Teste Triumph Street Triple 765 RS - Um “Sir” de fato amarelo

Esta última versão da Street Triple, a 765, está melhor do que nunca. Clichés à parte, testámos a sua versão RS numa tentativa de percebermos o quanto a Triumph conseguiria melhorar um produto fora de série.

andardemoto.pt @ 12-9-2023 07:00:00 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte

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Triumph Street Triple 765 RS | Moto | Roadsters

Esta Triumph tem uma versão não muito diferente, a Triple Cup, que participa no troféu nacional de naked bikes. Esta Triumph beneficiou da experiência adquirida pela marca de Hinckley no campeonato do mundo de MotoGP, nomeadamente na categoria de Moto2. Esta Triumph…é a mais potente iteração da Street Triple, que existe desde 2007. Neste muito discreto amarelo, fomos testar a Triumph Street Triple 765 RS, como se fosse a primeira vez que experimentássemos a naked desportiva que foi considerada como referência desde o seu aparecimento. Uma folha em branco, com muito trabalho árduo, para vosso deleite.

Comecemos com algumas deambulações típicas de quem passa muito tempo com o capacete na cabeça:

Vou na minha décima passagem nesta curva e acho que ainda não acertei na fluidez da coisa. São 10 da manhã, não vemos um carro a passar faz mais de meia hora, e o fotógrafo não desiste de fazer magia. Estamos quase, pede-me paciência porque ainda falta captar imagens para o vídeo. A sequência em questão é mais complicada a descer do que no sentido inverso, a última curva tem um apex tardio, o que me obriga a refrear o optimismo na entrada, travar em em inclinação e esperar pelo momento certo para atacar o último ponto com atitude, antes de voltar ao acelerador. A subir é mais fácil, consigo ir pendurado no milimétrico acelerador e controlo melhor o ímpeto, os médios regimes desta pequena Triumph têm uma capacidade inata para ganhar velocidade de um modo quase instantâneo. Todos os meus comandos, induzidos pela minha posição corporal ou pelos ajustes no guiador, são transformados em acções dinâmicas imediatas, precisas e altamente assertivas. A Street Triple 765 RS não é uma máquina nervosa, a sua reactividade tem um pendor muito controlado, um caso sério de estabilidade intocável. Talvez por esta tolerância ser tão grande, com a respectiva confiança ganha, sinto-me desafiado em tentar carregar um pouco mais de velocidade, travando um pouco mais tarde na penúltima curva a descer. É uma redução de 4a para 2a logo após uma mudança de direcção, e a trajectória que se segue é descomplicada, basta seguir o longo apex com determinação. Da intenção à acção, acabo por entrar algo descompensado, demasiado agarrado aos travões, e enquanto estico o pescoço para olhar para o centro da curva, um enorme SUV preto come a minha faixa de rodagem por um metro adentro. A massa que se desloca na minha direcção, obriga-me a recalcular o azimute, e se antes a margem de manobra já era apertada, rapidamente entro no registo do “buraco da agulha”. E ao ter de corrigir inesperadamente o ponto de entrada, forçando a trajectória, sou surpreendido com uma fineza de reacções que me provam a qualidade da máquina que estou a conduzir. Não era suposto, dadas as condições extremas, ter uma resposta tão contundente. Num momento de pânico, esta moto puxou dos galões e mostrou-me ser capaz de ter muitos mais truques na algibeira do que aqueles que achava já ter espreitado. Páro. Tiro o capacete e bebo uma água enquanto lhe acaricio o depósito em modo de agradecimento. Nisto chega o fotógrafo e vocifera impropérios contra o animal que quase me matou. Pausadamente, respondo que foi tranquilo, que estava tudo controlado. Mais um dia feliz no escritório.


É uma afirmação carregada de significado, quando dizemos que esta moto roça a perfeição. O casamento do seu tricilíndrico pujante com uma ciclística de topo, fez dela uma referência no segmento das nakeds desportivas. Reparem que não gostamos de lhe chamar streetfighter, porque a consideramos ser - quase - demasiado competente para ser utilizada num cenário de “batalha citadina”. A sua génese desportiva tem o carimbo da actual presença da marca no campeonato mais exigente do mundo, para além de todo o seu background histórico (onde o nome Daytona nos faz sorrir). A exclusividade desta versão RS tem um intuito, uma intenção objectiva de atingir o zénite das capacidades deste conjunto.

