Teste Harley-Davidson Road Glide / Street Glide 2024 - Grand American Tourers
Completamente revistas, da estética à mecânica, as novas Grand American Touring da Harley-Davidson são um reescrever da história da marca e do conceito cruiser.
andardemoto.pt @ 26-3-2024 07:29:00 - Texto: Rogério Carmo
As novas Road Glide e Street Glide da Harley-Davidson foram alvo de uma substancial operação de rejuvenescimento para 2024. As novas carenagens frontais são apenas a ponta do véu, que revela uma grande intervenção geral que as tornou substancialmente mais eficazes dinamicamente.
Além de redesenhadas, e de oferecerem uma maior proteção aerodinâmica, as mais populares Baggers de Milwaukee estão agora mais potentes, mais confortáveis e mais leves. As novidades são muitas, tantas que aos seus comandos a diferença para os modelos anteriores é realmente notável. Recentemente tive a oportunidade de testar e fazer uns bons quilómetros aos comandos de uma Street Glide ST de 2023, equipada com a anterior versão de 117 polegadas cúbicas do motor Milwaukee Eight, por isso foi quase um choque a evolução que este modelo agora apresenta. Mas vamos por partes.
Primeiro é imperativo referir, e de forma que vou tentar que não seja aborrecida, todas as evoluções técnicas destes modelos, algo que, no caso das Harleys, é sempre um grande acontecimento e quase um passe de magia, pois exteriormente as novidades da marca são geralmente praticamente imperceptíveis.
Como tal, o que mais salta à vista nesta evolução, ou recriação, são as carenagens frontais. A Street Glide ostenta agora uma Batwing (fixada na forquilha) redesenhada, marcada por uma luz diurna em LED, em forma de Omega, em redor do farol arredondado, e duas linhas também em LED que se estendem através da carenagem em direção aos punhos, que acomulam a função de pisca-pisca. Por seu lado, a Road Glide apresenta uma carenagem Sharknose (fixada no quadro) estilizada, com uma luz diurna em forma de “W” que circunda o farol rectangular. Os piscas são agora integrados na extremidade do “W”, conferindo à imponente frente uma assinatura visual inequívoca. Em ambos os modelos o novo desenho das carenagens foi concebido com recurso a dinâmica de fluidos computacional, que melhorou substancialmente o conforto, nomeadamente no âmbito da proteção aerodinâmica e da turbulência. Uma nova entrada de ar, sob o ecrã pára-brisas, permite ajustar ou cortar a passagem de ar para o posto de condução e assim compensar também a pressão negativa responsável pelos abanões no capacete.
Ainda no âmbito da estética, as malas laterais de ambos os modelos foram redesenhadas, e apesar de parecerem mais pequenas, graças ao perfil mais afilado da sua parte inferior, são efetivamente maiores em volume interno que as usadas anteriormente.
O depósito de combustível é agora mais esguio, e apresenta dois vincos no rebordo superior que lhe conferem um maior interesse visual, sem no entanto perder o estilo ou a capacidade, que se mantém em 6 galões, equivalentes a pouco menos de 23 litros. A consola central incorpora agora um muito mais prático e seguro tampão de depósito convencional, com dobradiça e fechadura. Fabricado em chapa metálica mais fina, e com um túnel redesenhado para evitar o chocalhar da gasolina no seu interior, este depósito é um quilograma mais leve que o seu antecessor. Mas toda a moto perdeu peso, com a Street Glide a reclamar uma redução superior a 8 quilos e a Road Glide a ficar mais leve 7,3 quilos.
Para tal, certos fatores foram conjugados e outro deles, foi a cablagem elétrica, na qual a Harley conseguiu reduzir o peso em cerca de 3 quilos. Outro componente responsável pela diminuição do peso, e o mais espetacular, é o novo painel de instrumentos, agora sob a forma de um impressionante panorâmico ecrã TFT a cores, de 12,3 polegadas, sensível ao toque, que incorpora os habituais instrumentos e funcionalidades, assim como a navegação e a multimédia, que é assistido por um novo sistema operativo denominado Skyline que se mostrou bastante rápido, mesmo na navegação, e que inclui Wifi e Bluetooth.
O software faz ainda a gestão do novo equipamento de audio, que conta com um amplificador de 4 canais e 200W, o que representa um incremento de 25W por canal, sendo que, de origem, ambos os modelos vêm equipados apenas com dois altifalantes de 5,25 polegadas, instalados na carenagem frontal, mas que ainda assim se fazem ouvir com bastante qualidade, mesmo em velocidades de cruzeiro. Em opção é possível instalar altifalantes nas tampas das malas laterais, que vão proporcionar uma maior qualidade e volume de som.
O motor Milwaukee Eight 117, que apresenta um binário máximo de 176Nm às 3.250rpm, e 105cv de potência máxima às 4.600rpm, também foi alvo de intervenção.
Com as cabeças de cilindro a beneficiarem de um novo formato, que inclui ductos de admissão ovais e sedes de válvulas de admissão de baixo perfil, que causam uma mistura mais homogénea, a taxa de compressão foi aumentada para uma relação de 10,3:1 que se reflete sobretudo na elevada disponibilidade de binário a baixa rotação.
