Teste Honda CB650 R E-Clutch: A embraiagem mágica
A Honda foi sempre pioneira no desenvolvimento de novas tecnologias ao serviço das duas rodas. Aproveitando o restyling das suas desportivas tetracilindricas de média cilindrada, a marca da asa dourada surpreendeu o mundo com o aparecimento da E-clutch, um novo sistema de embraiagem automática electrónica. À boleia da naked CB 650 R, vamos testá-la.
andardemoto.pt @ 18-10-2024 07:30:00 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte
Imaginemos a seguinte receita. Uma embraiagem dupla (DCT), um sistema de quick-shifter e uma caixa de velocidades convencional que foram cuidadosamente misturados e colocados no clássico forno de um bloco motriz tetracilíndrico.
O resultado é a nova E-Clutch, uma embraiagem electrónica que nos fará descansar a mão esquerda para todo o sempre. Isto é…se assim o desejarmos.
Imaginar um mundo onde podemos ter o controlo das mudanças engrenadas com o habitual selector de pé, sem nunca deixarmos o motor ir abaixo nos momentos de maior distracção (ou de pura nabice) é algo saído de um livro de magia do miúdo com o raio da cicatriz na testa. Adiante…
A nova Honda CB 650 R foi um dos modelos escolhidos para dar luz a esta inovação. Na verdade apenas passou por um ligeiro restyling estético (no farol dianteiro, farolim traseiro e nas entradas de ar junto ao depósito) assim como um remapeamento do motor para melhorar a entrega nos baixos regimes, algo que a arquitectura deste bloco sempre agradece. Outro dos melhoramentos foi o mostrador digital TFT colorido (com capacidade de ligação ao smartphone via app dedicada) já conhecido nas novas Hornet e Transalp.
A razão pela qual a marca da asa dourada decidiu mostrar esta inovação numa plataforma tão intemporal, deve-se sobretudo à suavidade da sua entrega. Esta tecnologia acaba por se revelar bem mais simples do que o digital apelido possa indiciar.
Existem dois pequenos motores que fazem actuar os pratos de embraiagem de acordo com parâmetros específicos: posição do acelerador, mudança engrenada, pressão do pé no selector e velocidade da roda. O sistema em si apenas acrescenta mais 2 Kg ao peso total da moto e o mesmo fica posicionado (de modo pouco protuberante) no lado direito do motor, por cima da tampa da embraiagem.
O resultado práctico desta inovação é muito mais intuitivo do que possa indiciar a complexidade do seu conceito. Basta esquecer a manete esquerda. A primeira velocidade engrena-se com o motor a trabalhar (na primeira vez, a medo, obviamente), e aceleramos para dar inicio ao movimento. As restantes passagens caixa são feitas adoptando o principio de um quick-shifter.
Mas existem aqui pormenores subtis que têm bastante interesse. Em toda a experiência conseguimos perceber o requinte tecnológico de sentirmos a embraiagem a ser efectivamente utilizada. Numa subida sentimos o deslizar da mesma para suavizar o arranque, tal como o faríamos manualmente, prolongando o “ponto de embraiagem”. Se pararmos com outra velocidade engrenada que não a primeira, o sistema não deixa o motor morrer e avisa-nos, de forma bastante clara no mostrador, que temos de reduzir as mudanças. Até podemos sentir a embraiagem a trabalhar quando rolamos em 2a quase parados, situação bastante comum quando manobramos no meio do trânsito. Outra das epifanias que descobrimos foi a possibilidade de podermos engrenar uma mudança abaixo com o acelerador parcialmente aberto, numa situação de ultrapassagem por exemplo (um quick-shifter convencional não o deixa fazer). Genialmente simples. A qualquer momento, podemos accionar a manete e tomar conta dos acontecimentos ou até mesmo desligar o E-Clutch no menu interno.
A CB 650 R ganha uma nova dimensão com esta tecnologia. O seu motor tetracilíndrico, com a sua identidade própria, está cada vez mais isolado. O mundo é agora dos bicilíndricos. Mas a sua falta de urgência na resposta é compensada com uma linearidade ímpar, que dá muito gozo ao ser explorada até às mais altas rotações. E o som que emana é absolutamente sagrado.
O seu conjunto ciclístico acompanha esta desportividade latente com a cerimónia adequada, confortável que baste sem deixar de ser acutilante quando necessário.
Até a posição das pernas mais encolhida, dá-nos a liberdade de escolhermos o momento de sairmos fora da moto para curvar, sem que se sinta estranheza corporal nas alturas em que temos de nos portar decentemente.
A qualidade de construção está uns furos acima da concorrência e os pormenores continuam a fazer a diferença (de salientar o bonito conjunto de colectores e os tons cobre utilizados no motor).
O novo sistema E-clutch da Honda é muito mais do que iniciar o movimento ao estilo de um DCT, e passar de caixa com um Quick-shifter. O cérebro electrónico consegue ter a sensibilidade de utilização convencional da embraiagem.
Gostei bastante e surpreendeu-me, confesso. Por mais 300€ é sem dúvida uma mais valia, sobretudo se pensarmos que equipar o modelo com um convencional quickshifter custará quase o mesmo (250 €) sem ter as mesmas vantagens dinâmicas e práticas. Estimada Honda, venham mais modelos com E-Clutch por favor, nós ficámos fãs…
andardemoto.pt @ 18-10-2024 07:30:00 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte
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