Teste Ducati Monster+ - Sucesso ou sacrilégio?
A Ducati dá um passo radical na evolução da icónica Monster. A naked italiana abandona aquilo que muitos consideravam intocável, mas ganha argumentos que a tornam mais eficaz. Será a nova Monster um sucesso ou um sacrilégio?
andardemoto.pt @ 16-11-2021 17:30:25 - Texto: Bruno Gomes | Fotos: Luis Duarte
Considerada como a moto que ajudou a Ducati a
manter-se no ativo num período mais difícil nos anos 90 do século passado, a
Monster tornou-se num dos maiores ícones do mundo das duas rodas. Quase três
décadas depois, o design original criado por Miguel Galluzzi continua belo,
intemporal, e a marcar os sonhos de muitos motociclistas.
O quadro em treliça, o enorme farol dianteiro redondo, ou ainda o depósito de
combustível com um arco superior bem pronunciado e laterais salientes. Tudo
isto são elementos que definiram a Monster como uma moto verdadeiramente
universal.
Porém,
e adaptando-se a uma nova era de tecnologia que evolui a um ritmo incrível, a
Ducati decidiu que estava na hora de realizar uma profunda renovação desta
icónica naked.
Depois da original M900 ter aparecido no mercado, e depois de mais de 350.000
Monster terem sido vendidas, transformadas, customizadas, ou mantidas no seu
estado original para ganhar um valor superior, a nova geração abandona muitas
das características que tornam a Monster… numa Monster.
Uma
das primeiras noções que temos de ter em conta agora aponta para a unificação
da gama numa única versão. A Monster de 2021 é apenas uma. Desapareceram do
catálogo da casa de Borgo Panigale as 821 ou as 1200. A partir de agora
chamamos à naked italiana apenas de Monster.
A
versão Monster+, aqui testada, tem um preço de 12.095€, o que é já um valor a
ter em conta. Neste caso, a moto vem equipada de série com um pequeno defletor
dianteiro que confere à zona do painel de instrumentos uma imagem mais
conseguida, enquanto na traseira encontramos a tampa do assento do passageiro
para uma imagem mais desportiva.
E por
falar em imagem, o primeiro contacto com a nova Ducati Monster pode não ser o
mais agradável para aqueles motociclistas que têm esta naked como um ícone das
duas rodas. Onde está o quadro tubular em treliça? O que fizeram à ótica
redonda de grande dimensão que conferia um aspeto robusto à Monster? O
depósito de formas volumosas e sedutoras desapareceu?
Aqui, a resposta é simples: a Ducati adaptou-se aos novos tempos e usou as
melhores técnicas e tecnologias para criar uma moto que, como conjunto, é
melhor do que as antigas Monster e que tem um enorme potencial para evoluir
para diferentes patamares.
A
perna passa facilmente por cima do assento esguio, posicionado a apenas 820 mm
do solo. Com o guiador a colocar os punhos mais próximos do condutor, enquanto
os poisa-pés, mais baixos e para trás, permitem colocar as pernas em menor
esforço, até mesmo os condutores de maior estatura não vão encontrar
dificuldades com a posição de condução da nova Monster.
Depois, o novo e esguio depósito de apenas 14 litros de capacidade ajuda as
pernas a “abraçarem” e fixarem-se nos momentos de travagem ou inclinação. Com
uma posição de condução bem conseguida, o único senão que notei aos comandos
desta naked foi a inclinação do assento, na sua parte traseira, que não me
permitia mexer tanto como gostaria. Tem uma curvatura demasiado pronunciada.
O
motor Testastretta 11º de 937 cc mantém a sua configuração de bicilíndrico em V
a 90 graus. É o mesmo motor que encontramos noutros modelos da Ducati, como a
Supersport ou a Hypermotard, mas menos agressivo na sua afinação do que no caso
da “Hyper”. Mais leve 2,4 kg do que o motor que era usado na 821, esta unidade
motriz torna-se agora no elemento central da estrutura que faz parte do quadro.
