Comparativo Aprilia Tuono V4 1100 RR vs Ducati Streetfighter V4 S - Emoções em V
Colocámos frente a frente duas supernaked italianas capazes de nos deixar de sorriso rasgado sempre que aceleramos a fundo. Qual a melhor? A “veterana” Aprilia Tuono V4 1100 RR ou a novíssima Ducati Streetfighter V4 S?
andardemoto.pt @ 21-9-2020 23:38:23 - Texto: Bruno Gomes | Fotos: Luis Duarte
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aprilia Tuono V4 RR | Moto | MotosDucati Streetfighter V4 S | Moto | Streetfighter
Antes
de começar a minha análise comparativa e do caro leitor apontar o dedo e dizer
que “estas não são as rivais diretas!”, deixe-me dizer-lhe que tem toda a razão.
Mas tudo tem uma explicação.
Quando marcámos este comparativo tínhamos como objetivo colocar frente a frente
as versões melhor equipadas de cada modelo. Ou seja, a Aprilia Tuono V4 1100
Factory e a Ducati Streetfighter V4 S. Infelizmente na data em que foi possível
realizar o trabalho, a variante Factory da supernaked da Aprilia não estava
disponível.
Assim, arriscámos, e sem reservas concordámos que não poderíamos deixar de
realizar o comparativo entre duas italianas que nos deixam com as emoções à
“V-lôr” da pele, pois ao nível do motor e eletrónica a RR e a Factory não têm
diferenças.
É na ciclística que a Factory ganha outros argumentos para enfrentar a
Streetfighter V4 S. Felizmente, já anteriormente tinha testado a Tuono V4 1100
Factory, e vou dar-lhe a minha opinião sobre se essa moto é ou não melhor do
que a Ducati Streetfighter V4 S. Só tem de continuar a ler.
Tanto a Aprilia como a Ducati são os exemplos perfeitos de como a indústria das
duas rodas italiana é especialista em despertar nos motociclistas as mais
apaixonantes emoções e reações. São duas supernaked esbeltas, que não escondem
as suas intenções beligerantes de verdadeiras lutadoras de rua, com genes
desportivos que podemos traçar até às desportivas RSV4 e Panigale V4.
São pouco convencionais em alguns aspetos, e ao mesmo tempo suficientemente
versáteis para se tornarem excelentes opções para uma utilização em estrada.
Apesar do motor da Aprilia e da Ducati ser um quatro cilindros em V, a
realidade é que para além disso, pouco ou nada têm de semelhante. São motores
exuberantes.
No caso da unidade motriz da Tuono estamos perante um tetracilíndrico de 1077
cc e que apareceu em 2015. O V4 de Noale disponibiliza uns já muito saudáveis
175 cv e 121 Nm de binário, e tem vindo a ser ligeiramente refinado ao longo
dos últimos cinco anos. Com um ângulo de abertura do V de apenas 65 graus, este
V4 é ainda Euro4. Na sua mais recente evolução, o motor da Tuono V4 1100 RR
recebeu uma centralina mais poderosa. Com isso a rotação máxima subiu 500 rpm,
e o pico de potência está nas 11.000 rpm.
É um motor compacto de dimensões, pensado para centralizar massas e garantir um
equilíbrio de funcionamento ideal para reduzir as vibrações.
Já o V4 da Ducati, também conhecido como Desmosedici Stradale, tem um pouco
mais de cilindrada. Com 1.103 cc, graças ao curso do pistão ligeiramente maior
(53,5 mm vs 52,3 mm da Aprilia), o V4 de Borgo Panigale é o mais potente com
208 cv e também ganha a batalha do binário com 123 Nm.
Mas para conseguir estes números impressionantes a Ducati foi obrigada a ir
buscar mais rotações. A potência só é atingida às 12.750 rpm e o binário às
11.500 rpm. Outras características interessantes no quatro cilindros da
Streetfighter V4 S são o ângulo de abertura entre as bancadas de cilindros de
90 graus, e ainda o facto de usar cambota contrarrotante. Também a ordem de
ignição “Twin Pulse” faz com que este V4 se sinta, e oiça, mais como um V2.
Com uma vantagem de 33 cv, a Ducati Streetfighter V4 S deverá ser a grande
vencedora ao nível do motor. Mas será que estes números são capazes de nos
satisfazer?
