Teste Kove 800 X Pro - Sem rodeios!

A Kove continua a navegar calmamente as turbulentas águas do preconceito, com a plena confiança nos ventos da sua boa ventura. Os seus produtos desafiam o mercado e provam-nos que existe a capacidade de fazer exactamente o que publico pede: -máquinas de aventura leves e potentes. Esta 800 X chega com grandes promessas…

andardemoto.pt @ 10-12-2024 15:48:05 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte

Depois da 450 Rally, o mercado europeu ficou atento ao que a Kove conseguia fazer. A participação no Rally Dakar com resultados bastante encorajadores, catapultou o lançamento de uma - quase - rally réplica para os stands, por valores perfeita e agradavelmente absurdos em relação à concorrência! Afinal não era só fogo de artifício de ano novo chinês, porque em seguida brindou-nos com o aparecimento de uma moto de aventura que apresenta valores de performance e de ciclística bastante interessantes.


E se, à primeira vista, parece apenas mais uma trail, ao declarar uma potência próxima dos 100 cv e um peso a cheio abaixo dos 190 kg, a marca chinesa comete ainda a ousadia de colocá-la no nosso mercado com um preço abaixo dos 10.000 €. Num segmento superpovoado, com máquinas que têm créditos firmados, o seu percurso para o sucesso não parece fácil mas a Kove 800 X tem argumentos muito interessantes para poder vingar.

Todo o interesse gerado nas nossas redes sociais (que servem justamente para isso, causar “ruído”) nos dias em que a testámos, era demonstrativo de que o público está atento, e que a Kove poderá ter nesta moto um produto potencialmente vencedor. 



As formas compactas e bem dimensionadas sugerem uma moto mais próxima das 500/600cc do que propriamente das suas congéneres best sellers. Fomos habituados pelas marcas europeias e japoneses a acreditar que os 200 e poucos quilos seriam o limite físico para uma moto com 700/800 cc e eis que, de repente, aparece alguém a fazer desaparecer 15kg da equação. E esta Kove 800 X não mente, pelo menos na percepção daqueles que passam a perna por cima do seu assento. É esguia, sem ser demasiado alta (875 cm de altura do assento ao solo), e o centro de gravidade mostra-se bem distribuído, sem aquela sensação de pânico quando o grau de inclinação extra parece que nos vai atirar a moto ao chão quando a tiramos do descanso lateral.


Continuando a explorar as suas valências encontramos suspensões da KYB com 240mm de curso, totalmente ajustáveis, amortecedor de direcção, protecção de cárter e crash bars, e uma electrónica específica para o off-road. Isto tudo para além das indispensáveis jantes de raios (de 21” na secção dianteira) ou do ecrã TFT vertical de 7” e design elegante. Os mínimos estão largamente cumpridos, parece-nos a nós! Mas para perceber se o objecto cumpria a função, tínhamos planeado umas valentes horas de estrada de serra, auto estrada e algum fora de estrada em pisos de exigências distintas.



Servidos por uma posição de condução confortável e um assento bastante razoável no mesmo aspeto, depois dos primeiros quilómetros os níveis de satisfação iam aumentando de forma bem sustentada. A suspensão revelava um funcionamento eficaz (sem grandes vacilos nas transferências de massa) e fazia brilhar a ciclística numa condução mais empenhada. A travagem tinha a potência necessária para nos dar confiança quando queriamos aprimorar trajectórias e a caixa de velocidades era bastante precisa (não obstante uma embraiagem algo esponjosa…). No motor surgia a maior surpresa, ou melhor, rapidamente percebemos que existia uma familiaridade que nos transportava para outras máquinas que nos fizeram muito felizes.


Com o seu sotaque austríaco, os baixos e médios regimes apresentavaml a atitude necessária para uma condução envolvente em qualquer situação, capaz de manter todo o seu fulgor até ao limitador, exuberante e nada discreto. Por outro lado, a fraca parametrização do acelerador começa a tornar-se num problema crónico nas novas máquinas vindas do extremo Oriente. Estamos em crer que serão as nossas normas europeias a dificultarem o processo de afinação mas, em todo o caso, é uma questão supostamente fácil de contornar. E se, nas secções mais reviradas, conseguimos evitar a sua brusquidão com o auxílio do travão traseiro, para não abrir a trajectória, no fora de estrada tivemos alguma dificuldade em sermos suaves no acelerador (sobretudo nas secções mais técnicas).



Tendo a noção de que esta é uma moto que se foca na sua função de percorrer os caminhos menos batidos e se, efectivamente, até gostámos bastante da sua dinâmica no asfalto, todo o equilíbrio geral seria posto à prova nos pisos com menos atrito. Tentando debelar um pouco o comportamento abrupto da injecção nos primeiros milímetros do punho direito, tentámos fazer uso dos mapas de motor disponíveis para ganhar algum controlo. O modo “Sport” faz-nos lembrar um verdadeiro motim estudantil (em 6a velocidade e bem próximos das duas centenas de km/h, se rodarmos punho ainda temos uma resposta explosiva…), e como tal, explorámos os modos “Rain” e “Eco”, que nos pareciam mais adequados no fora de estrada. Antes disso, ao desligarmos o ABS traseiro recebemos uma mensagem clara perguntando se o queremos fazer “para sempre”! Uma nota de apreço pela simplicidade de todo o processo de interação com o sistema, uma prova de que não é assim tão difícil descomplicar…


Em estradões de terra batida e alguma areia solta, o equilíbrio geral da Kove 800 X Pro ajuda-nos a potenciar a diversão, e rapidamente nos encontramos a tentar desenhar previsíveis atravessadelas e a bloquear a roda traseira na entrada das curvas mais técnicas. Há aqui, de facto, um óptimo compromisso entre agilidade e potência, ao qual a boa distribuição de pesos não é alheia. Nos caminhos com pedra solta e alguns socalcos mais técnicos, tivemos mais dificuldade em sermos elegantes. A suspensão resolve estas questões, sem grandes dramas, mas existem claras diferenças, como entre ver uma cabra montanhesa ou um javali assustado a subirem uma ladeira…



Não duvidando dos valores declarados pela marca, temos a experiência necessária para reconhecer uma boa moto. E esta trail sente-se de facto muito leve e ágil que, além de um motor bem espigado, enaltece uma acessibilidade simpática na sua ergonomia. Estranhei o facto de não podermos ter uma decoração mais agressiva, apelando a um espírito mais extremista, mas depois de três dias aos seus comandos percebi o seu foco. A Kove 800 X quer surpreender-nos com a sua sincera aptidão para nos levar por maus caminhos. Há arestas por limar, claro, mas a base é francamente competente. Sem rodeios diríamos mesmo: entusiasmante!


Equipamento:

Fato: Alpinestars Venture XT

Capacete: Nexx X.WED 3

Luvas: Alpinestars Corozal V2 Drystar

Botas: Alpinestars XT-8 GTX


andardemoto.pt @ 10-12-2024 15:48:05 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte


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