A
Ducati foi buscar inspiração ao quadro usado na Panigale V4, e o denominado
Front Frame pesa uns anoréticos 3 kg! Só aqui a marca italiana conseguiu poupar
4,5 kg. Ainda assim, admito que sinto falta da estética que apenas o quadro
treliça consegue dar, embora, para ser justo, nas gerações mais recentes da
Monster a estrutura já fosse apenas uma “amostra” do que era originalmente.
Relembro que a Monster 696 estreou um quadro mais curto, que com a chegada da
Monster 1200 foi encurtado ainda mais, aparafusando-se então diretamente às
cabeças do motor.
Este
motor de 111 cv e 93 Nm de binário apresenta-se bastante mais refinado do que
me recordo da 821. A capacidade de entrega de binário a baixos regimes é
excecional, e a médios regimes o bicilíndrico de Borgo Panigale sobe de
rotações com bastante facilidade, mas ao mesmo tempo não é demasiado agressivo.
Rodar o punho direito em 2ª ou 3ª resulta numa enorme descarga de adrenalina
enquanto visualizamos – se conseguirmos! – a velocidade a aumentar e as
rotações a chegarem rapidamente ao “red line” no painel de instrumentos TFT a
cores.
O
sistema de “quickshift” da Ducati oferece à nova Monster uma nova dimensão ao
nível das trocas de caixa, precisas e suaves na engrenagem de cada relação.
Notei, no entanto, que de 5ª para 6ª e vice-versa necessitei sempre de fazer um
pouco mais de força no seletor de caixa.
O
motor Testastretta 11º de distribuição desmodrómica é uma autêntica joia.
Suave, melodioso enquanto respira por duas ponteiras laterais sobrepostas e que
acompanham na perfeição o ângulo da traseira e vão “cuspindo” alguns rateres
nas desacelerações, destaca-se pela ausência de vibrações, exceto quando rolamos
entre as 7.000 e as 8.000 rpm, altura em que se notam, através dos poisa-pés e
guiador, algumas vibrações. Nada de extraordinário, mas ainda assim é algo que
se nota.
Já
referi a redução de peso derivado da utilização do quadro Front Frame. Mas essa
redução de peso ganha contornos escandalosos quando olhamos para o total. A
Ducati revela que a nova Monster pesa apenas 188 kg a cheio. Isso significa que
conseguiram que a sua icónica naked perdesse nada menos do que 18 kg em
comparação com a anterior 821.
Um
trabalho de engenharia verdadeiramente espetacular e que merece nota de
destaque, pois em condução resulta numa moto que se mexe com uma agilidade
superior, sem perder estabilidade, e com uma certeza de reações que acabam por
maximizar a confiança do condutor, que assim se sentirá confortável para levar
a Monster ao limite, trocando de direção sem esforço, com a frente a mostrar-se
estável mesmo perante asfalto mais irregular, e é possível corrigir as
trajetórias em plena inclinação sem sermos obrigados a grande força no guiador.
Nota-se,
no entanto, em situações limite, a ausência de um amortecedor de direção,
particularmente útil numa moto que gosta de levantar facilmente a roda
dianteira do asfalto. Na traseira o monoamortecedor revelou uma tendência para
digerir os impactos com maior dureza do que o esperado, o que se traduz numa
traseira mais “vivaça” e a exigir um pouco controlo adicional dos movimentos do
corpo para a manter na linha.
Para
além da utilização do quadro e motor mais leve, a Ducati conseguiu reduzir o
peso total usando um subquadro fabricado em polímero reforçado de fibra de
vidro (-1,9 kg), as jantes permitiram reduzir outros 1,7 kg, enquanto o braço
oscilante que adota uma configuração convencional em vez do desenho monobraço, garantiu
uma redução de peso de 1,6 kg.
