Os e-fuels serão o fim dos veículos elétricos?

Os e-fuels são combustíveis sintéticos criados através de um processo químico e produzidos a partir de fontes renováveis de energia. Resultam da combinação química de hidrogénio gasoso (H2) e dióxido de carbono (CO2) e podem ser usados em todos os veículos que funcionem com gasolina, gasóleo, ou GPL, sem qualquer alteração.

andardemoto.pt @ 21-8-2023 06:33:00

A vantagem dos e-fuels passa pelo facto de, ao contrário de outras soluções de mobilidade ecológicas e sustentáveis, puderem utilizar a rede existente de abastecimento e transporte de combustíveis fósseis, sem exigirem uma adaptação dos motores de combustão interna nem dos respetivos veículos.

Além disso, estes combustíveis sintéticos que não são extraídos do petróleo, podem ser completamente neutros em emissões se forem produzidos unicamente com recurso a energias renováveis. Por isso os diversos produtores de combustíveis sintéticos estão introduzindo progressivamente o uso de energias renováveis na produção dos seus produtos, o que os tornará ainda mais sustentáveis e perto da neutralidade carbónica.

O método de fabrico dos e-fuels consiste em sintetizar o hidrogénio e o dióxido de carbono através de reações químicas que formam diferentes tipos de combustíveis. Existem vários processos possíveis e todos eles necessitam de eletricidade, que deverá ser proveniente de fontes renováveis, como a solar ou a eólica, bem como água e dióxido de carbono.
A água é usada para produzir hidrogénio através de processos de eletrólise e o dióxido de carbono é extraído da atmosfera ou reciclado através de processos industriais a partir de derivados de resíduos municipais ou biomassa não alimentar.

O custo de produção dos e-fuels depende do preço da eletricidade renovável, do custo do dióxido de carbono, do nível de escala e eficiência da respetiva produção, dos impostos e subsídios aplicados, etc. Prevê-se que os e-fuels possam vir a custar entre 0,8€/l e 1,6€/l em 2030.


A pegada ecológica dos e-fuels é medida pelo impacto ambiental que a sua produção e consumo têm sobre os recursos naturais. Os e-fuels podem ser neutros em emissões se forem produzidos unicamente com recurso a energias renováveis, pois o dióxido de carbono emitido na sua combustão é igual ao que foi capturado na sua produção.

No entanto, os e-fuels também podem ter impactos negativos se, por exemplo, forem produzidos com recurso a energias fósseis ou se implicarem o uso excessivo de água ou demasiada ocupação de solo.

Os principais tipos de e-fuel são os seguintes:

- E-diesel: é um combustível sintético produzido a partir da combinação de hidrogénio e dióxido de carbono, que pode ser usado em motores a diesel sem necessidade de qualquer adaptação do motor. O e-diesel tem uma energia específica de cerca de 43 MJ/kg, semelhante ao diesel derivado do petróleo.

- E-gasolina: é um combustível sintético igualmente produzido a partir da combinação de hidrogénio e dióxido de carbono, que pode ser usado em motores a gasolina sem necessidade de adaptação do motor. A e-gasolina tem uma energia específica de cerca de 44 MJ/kg, semelhante à gasolina fóssil.

- E-gás: é também um combustível sintético produzido a partir da combinação de hidrogénio e dióxido de carbono, que pode ser usado em motores que consumam gás natural, sem necessidade de adaptação. O e-gás tem uma energia específica de cerca de 50 MJ/kg, superior à do gás natural.

Existem várias empresas que têm vindo a desenvolver combustíveis sintéticos, aprimorando o processo da sua criação. Alguns exemplos são a Bosch, uma das grandes fornecedoras de componentes para a indústria automóvel, que prevê que o uso alargado de combustíveis sintéticos nos transportes em geral, poderá ser responsável pela supressão de um valor considerável em termos de emissões de CO2. 