Em condução, o que se nota é que o motor da Tuono V4 1100 RR é
significativamente mais “redondo”, mais cheio particularmente na passagem dos
baixos para médios regimes. A forma como a Aprilia espalhou o binário é mais
linear e progressiva desde as 3000 rpm, e nem mesmo no modo de condução Track a
resposta aos impulsos no acelerador se nota demasiado agressiva ou imediata.
E isso transmite confiança, podemos abrir acelerador e sentir perfeitamente o
que temos à disposição no punho direito, controlando a entrega para a roda
traseira de uma forma deliciosa.
No caso da Ducati Streetfighter V4 S a sensação com que se fica é que o
Desmosedici Stradale é um cavalo selvagem. Tem potência e binário de sobra, é
um facto, mas a forma como acedemos a esse potencial obriga-nos a puxar mais
pelas rotações para sentir realmente os anunciados 208 cv. Não deixa de ser uma
moto agradável, particularmente quando selecionamos o modo de condução Street,
o que suaviza bastante a personalidade do motor.
Em modo Sport ou Race o motor fica imediatamente mais reativo, pronto a
“atacar”. Para o meu gosto demasiado brusco. Até porque a transmissão da Ducati
é mais curta do que na Aprilia.
Desse ponto de vista, a Streetfighter V4 S torna-se mais utilizável em cidade,
pois rapidamente subimos de relação de caixa, usando o “quickshift” mais
preciso e suave do que o da Tuono, e podemos rolar facilmente a 60 km/h em 6ª
que o V4 não se vai queixar. Mesmo na entrada em rotundas, que por exemplo na
antiga Streetfighter V2 obrigava a reduzir para primeira e jogar com a
embraiagem, no caso da Streetfighter V4 S isso não é problema.
O mesmo não se pode dizer da Aprilia Tuono V4 1100 RR, que com uma transmissão
longa obriga a trabalhar a caixa e a embraiagem para evitar alguns soluços a
baixa velocidade.
Ainda assim, e analisando de uma forma geral o caráter de um e de outro motor,
a minha escolha recai sobre o V4 da Tuono, por ser mais polivalente e polido
para uma condução em estrada, e transmitir mais confiança. No meu teste à
Ducati Streetfighter V4 S adorei o motor, e mantenho a opinião, mas quando
colocado lado a lado com o V4 da Tuono o seu caráter selvagem acaba por
penalizar.
O quadro dupla trave em alumínio da Aprilia é uma aposta segura e que ajuda a
equilibrar a balança. Nascido do mundo da competição, pela sua geometria e
características mostra uma solidez a toda a prova, e garante que o conjunto se
mantém estável mesmo quando a velocidade aumenta.
A Tuono é uma moto que se deixa conduzir de uma forma fácil. Quase nos
esquecemos que até há bem pouco tempo era a mais potente supernaked do mercado.
O seu quadro rígido transmite imensa informação mesmo quando a conduzimos no
limite, revelando uma previsibilidade que impressiona, o que se traduz em
confiança enquanto atacamos a entrada em curva.
No departamento das suspensões, a Aprilia não está mal equipada. Esta variante
RR conta com forquilha Sachs mecânica, totalmente ajustável manualmente,
enquanto na traseira o monoamortecedor Sachs encarrega-se de absorver os
impactos maiores. As afinações de fábrica são demasiado suaves para imprimir um
ritmo mais agressivo.
É necessário trabalhar nas afinações de ambos os eixos se quisermos usufruir do
máximo potencial. Mas serão sempre mais suaves do que as da rival de Borgo
Panigale, pelo que a frente revela sempre uma tendência para baixar nas
travagens mais fortes.
É algo que no caso da Streetfighter V4 S, com suspensões eletrónicas Öhlins,
não é problemático nem nos obriga a sujar as mãos, pois ao toque de um botão as
suspensões alteram as suas afinações. Nas trocas de inclinação mais impestuosas
necessitamos de esperar um pouco para que as suspensões da Tuono recuperem do
esforço, o que não faz com que a Aprilia seja molengona nas curvas, mas por
vezes somos obrigados a refrear um pouco os ânimos.
Apesar do assento mais baixo, a posição de condução da Tuono é desportiva, até
mais desportiva do que na Ducati, muito por culpa dos poisa-pés mais elevados.
Somos obrigados a adotar uma posição de condução dominante sobre a frente,
embora aí sejamos agraciados por uma boa (para padrões naked) proteção
aerodinâmica graças ao frontal que inclui três óticas (sem iluminação “full
LED”) e um pequeno ecrã que deflete o ar. Isto permite percorrer mais
quilómetros sem nos cansarmos.
