
Márcia Monteiro
Marketeer, “Mulher do Norte” e motociclista em estrada e fora dela (Off Road).
OPINIÃO
O nosso Templo
Há uns anos, o meu pai, motard há mais de 40 anos, fundador de um Moto Clube e também responsável pela minha paixão pelas motas desde os meus tenros 12 anos, montou uma prateleira em casa (mais propriamente na garagem).
andardemoto.pt @ 3-12-2018 16:01:05 - Márcia Monteiro
Todos os fins de semana, após o regresso de mais uma concentração motard, ele colocava as lembranças trazidas desse encontro... emblemas de diversos clubes motards de norte a sul do país, tshirts que eram oferecidas, garrafas de vinho, fotografias, molduras e outras lembranças que aos poucos e poucos tornaram aquela prateleira demasiado pequena para tantas memórias felizes. Também eu comecei a contribuir com objetos nessa prateleira e aos poucos fui colocando todas as minhas memórias felizes incluindo as minhas recordações, os trofeus, os coletes de participação em eventos motociclistas e outras lembranças que ao longo dos anos contam um pouco da minha história.
Atualmente, aquela prateleira transformou-se em mais 4 que percorrem toda a parede da garagem de uma ponta à outra.
Aquele é o nosso “Templo”.
Do mesmo modo que os católicos rezam na igreja, os budistas e os hindus meditam nos templos e os islâmicos nas mesquitas, porque é que nós, motociclistas/motards, não podemos fazer o mesmo? Se existem doutrinas associadas a questões religiosas, políticas ou filosóficas, isso significa que existe um conjunto de regras e valores que servem de base para esse sistema e que são defendidos de forma unânime por um grupo de pessoas com interesses comuns. Não é isso que nós fazemos também? Nós também podemos ter uma doutrina no mundo motard e também nos podemos servir de um espaço que não é uma igreja nem uma mesquita mas... é um “Templo”.
No nosso “Templo”, para além de ser o espaço onde as nossas motas descansam em segurança, é também um espaço de muitas memórias felizes, de recordações que guardamos para toda a vida, de momentos e de pessoas que nos marcaram e que de alguma forma contribuíram para aquilo que somos hoje. Cada um daqueles objetos conta um pouco da nossa história e é impossível ficar indiferente às memórias que nos saltam da mente a uma velocidade fugaz de cada vez que os olhamos.
Naqueles dias em que não consegui andar de mota, seja pelo que motivo for, eu vou ao nosso “Templo”. Entro naquele espaço sereno, acendo as luzes e olho para as nossas prateleiras. Pego numa lembrança e recordo-me com todos os detalhes daquele passeio de mota, das pessoas que estavam comigo, das conversas que tivemos e das aprendizagens adquiridas... em seguida, pego naquela fotografia e lembro-me, exatamente como se tivesse sido hoje, daquele convívio, das pessoas e dos momentos. Depois pego num dos meus coletes, fecho os olhos, sinto-lhe o cheiro e sei exatamente quando foi a última vez que o vesti, com dia, hora e local marcado. Suspiro...
Volto-me para as motas e interiormente pergunto-me: qual delas quero ouvir?
Rodo a chave de uma das motas, ela acorda e acende as luzes, aperto o botão e ela canta... oh e como ela canta bem... o nosso “Templo” enche-se com a melodia do motor e todas aquelas memórias são sentidas de forma cada vez mais profunda e genuína. Mas não é apenas o som que apura as minhas memórias, também o cheiro o faz de forma muito intensa... e como eu adoro o cheiro de motas (sei que é estranho mas existem motociclistas/ motards com este sentido olfativo das motas muito apurado). E deixo-me ficar por ali... 5 minutos, 10 minutos, às vezes 15 minutos, completamente anestesiada e transportada para uma outra realidade. Quando começo a ouvir a ventoinha da mota a rodar a toda a velocidade, sei que o meu tempo de “meditação” está quase a terminar. Desligo a mota, vislumbro uma vez mais o nosso “Templo”, apago as luzes e fecho o portão da garagem.
andardemoto.pt @ 3-12-2018 16:01:05 - Márcia Monteiro
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