Também a Audi, uma marca do Grupo Volkswagen e que é dona da Ducati, tem projetos a decorrer nesse sentido com a Etogas, a Joule, a Sunfire, a Global e a Bioenergy, e faz parte da eFuel Alliance, uma iniciativa que reúne vários parceiros do setor energético, automóvel, industrial e académico para promover as vantagens e benefícios dos e-fuels junto dos decisores políticos, autoridades, público especializado e dos media.

Estes combustíveis sintéticos podem representar uma oportunidade para os fabricantes que apostam nos motores de combustão interna, pois permitem reduzir as emissões de CO2 sem necessidade de alterar os veículos ou a infraestrutura de distribuição actualmente existente.

Os e-fuels podem ser consumidos por qualquer motor de combustão interna que utilize combustíveis líquidos ou gasosos, sem necessidade de adaptação ou modificação. Isto significa que os e-fuels podem ser usados em todos os veículos e sistemas de aquecimento que funcionam com gasolina, gasóleo, gás natural, GPL, etc. e podem também podem ser misturados com os combustíveis fósseis convencionais, aumentando a sua sustentabilidade ambiental.

Os e-fuels ainda não estão disponíveis comercialmente em larga escala, pois ainda estão em fase de desenvolvimento e demonstração. No entanto, a Repsol anunciou recentemente que, até ao final de 2023, 50 dos seus postos de abastecimento na península Ibérica (10 em Portugal) irão disponibilzar combustíveis sintéticos com uma emissão de carbono neutra, sendo que Madrid, Barcelona e Lisboa (estação de serviço de Alcochete) já contam com um desses postos de abastecimento.

A Audi também anunciou que irá produzir anualmente cerca de 400 mil litros de e-diesel na sua fábrica em Laufenburg (Suíça) a partir de 2023. A Bosch também prevê que grandes volumes de e-fuels possam chegar ao mercado até meados da década de 2020.


No desporto, laboratório tecnológico por excelência, os e-fuels estão a ser testados em condições extremas e intensivas, com vista a uma utilização generalizada futura.

A Dorna está a trabalhar com os fabricantes e fornecedores de combustível da MotoGP para desenvolver uma seleção de combustíveis sustentáveis de substituição direta, o que significa que podem ser usados em todos os veículos quotidianos de todo o mundo. E como tal, até 2024, o combustível em todas as classes da MotoGP incorporará no mínimo 40% de origem não fóssil, e até 2027 será 100% de origem não fóssil.

Por seu lado, e ao contrário dos seus congéneres japoneses que apostam na combustão a Hidrogénio, os fabricantes europeus estão muito interessados no potencial dos e-fuels para diminuírem a sua dependência de combustíveis fósseis ou de materiais nobres, necessários para a produção dos veículos elétricos, que exigem uma estreita relação comercial com a toda-poderosa China, detentora do monopólio de elementos raros fundamentais como o lítio e o cobalto, entre outros. 

A BMW Motorrad tem um programa em curso em parceria com a NORDOEL, a KTM tem um acordo com a Mobil, uma empresa do grupo ExxonMobil, e a Ducati, por palavras do seu CEO Claudio Domenicali numa recente entrevista, vê com bons olhos as vantagens oferecidas pelos e-fuels e afirma estar preparado para o desafio da inclusão dos combustíveis sintéticos na MotoGP.

Esta parece ser uma solução mais viável do que a queima de Hidrogénio comprimido através de injecção direta nos motores de combustão interna, cuja adaptação dos veículos e da rede de distribuição e transporte seria imperativa, devido às características do Hidrogénio. Pode saber mais sobre esse tema se clicar aqui.

Os e-fuels serão provavelmente a solução mais rápida e fácil de transferir para a prática, eliminando a gasolina atual que além da sua origem fóssil ainda incorpora bioetanol, um biocombustível que é produzido a partir de diversas matérias-primas de origem vegetal, como a cana-de-açúcar, o milho, a beterraba, etc. e que, apesar de ter um ciclo neutro de carbono, necessita de outros recursos como água, eletricidade e fertilizantes, além da extensa ocupação de solo. Mas isso é outra história!

andardemoto.pt @ 21-8-2023 06:33:00


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