70 anos de capacetes AGV
A História da AGV funde-se com a própria história e a evolução dos capacetes de motociclismo. Fique a conhecê-la.
andardemoto.pt @ 16-1-2016 17:06:17
Numa terra de sapateiros e de fabricantes de marroquinaria, quase todos apaixonados pelo ciclismo, Gino era um jovem contabilista que, em 1945 decidiu tornar-se empresário. Juntamente com dois sócios começou a fabricar dois tipos de produtos:
- Capas para selins das bicicletas, vendidas sob a marca FAB
- Capacetes para os ciclistas, comercializados sob a marca Robic.
Ainda em 1946 a AGV reposicionou-se comercialmente e começou a dirigir-se ao novo mercado das motos, ou melhor, das scooters, construindo assentos e encostos para Vespas e Lambretas que entretanto começavam a conquistar o mercado.
Nesse mesmo ano Gino conheceu Luciana Morando. Casou-se com ela em 1947 e envolveu-a na sua empresa, onde ele, sozinho, além de gerir, ia também vender os seus produtos para Milão, tendo conseguido aumentar a produção de 20 assentos para 700 unidades por semana.
O primeiro capacete de motociclismo AGV data de 1947.
Amisano tinha visto que a maioria dos pilotos de motos protegiam as suas cabeças com gorros de pele, semelhantes aos usados pelos aviadores. Raros, os mais sortudos usavam aquilo que ainda hoje é conhecido como “pudding basins” ou seja, tigelas de pudim, (em português seriam os "penicos") fabricados pela Cromwell, em Inglaterra.
Construídos com diversas camadas de tecido de algodão e fibras de coco, que depois de embebidas em resina e prensadas, eram finalmente impermeabilizados com laca da China. o seu propósito era proteger do frio e das pequenas pedras projectadas pelos outros veículos, e não tanto como protecção em caso de acidente.
Mas os primeiros capacetes para moto da AGV eram fabricados completamente à mão, em pele, que era esticada sobre moldes de madeira que Gino tinha pedido emprestados a Borsalino, o famoso chapeleiro, também ele da região de Alessandria. Depois de formados, os “barretes” eram secos num forno, durante uma hora, a 50º C, para endurecerem. Posteriormente eram pintados. A produção inicial limitava-se a cinco unidades por semana.
Pioneiro no design de capacetes, Gino fez experiências sucessivas começando com calotas fabricadas em feltro e amido, e mais tarde em matérias compostas alternativas como papelão prensado, fabricado exclusivamente para si.
Não era o material adequado, já que amolecia com a chuva e enrijecia demasiado ao sol, ficando quebradiço. Mas, em condições normais, garantia boas propriedades de absorção de impactos. Isto apesar de nessa época não haver testes nem normas de segurança!
O passo seguinte na evolução dos capacetes AGV foi a fibra. Por volta dos anos cinquenta, as calotas exteriores eram fabricadas com fibras impregnadas de resina que eram posteriormente moldadas e endurecidas quimicamente, com recurso a um catalisador. Todo o processo era manual, e semelhante ao que na época era usado na construção de iates.
Em 1954 nasce o primeiro capacete italiano moderno, fabricado em fibra de vidro. As calotas eram inicialmente fabricadas pela mesma empresa que produzia os painéis frontais em fibra para os Piaggio Ape.
Foi o nascimento do modelo 160, que ainda assim continuava a ter o formato das “tigelas de pudim”, com um arnês de fita cruzada no seu interior. Mas foi um verdadeiro sucesso. O primeiro piloto a usá-lo foi Carlo Bandirola, da escuderia da MV Agusta, que o fez sem qualquer contrapartida financeira.
O primeiro capacete “Jet” começou a ser fabricado em 1956, impulsionado pelo sucesso da sua apresentação no London’s International Motor Show de 1955. Inspirado nas linhas dos capacetes dos pilotos de “caças”, as suas linhas aerodinâmicas e a maior protecção fizeram furor.
Novamente Carlo Banderola, secundado por outros pilotos, começou a depender exclusivamente de Gino como fornecedor de capacetes. Era publicidade praticamente sem custos já que, naquele tempo, os pilotos apenas pediam um par de capacetes decorados e pintados com as suas cores.