A nível eletrónico a Aprilia também não está mal equipada. O bem conhecido aPRC
inclui três modos de condução, controlo de tração ajustável em 8 níveis,
“anti-wheelie” ajustável em três níveis, ABS com função “cornering” ajustável
em três níveis, “quickshift” bidirecional e ainda controlo de arranque e
cruise-control.
O sistema eletrónico da Aprilia já se nota estar a necessitar de evoluir para
acompanhar a rival. Por exemplo, não podemos ajustar o efeito travão motor
individualmente, não oferece o “slide control”, e mesmo o controlo do levantar
da traseira em travagem está ligado ao nível de ABS selecionado.
E por falar em travagem, o sistema Brembo da Aprilia conta com pinças monobloco
M50 a morderem discos de 330 mm. A potência de travagem está lá, sente-se na
manete, mas a bomba radial da Tuono V4 1100 RR revela um tato inicial menos
imediato e requer que sejamos mais enérgicos no apertar da manete para sentir a
potência de travagem. Numa estrada mais retorcida e que obrigue a travar
frequentemente, a Tuono perde a progressividade.
Já a Ducati Streetfighter V4 S aposta numa estrutura mais radical. O denominado
“Front Frame”. A ausência de um quadro tradicional poderá ser um limite que
alguns não querem passar, ainda para mais quando nos relembramos da lindíssima
estrutura em treliça da Streetfighter V2.
Mas esta geração V4 da supernaked italiana foi desenhada tendo a eficiência
como objetivo, e todo o chassis revela sensações mais desportivas e um certo
nervosismo de reações se não tivermos um controlo mais apertado sobre a
direção, embora o excelente amortecedor de direção eletrónico da Öhlins consiga
digerir parte dos movimentos exagerados da direção.
É mais exigente do ponto de vista físico, embora com menos 10 kg de peso seja
mais ágil nas trocas de direção. A Streetfighter V4 S é uma moto que
imediatamente nos transmite confiança pela sua posição de condução que até se
torna demasiado confortável para o que esperamos e estamos habituados numa naked
desportiva da Ducati.
A posição não é a melhor para o meu gosto, pois o guiador está bastante alto.
Mas neste caso a maioria dos motociclistas deverá ficar agradado, e a Ducati
fez aqui um bom trabalho.
Tal como já referi, as suspensões da Streetfighter V4 S são eletrónicas. E isso
é excelente pois o sistema Smart EC 2.0 permite-nos ajustar em detalhe e de
acordo com as nossas preferências do momento as afinações dianteira e traseira.
O comportamento das suspensões eletrónicas continua a ser um pouco mais
“rijinho” do que as mecânicas da Aprilia Tuono V4 1100 RR. Mas isso acaba por
transmitir um bom “feeling” no momento de entrada em curva, com a frente a não
baixar em demasia- Em inclinação a leitura do piso é perfeita e quase parece
que estamos a acariciar o asfalto com as próprias mãos.
A travagem da Streetfighter V4 S inclui pinças Brembo e discos de 330 mm, como
na rival. À primeira vista tudo aponta para que estejam equilibradas. Mas a
Ducati leva clara vantagem. Não apenas porque as pinças são as Stylema, o que
por si garante mais eficácia, mas também porque a bomba radial que equipa a
Streetfighter V4 S oferece um “feeling” mais imediato, com os travões
dianteiros a revelarem uma tenacidade impressionante e sem qualquer indicação
de fadiga.
A nível da eletrónica, o pacote que a Ducati desenvolveu para a Streetfighter
V4 S deixa-a muito acima da rival deste comparativo. Para além de tudo o que a
Tuono V4 1100 RR tem, a Ducati adiciona a possibilidade de ajustar a potência
do motor, o “slide control” e o controlo do efeito de travão motor. Todos os
parâmetros podem ser ajustados individualmente, pelo que as combinações
possíveis são quase infinitas e é fácil perder horas a testar as diferentes
opções.
A forma como a eletrónica da Ducati funciona é também mais delicada ou
aprimorada. Embora mais interventiva do que o aPRC da Tuono quando as ajudas
eletrónicas estão no seu ponto máximo, basta reduzir para o mínimo ou metade as
ajudas eletrónicas e rapidamente passamos a sentir que somos nós a controlar a
moto, com a eletrónica a fazer-se notar mesmo “in extremis” para evitar uma
queda.
