Teste Harley-Davidson Street Glide Special 2017- Rainha do charme

Texto: Rogério Carmo      Foto: ToZé Canaveira
                           
A Street Glide é a recordista de vendas da marca de Milwaukee. Talvez por ser a moto mais ágil da gama Touring da Harley-Davidson, ou talvez por ser a mais charmosa, com as linhas mais cativantes, o que é certo é que ninguém lhe fica indiferente.

Se está formatado para não gostar de “ferros”, então o mais provável é que esteja a ler isto apenas por engano. No entanto continue, pois pode ser que mude de opinião. 

Se é´um daqueles motociclistas para quem as cruisers são uma demonstração do conceito de puro e duro, minimalistas e carregadas de espírito de sacrifício com recursos e conforto limitados ao essencial, provavelmente não vai gostar do que vai ler… mas continue na mesma. Pode ser que também mude de opinião.

No entanto, se por acaso gosta de motos grandes, vistosas e confortáveis, ágeis em estradas de curvas e com potência suficiente para também manter médias elevadas em grandes viagens, então continue a ler! Seguramente vai gostar!

Tudo nesta Street Glide Special de 2017 foi revisto em prol do prazer de condução. 

O novo motor “V-Twin” foi completamente redesenhado, apresentando agora oito válvulas e mais 4 polegadas cúbicas de cilindrada, e pode ficar a saber (quase) tudo sobre o Milwaukee Eight se seguir esta ligação (clique aqui).

O comportamento dinâmico da Street Glide é agora quase irrepreensível, proporcionado pelas novas suspensões que conseguem aguentar a brutal entrega de potência do “Big Twin”, e o peso do conjunto.

Na frente, a forquilha Showa garante um perfeito contacto da grande roda de 19 polegadas com o piso, e uma enorme precisão na condução. 

Na traseira, os novos amortecedores comportam-se na perfeição, e permitem uma regulação hidráulica da pré-carga, no amortecedor da esquerda, sendo necessário para o efeito remover a mala do lado esquerdo (operação agora muito mais fácil e simples devido ao novo sistema de encaixe e aperto), para se poder aceder ao manípulo de regulação.
 
Com ou sem passageiro, a Street Glide está à vontade tanto em ambiente urbano como em estradas retorcidas. A direcção é leve, mesmo a manobrar, sendo apenas necessário manter presente que é uma moto com um peso em ordem de marcha a rondar os 380kg, caso se estacione em planos inclinados.

A ergonomia também é mais reactiva, potenciando a facilidade de condução. No entanto, ou foi impressão minha, ou encontrei neste modelo menos espaço para as pernas.

A protecção aerodinâmica também é muito boa, tendo o efeito de turbulência típico da carenagem “batwing” sido manifestamente reduzido com a introdução da entrada de ar frontal.

Ainda assim, com certos capacetes, nomeadamente os abertos, notei uma considerável vibração ao rolar a velocidades pouco próprias de uma Harley-Davidson, mas que graças ao novo motor se atingem muito facilmente.

O quadro foi completamente revisto, já que o novo motor, assim como a caixa do primário, são mais estreito tornando a base do quadro também ela mais estreita.

Por isso, com ou sem passageiro, a Street Glide Special está à vontade tanto em ambiente urbano como em estradas retorcidas, e sente-se no paraíso em qualquer auto-estrada, onde se pode dar um bom uso ao controlo de velocidade automático, enquanto se desfruta de uma boa música, graças ao sistema de áudio “BOOM! Box 6.5 GT”, que além de rádio, GPS e ligação com o smartphone, consegue ler “pen drives” de música, permitindo uma fácil navegação entre todas as funcionalidades. 

Outra das grandes melhorias tem a ver com a menor largura do novo motor e do primário de transmissão.

A base do quadro ficou por isso muito mais estreita. E se para uns a grande vantagem vai ser um mais fácil acesso ao chão, para manobrar mais descansado, para outros, a maior (bem grande mesmo) vantagem, será poderem desfrutar de uma maior velocidade de passagem em curva. 

O ângulo de inclinação lateral aumentou substancialmente, sendo agora muito difícil raspar com os poisa-pés no chão.

E não podemos deixar de falar na ciclística, sem mencionar a travagem. Esta beneficia directamente do melhor comportamento das suspensões que ainda permitiu que o ABS fosse regulado de forma mais minuciosa, sendo agora bastante menos intrusivo e de accionamento muito mais suave. A mordida é potente e bastante doseável, sem ser demasiado incisiva na fase inicial.

O sistema de travagem combinada actua agora de forma muito mais suave, sendo uma grande ajuda em viagens grandes e em estradas retorcidas que exijam uma condução defensiva e grandes níveis de concentração.

De facto pode-se praticamente dispensar a utilização da manete, sendo possível controlar perfeitamente as entradas em curva (mesmo em andamentos muito vivos) apenas com recurso ao pedal direito, reduzindo o esforço e consequentemente o cansaço, garantindo ainda mais conforto ao passageiro.

Outros pormenores merecem ainda destaque. Um deles é a iluminação que apesar de não ser em LED é simplesmente soberba, com um foco potente e bastante abrangente.

A qualidade de construção também se nota substancialmente melhorada comparativamente com modelos anteriores, não se notando vestígios de oxidação nem ruidos parasitas a nenhum nível.

O sistema de fixação das malas é eficaz e fácil de usar, e o encaixe perfeito diminui significativamente os ruídos parasitas.

Para trancar a direcção já não é necessário acartar a chave própria, nem andar à procura da fechadura debaixo da coluna de direcção. A operação é agora feita no próprio selector da ignição, ali mesmo na nossa frente.

Para concluir, e tentando abster-me do facto de a Street Glide ser, agora ainda mais, um dos meus modelos favoritos da “Motorcycle Company”, esta é uma moto apaixonante, com capacidades turísticas muito acima da média, mas que devido à sua agilidade também permite “aquelas voltinhas terapêuticas” em ritmos muito interessantes e em perfeita segurança.

O que menos me agrada é a atenção que chama, tanto por onde passa como onde se estaciona, pois há sempre gente a olhar para ela e a tentar “meter” conversa. Sejam motociclistas mais experientes, sejam “wannabes”, sejam apenas “civis” deslumbrados.

Felizmente a autonomia desta “bagger” é alargada, conseguindo-se facilmente cobrir mais de 300km a “deslizar” suavemente estrada fora.