações iniciais para despachar serviço. Muito embora o seu peso não seja recordista (235 Kg com todos os líquidos), existe uma boa distribuição de massas, permitindo uma manobrabilidade razoável no contexto citadino. O refinamento das suspensões (totalmente ajustáveis em ambos os eixos) fazem desaparecer quaisquer receios de enfrentar as armadilhas da urbe, tal qual um surpreendente tapete mágico. Mas esta Indian não é uma cruiser, e a estrada aberta é o seu habitat natural…


“Agarrar o touro pelos cornos”, é uma expressão que hoje em dia pode ser mal entendida pelos mais susceptíveis, mas acreditem que faz todo o sentido quando tentamos retirar todo o sumo desportivo que esta moto oferece. 

Quando o acelerador se torna mais feliz, e as rotações vivem dos médios regimes para cima, a FTR transforma-se num animal selvagem. Não sendo brusca nas reacções (muito graças ao brilhantismo das Ohlins), também não tem falinhas mansas no trato. Há toda uma fisicalidade que tem de ser exacerbada para lhe indicar a nossa intenção. A travagem (Sistema Brembo com duplo disco dianteiro de diâmetros de 320mm na roda dianteira e disco de 260 mm na posterior, tem potência e tacto, e quando dissipamos velocidade na entrada da curva, damos por nós de cotovelos levantados como se estivessemos a pilotar uma moto de enduro. Assim mesmo, ridiculamente optimistas a tentar ganhar controlo. Há uma estabilidade inerente ao bom funcionamento do chassis, mas a agilidade (especialmente a inserção em curva) tem de ser trabalhada. Quando lhe apanhamos o jeito, conseguimos navegar nesta fronteira do desequilíbrio, jogando com a inércia para termos margem de manobra. No fundo, o gozo está em acertarmos no timing das transferências de massa, e respeitarmos o seu ritmo. Nem quero imaginar o que era ter uma condução rápida nesta moto com a original jante de 19 polegadas... 


As saídas de curva são escandalosamente divertidas, sobretudo quando conseguimos abrir todo o gás e aproveitamos o magnifico coice com que este motor nos castiga, bruto sem ser rude, e entusiasta sem ser fanfarrão. Rapidamente nos habituamos à ausência do quick-shifter, pois o processo de passagem de caixa (bastante directa e precisa) permite-nos “voltar à carga” gloriosamente. 

Só não conseguimos passar horas neste processo, porque rapidamente ficamos sem gasolina…

A Indian FTR Carbon R é uma moto única. Dá seguimento a um pedigree desportivo que nasce das pistas com pó em vez de asfalto! Tem sal, atitude, esbanja carácter. O orgulho na sua família dá-lhe a exclusividade que arrasta tantos fãs empedernidos, e a sua qualidade ciclística apoia-se nos equipamentos de luxo que ostenta. 

É uma peça de engenharia que apela sempre mais ao coração do que à razão, mas os seus argumentos não se esgotam quando está parada, é preciso conduzi-la para perceber toda a sua envolvência única. A combinação de Ohlins, Carbono e um V2, devia estar no menu de degustação de todos os motociclistas com bom gosto…

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