São cerca de 2500 € de diferença para versão R desta Street Triple 765. Mas por esse valor temos mais 10 cavalos, graças à afinação específica da injecção, um sistema de travagem superior (para além dos Brembo Stylema, temos uma manete com ajuste de diâmetro na bomba principal), um mono amortecedor Ohlins completamente ajustável (e consequentemente uma geometria diferente, mais focada no eixo dianteiro e também uma maior altura do assento). Pneus Pirelli Super Corsa SP, mais um mapa de condução dedicado ao uso em pista, e um TFT de 5” que patrocina uma interação muito mais imersiva com o cérebro electrónico da máquina (com possibilidade de interação com o telemóvel através da App My Triumph, possibilitando inclusivé navegação simplificada). No capítulo estético temos espelhos nos terminais dos punhos, uma cobertura para o assento do passageiro e 3 cores específicas, das quais este amarelo sobressai de forma exuberante.


Este patamar de qualidade superior reflecte-se em todos os aspectos da condução. As suspensões (Showa na forquilha e monoamortecedor Ohlins, na secção traseira,  totalmente ajustáveis em ambos os eixos) têm a capacidade de demonstrar a fabulosa bipolaridade apenas ao alcance dos melhores componentes. São dóceis nas irregularidades mais acentuadas, mas extremamente eficazes quando lhes pedimos apoio nas travagens ou tracção nas acelerações. O quadro e o braço oscilante (ambos em alumínio) detém a rigidez necessária para resistirem estoicamente às torções que a física lhes impõe. 

E os Brembo Stylema são aqueles travões em que apenas “um dedo basta”, brutalmente potentes e atenciosamente progressivos, como se quer.

O seu contexto electrónico é super completo, com uma IMU a comandar as ajudas (controlo de tracção e ABS sensíveis à inclinação) e quatro mapas de condução (Rain, Road, Sport e Rider) com um deles completamente configurável.

E o motor? Este é provavelmente um dos blocos mais lineares do mercado, um tricilíndrico de som rude e poderoso, cheio de músculo nos médios regimes (80 Nm às 9500 rpm) e muito progressivo até ao limitador. Acima das 8000 rotações sente-se o crescendo de potência e até às 12000 rpm surgem os 130 cv em todo o seu esplendor. Toda a entrega é baseada numa progressividade contundente, muito fácil de explorar, um paradigma típico de uma máquina nascida para competir.


Mas a grande verdade é que nos dias em que andei com esta RS, e perante os olhares curiosos de todos com quem a ela se cruza, não tive vontade de andar rápido. Como se me sentisse obrigado a ter em conta toda a sua classe. Ou como se o abrir daquele envelope fosse um acto que devesse ser levado com parcimónia e dedicação. Uma seriedade respeitável. Esta RS não é um hooligan. É um senhor (um “Sir”, apropriando as honras de sua majestade ), um “senior rider” que corre há muitos anos na Ilha de Man e não arrisca cair nos treinos. Sabe muito, já viu muito. Esta Street Triple 765 RS é moto para aqueles que não saem do semáforo de roda no ar, antes esperam pela best biking road vazia para elevarem o nível, mas sem pejo nem pudor de enfrentarem qualquer outra moto na estrada. E sempre que podem, levam-na para as pistas do Estoril ou do Algarve, tentando melhorar tempos, porque ela tem brio na sua capacidade de surpreender

Um aclamado membro da imprensa especializada britânica deu uma classificação de 5 estrelas a esta moto. Claro, são conterrâneos, dirão vocês…Mas a verdade é que esta Street Triple 765 RS impressiona pela sua apetência desportiva. Sem se tornar demasiado agressiva em toadas mais calmas, todo o seu conjunto ciclístico está afinado para a precisão, revelando todas as suas qualidades quando está próximo dos limites. O tricilíndrico mostra-se voraz no apetite pelas altas rotações, sem deixar de ser refinado, e a quantidade de pormenores de qualidade tornam-na exclusiva. Esta Triumph (13.395€) bate de frente com máquinas como a Ducati Monster SP, a KTM 890 Duke R, e até mesmo a Yamaha MT-09 SP, sendo que de todas é a mais potente, alavancando a sua superioridade na cavalagem e não no binário. Seriamente eficaz, seria assim que a podíamos definir, e ficámos com muita vontade de a experimentar em pista. Depois de um chá, obviamente.


Equipamento:

Capacete: NEXX SX 100 R

Blusão: REV'IT! Hyperspeed Air

Calças: IXON Mike

Botas: TCX RO4D WP

Luvas: RSW MSL-008


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Triumph Street Triple 765 RS | Moto | Roadsters

andardemoto.pt @ 12-9-2023 07:00:00 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte


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