Apesar de o motor continuar a ser essencialmente refrigerado por ar, as válvulas de escape são dotadas de um novo sistema de refrigeração, por líquido, que agora também incorpora uma ventoinha no radiador, responsável por um maior conforto a bordo ao reduzir a carga térmica que é transmitida aos ocupantes, sobretudo a baixa velocidade.
Na prática nota-se ainda uma melhor resposta a baixa velocidade, com uma elasticidade que permite boas retomas, mesmo em sexta velocidade, e uma excelente resposta ao acelerador, brindada com uma subida de rotação enérgica e linear, sempre sem qualquer hesitação.
No âmbito do conforto, a Harley-Davidson também se esforçou para que, nestas suas motos de viagem, o condutor se possa manter por mais tempo aos seus comandos. Para tal dotou a manete de travão com afinação e redesenhou o assento, que agora obriga a bacia a rodar para a frente, mitigando o arquear das costas. No entanto a melhoria mais significativa nota-se na suspensão, com a forquilha a receber uma nova afinação e com a instalação de novos amortecedores traseiros da Showa, que passam a ter um curso de 76mm, representando um incremento de 50% relativamente à versão anterior. Ambos os modelos apresentam também regulação da pré-carga na suspensão traseira, através de um sistema remoto, colocado atrás da mala lateral esquerda. Desculpa-se-lhe o facto de se ter que retirar a mala para se aceder ao rotor de regulação, pela simples razão de estas serem motos mais vocacionadas para uma utilização a solo, já que a gama disponibiliza modelos mais adequados para o transporte de passageiro e, esses sim, contam com um sistema de regulação elétrico.
O pacote eletrónico disponibiliza 3 modos de condução standard, (Road, Sport e Rain) cada um com uma configuração própria para a entrega de Potência, efeito Travão Motor, ABS, Travagem Combinada e Controlo de Tração, (estes últimos com assistência em curva), e ainda um modo configurável em que cada motociclista pode conjugar os determinados parâmetros a seu bel-prazer. Em modo Road a entrega de potência é bastante previsível em qualquer regime de rotação, mas o modo Sport afigura-se bastante impulsivo, requerendo alguma parcimónia com o acelerador, enquanto proporciona uma resposta explosiva ao enrolar o punho direito, revelando todo o potencial do Milwaukee Eight 117.
Ainda no que à eletrónica diz respeito, ambos os modelos oferecem Cruise Control, monitor da pressão dos pneus, travagem automática em plano inclinado e operação sem chave.
Pude comprovar agora a eficácia de todas estas inovações em ambos os modelos, ao longo de mais de 200 quilómetros e em algumas estradas de mau piso, que encontrei nos arredores de Marselha, local escolhido pela Harley-Davidson para a apresentação Europeia destes seus novos modelos.
O meu primeiro contacto foi com a Road Glide, que nesta versão vem equipada com um guiador “ape hanger” que, apesar de muito contribuir para a experiência de condução típica do género, deixa as mãos completamente desprotegidas, nada agradável numa Tourer, sobretudo num passeio madrugador com temperaturas a rondar os zero graus, como encontrei na zona de Camargue, no delta do Ródano. No entanto, as manetes mais pequenas e os novos botões dos comandos são agora bastante mais fáceis de utilizar, mesmo com as mãos quase congeladas.
O grande choque aconteceu quando me sentei aos comandos da Street Glide. Muito mais manobrável, graças a um guiador mais baixo e estreito, com as mãos bem protegidas, a sua agilidade é realmente impressionante, sendo mais fácil de colocar e manter em curva, mesmo a ritmos pouco próprios de uma Grand Tourer Americana. De tal forma parecem diferentes que, no babélico idioma usado entre os jornalistas presentes, identificávamos a Road Glide como “a grande” e a Street Glide como a “pequena”. E se a resposta do motor, sobretudo na forma como rapidamente sobe de rotação mesmo desde baixos regimes, se revelou uma surpresa, maior ainda foi a satisfação por ver que a nova suspensão traseira é agora muito mais amiga do esqueleto, conseguindo também proporcionar um muito aceitável comportamento em curva. As modificações sofridas pela forquilha também proporcionam uma melhor leitura do piso e reduzem um pouco mais o afundamento sobre travagem. A travagem combinada, assistida por “cornering ABS”, permite em situações de condução normal esquecer a utilização da manete, com o pedal a conseguir gerir perfeitamente a desaceleração em ambos os eixos, tornando-se uma grande aliada nas grandes tiradas, por contribuir para uma substancial diminuição da fadiga.
Os esforços da marca relativamente à aerodinâmica também são louváveis, pois o meu capacete além de se manter estável e limpo, também não acusava os níveis de ruído e de turbulência que já tinha experimentado nos modelos anteriores.
Mas o impressionante é mesmo a grande agilidade que estes novo modelos conseguem mostrar, sendo muito mais fáceis de inserir em curva e de manter as trajetórias, o que a par com a maior altura disponível ao solo e a maior disponibilidade do motor para subir de rotação, tornam a condução muito mais interessante.
Se ficou curioso, basta dirigir-se a um dos concessionários nacionais da Harley-Davidson, para as ver ou até mesmo para fazer um test-ride.
Harley-Davidson Road Glide
Harley-Davidson Street Glide
andardemoto.pt @ 26-3-2024 07:29:00 - Texto: Rogério Carmo
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