As motos da "Guerra"
parte 1 de 4
As utilidades da moto são sobejamente conhecidas de todos. Seja por recriação lúdica ou transporte, no desporto ou no dia a dia, pelas suas características – leveza, agilidade, facilidade de utilização – torna-se uma “ferramenta” sem igual para o desempenho de determinadas actividades ou funções.
andardemoto.pt @ 15-12-2024 12:30:00 - Texto: Vitor Sousa
É assim na vida civil, mas também foi assim na vida militar, em especial na Segunda Guerra Mundial onde aliados e forças do eixo a utilizaram como veículo de apoio e arma táctica.
Seis modelos merecem destaque entre os que estiveram ao serviço naqueles terríveis anos de 1939 a 1945: a BMW R75 e a Zundapp KS750 pelo ‘Reich’, a Norton WD 16H e a BSA M20 nas forças armadas do Reino Unido e ‘Commonwealth’, a Harley-Davidson WLA e a Indian 741 pelos Estados Unidos.
Preâmbulo
A utilização das motos como veículo de apoio à actividade militar remonta ao início do Século XX quando os veículos equipados com motor de combustão substituíram a força animal (e a bicicleta). Fosse para transporte de carga, reboque de artilharia, transporte de tropas ou correio, o camião, o automóvel e a moto rapidamente ganharam o seu espaço na logística militar.
A primeira referência à utilização da moto ‘em combate’ remonta à Revolução Mexicana, liderada por Pancho Villa, em 1916, já a ‘Grande Guerra’ começara, mas ainda sem a participação dos EUA. Curiosamente, no ataque a Columbus (cidade americana do Novo México), o revolucionário utilizou a rapidez e a agilidade da moto para perpetrar pequenos ataques e não apenas como veículo de apoio ou transporte. Os Estados Unidos responderam e a Expedição Punitiva liderada pelo General John ‘Black Jack’ Pershing, à ordem do Presidente Woodrow Wilson, deu caça a Villa durante 11 meses (sem sucesso) recorrendo, também ela, à moto para avançar nos terrenos mais tortuosos do território mexicano. Terá sido este o primeiro grande confronto histórico entre a Indian e a Harley-Davidson (modelo J), que equipavam, respectivamente, os exércitos de Villa e Pershing? (toda uma outra história…)
A verdade é que, após este “ensaio geral”, a moto rapidamente ganhou o seu espaço por via das suas qualidades de facilidade de manobra e utilização, mecânica simples, rapidez e capacidade de superação em terrenos difíceis. Indo onde os veículos de quatro rodas, maiores e mais pesados, tinham mais dificuldade em chegar, a moto tornou-se o veículo de excelência para os mensageiros que conseguiam entregar com rapidez as ordens do Estado Maior ou do Quartel-General, nos regimentos e serviços ou, como se veio a demonstrar entre 1914 e 1918, na linha de frente, quando a artilharia inimiga cortava constantemente as linhas telegráficas.
A Primeira Guerra Mundial foi, de facto, o palco de reconhecimento da utilidade da moto ao serviço das unidades. Numa guerra eminentemente estática, de trincheiras, o serviço de mensageiro foi o mais requerido, a par do policiamento de áreas sensíveis, mas a moto provara já no México, e viria a demonstrá-lo posteriormente ainda com maior acuidade, a sua utilidade como arma táctica, equipada com ‘side-car’ para transporte de metralhadoras pesadas ou morteiros e integrada em forças de reconhecimento, raides ou ‘golpes de mão’.
As marcas, então em franco desenvolvimento, aproveitaram a guerra para um ‘boost’ de produção até aí nunca visto. Em Inglaterra, a Douglas (que viria a falir em 1957) forneceu 70.000 unidades dos seus modelos 2 3/4hp e 4hp e a Triumph cerca de 30.000 do modelo H (cuja fiabilidade lhe viria a granjear o cognome de ‘Trusty’); na Alemanha, a TWN (Triumph Werke Nuremberg, independente da casa inglesa que lhe dera origem) e a NSU, e nos Estados Unidos a Indian (mais de 50.000 unidades do modelo Powerplus BigTwin), a Harley-Davidson (cerca de 20.000 do modelo J) e a Excelsior (3.500 do modelo 19) destacaram-se nesse campo.
Este choque produtivo e o recurso à moto em condições extremas de utilização provocou, de imediato, um salto evolutivo na qualidade e na tecnologia que se viria a reflectir directamente na produção “civil” das diferentes marcas nas décadas de 1920 e 1930. Essa evolução seria de novo posta à prova a partir de 1939, com o deflagrar da II Guerra Mundial.Na segunda parte deste artigo iremos dissecar as principais “armas” das forças em confronto, começando pelas máquinas ao serviço da Wermacht (exército) e demais forças militarizadas do ‘Reich’.
andardemoto.pt @ 15-12-2024 12:30:00 - Texto: Vitor Sousa
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