A proteção aerodinâmica na Streetfighter V4 S é inexistente! Conduzir esta
italiana a pouco mais do que a velocidade definida pelo Código da Estrada é o
limite para nos sentirmos confortáveis. Neste particular perde em larga escala
para a Aprilia.
Mas ganha em estabilidade conferida pela maior distância entre eixos, cortesia
de um monobraço oscilante muito longo, que acaba também por maximizar a tração
à saída das curvas de uma forma que a Aprilia não consegue acompanhar. E também
pelas icónicas asas biplano que ajudam a manter a roda da frente mais perto do
solo em aceleração, criando força descendente, facto ao qual não devemos dissociar
a cambota contrarrotante.
Veredicto
São quase 7.300€ que separam a Aprilia Tuono V4 1100 RR da
Ducati Streetfighter V4 S. Inevitavelmente, e apesar de ser para mim a
vencedora no capítulo do motor, a Aprilia não se apresenta nesta luta de rua
com os mesmos argumentos da Ducati.
Colocando os pontos positivos e negativos de cada uma na balança, a vantagem
recai para a esbelta Streetfighter V4 S, pois apresenta uma eletrónica quase
perfeita, uma ciclística que a deixa no topo do segmento, e um motor explosivo,
que no entanto obriga a ser trabalhado em rotações mais elevadas.
Já a Aprilia brilha pelo motor V4 mais convencional, mais agradável e que
consegue ser mais facilmente explorado em estrada. Mas os anos passam e pesam
sobre a moto de Noale. O pacote eletrónico aPRC já não está no topo do que
podemos encontrar no segmento, e para a RR a ausência de suspensões eletrónicas
e um peso superior impedem que lute com as mesmas “armas” da rival. É no
entanto uma excelente moto, e pelo preço a que é proposta, é quase
irresistível.
Galeria de fotos da Aprilia Tuono V4 1100 RR
Galeria de fotos da Ducati Streetfighter V4 S
Aprilia Tuono V4 1100 Factory: Melhor ou pior do que a Streetfighter V4 S?
Embora não tenha rodado com a Aprilia Tuono V4 1100 Factory nos mesmos dias em
que tive a Ducati Streetfighter V4 S, na verdade eu tinha testado a Factory de
Noale um par de meses antes, e por isso consigo comparar o comportamento destas
duas motos.
Ao contrário do que acontece com a variante RR, a Tuono V4 1100 Factory conta
com suspensões Öhlins Smart EC 2.0. E isso transforma por completo o comportamento
dinâmico desta Aprilia.
Com diferentes modos de funcionamento que variam entre os semi-ativos
automáticos e os de afinação fixa, as suspensões eletrónicas da Tuono Factory
fazem com que esta supernaked ganhe uma estabilidade em curva com que a variante
RR apenas pode sonhar!
A frente deixa de afundar demasiado rápido e podemos controlar de uma forma
mais intuitiva a direção da Tuono Factory. Ganhamos metros nos pontos de
travagem, esforçamos menos os travões, e a definição de trajetórias é muito
mais intuitiva. À saída das curvas a traseira também se revela mais estável, e
com isso é possível acelerar mais cedo do que na Tuono V4 1100 RR.
Mas será que isto lhe permite bater a rival de Borgo Panigale? Na minha opinião
sim.
O motor, tal como refiro no texto principal, é mais agradável. Embora continue
a perder nas opções eletrónicas e no equipamento – a Ducati inclui iluminação
“full LED” e jantes forjadas mais leves -, a utilização das suspensões com
controlo eletrónico garante um comportamento dinâmico aprimorado na Factory que
a deixa muito mais próxima da rival Ducati.
O preço aumenta para os 18.874€. E mesmo assim a Tuono V4 1100 Factory fica uns
bons euros mais acessível do que a Ducati Streetfighter V4 S. Mantendo a maior
versatilidade do que a Ducati, a Aprilia nesta versão Factory apresenta-se como
uma opção mais equilibrada.
Se tivesse de escolher entre esta Tuono V4 1100 Factory e a Streetfighter V4 S,
seria a supernaked de Noale que eu levava para casa. Numa comparação direta, e
numa perspetiva exclusivamente de uso em estrada, a Tuono Factory será
vencedora.
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andardemoto.pt @ 21-9-2020 23:38:23 - Texto: Bruno Gomes | Fotos: Luis Duarte
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