Mas em 1958, a AGV foi a primeira marca de capacetes a usar as corridas de motos para fazer publicidade. O génio de “Ginetto”, como era conhecido Gino no seio dos pilotos, decidiu colocar nos circuitos de corrida telas publicitárias bem identificadas com a sua marca e com os seus produtos, nas curvas mais fotografadas.
Em 1967 surge o primeiro contrato publicitário com um piloto. Giacomo Agostini era o grande piloto da época. Depois de assinar um contrato de três milhões de liras com Gino, “Ago” começou a usar um capacete AGV.
Ficou célebre o capacete modelo 160, com pintura própria, nas cores da bandeira italiana e com o logótipo da MV Agusta bem destacado na frente. As vitórias por si alcançadas ao serviço do Conde Agusta foram um factor muito importante na divulgação da marca AGV.
Em 1968, mal Gino viu os primeiros capacetes integrais a serem usados na América (a Shoei lançou o SR-Z e a Bell lançou o Star nesse ano) decidiu imediatamente começar a produzi-los em Itália. Mas não esperava a resistência que iria ser posta à utilização desse novo conceito.
Apesar de se viverem anos de grande progresso tecnológico, o mundo das corridas mantinha-se muito conservador. Os pilotos mais velhos, sobretudo os ingleses, declaravam em entrevistas que os capacetes integrais estavam longe de ser seguros pois diminuíam o campo de visão e o sentido da audição. Os mais extremados defendiam que os verdadeiros motociclistas deviam usar na cara as marcas dos seus acidentes!
O primeiro piloto italiano a usar um capacete integral, obviamente um AGV, terá sido Alberto Pagani, em Imola, no GP das nações, mas só em Setembro de 1969, prova em que Agostini não participou com a sua MV Agusta devido a, pela primeira vez, o circuito ter ficado excluído do campeonato pela federação. Como seria de esperar, Pagani venceu a prova de 500cc.
Assim, a primeira exibição pública do primeiro capacete integral AGV, o X-80, terá sido um sucesso imediato.
Foi então que Agostini, apesar de relutante, começou a usar capacete integral. De início usou um modelo standard, apenas pintado com as suas cores.
Em 1971 deu-se o boom na utilização dos capacetes integrais, e aí começou a sua produção em massa.
O AGV X-3000 foi desenvolvido precisamente com a ajuda de Agostini, que ia dando conselhos. Como resultado, este novo capacete apresentava a queixeira menos saliente, que permitia ao piloto encostar mais a cabeça ao depósito durante as rectas, enquanto que na zona da nuca também era ligeiramente mais subido, para permitir uma maior liberdade de movimentos ao piloto.
Em 1977 nasce a Clínica Móvel do Dr. Claudio Costa. Aquele que é literalmente um hospital móvel, e que ainda é uma imagem visível em todos os Grandes Prémios actuais, só foi possível devido ao patrocínio que recebeu de Gino Amisano. Com um donativo de 27 milhões de liras, a AGV foi a primeira e a única patrocinadora a acudir à chamada do médico.
Em Fevereiro desse ano, em França, perto do circuito de “Le Castellet”, foi apresentada ao mundo a pequena carrinha Volkswagen TL 35, completamente equipada para emergência médica, e que exibia bem visível o logo da marca AGV.
Foram nomes míticos como Giacomo Agostini, Barry Sheene, Kenny Roberts, Johnny Cecotto, Angel Nieto, Marco Lucchinelli, Franco Uncini, Fausto Gresini, Randy Mamola e Luca Cadalora, e os de outros tantos pilotos de primeira linha de outras modalidades do desporto motorizado, como a F1, que catapultaram a AGV para a fama.
E nos dias de hoje, outros campeões continuam a honrar a marca com o seu prestígio, como é o caso do nove vezes campeão do mundo, Valentino Rossi.
Gino Amisano faleceu em 2009. Ficará para sempre conhecido como "il re dei caschi" - O rei dos capacetes.
A marca AGV, depois de ter sido propriedade de um fundo de investimento belga do Imag Group, voltou para Itália ao ser comprada, em 2007 pela Dainese.
“Este é um desafio que carrega uma imensa responsabilidade, mas esta união também cria uma infinidade de oportunidades para a AGV e para a Dainese. A nossa equipa está comprometida em acrescentar valor e prestígio ao lendário nome AGV."
Lino Dainese
(Fundador da Dainese em 1972)
Abaixo pode ver imagens da História da AGV
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