Isto são apenas números, é verdade, e aos fãs da Monster que ainda “choram”
pela geração anterior isto não interessa para nada. Mas na realidade, é
impossível ficar indiferente a este trabalho por parte da Ducati. Eu pelo menos
não consigo ficar.
Claro
que numa moto deste calibre e que foi pensada para desfrutar das curvas numa
estrada de montanha, a travagem não poderia adotar elementos de menor
qualidade. Neste particular, a Ducati recorre, como habitualmente, aos seus
parceiros Brembo, que fornecem para a nova Monster as pinças monobloco M4.32 de
quatro pistões e discos de 320 mm, na dianteira, enquanto na traseira o disco
de 245 mm é mordido por pinça de dois pistões.
Esta é uma combinação testada e de eficácia comprovada, e perfeitamente
adaptada às necessidades dinâmicas da Monster. O tato na manete é progressivo,
e embora não seja contundente, sente-se que temos uma potência de travagem que
nos garante que, se necessário, conseguimos travar em poucos metros.
O pacote
eletrónico incluído de série na nova Monster é também um bom exemplo de como
esta naked se adapta aos tempos mais recentes. Antigamente as Monster não
disponibilizavam qualquer opção eletrónica.
E, no entanto, desde há alguns anos, com a introdução do “ride by wire” e modos
de condução, até mesmo os “Monsteristi” mais acérrimos acabaram por aceitar os
benefícios desta evolução tecnológica e hoje não dispensam as ajudas à
condução. Se calhar está aqui um exemplo do que podem também fazer em relação a
outras coisas como o Front Frame? Deixo esta ideia no ar para que possam
refletir.
Regressando
à Monster e ao seu “pack” eletrónico, podemos dizer que esta nova geração tem o
que precisamos, e graças à unidade de medição de inércia, o que precisamos está
mais eficiente.
Os três modos de condução – Sport, Touring e Urban, este último reduz a
potência – alteram automaticamente os parâmetros do controlo de tração, do ABS
com função em curva, e ainda do controlo de levantamento da roda dianteira,
também conhecido como Wheelie Control. A forma como o motor responde aos
impulsos no acelerador está também diretamente ligada ao modo de condução
escolhido.
Tantas
opções, e todas elas ajustáveis, acabam por permitir um nível de personalização
excelente. Através dos menus intuitivos da Ducati podemos facilmente adaptar a
Monster ao nosso gosto.
No meu caso, a minha escolha recaiu preferencialmente sobre o modo Touring, com
potência total, mas mais progressiva, embora tenha feito ajustes na intervenção
do controlo dos “wheelies” e do ABS para serem menos sensíveis.
É um pacote bastante eficaz na forma de atuar, o controlo de tração passa despercebido
a maior parte do tempo a não ser que provoquemos a sua intervenção ao abrir
acelerador de forma abrupta na saída de curva, e o ABS nunca se fez notar mesmo
nas travagens mais fortes.
Veredicto Ducati Monster+
Comecei
este teste com uma pergunta: Será a nova Monster um sucesso ou um sacrilégio? A
resposta, pelo menos para mim, é clara! A nova geração está mais evoluída e
refinada, oferece melhores opções em termos de eletrónica, e a ciclística
moderna garante sensações dinâmicas que tornam a nova Monster num sucesso.
Falta as vendas confirmarem isto que estou a dizer, mas estou confiante que,
passada a desconfiança inicial, os “Monsteristi” vão reconhecer o que está em
causa nesta mudança radical.
Concordo
com aqueles que afirmam que a Monster perdeu o seu charme. Pelo menos em parte.
Mas sou obrigado a reconhecer que, do ponto de vista do que é uma moto eficaz e
que nos transmite prazer de condução, a Ducati acertou em cheio. A Monster é
uma moto melhor do que foram as anteriores. É, como se costuma dizer, “mais
moto”. E isso só pode ser bom.
Neste teste utilizámos os seguintes equipamentos de proteção:
Capacete
– Shark Spartan
Blusão
– REV’IT! Hoody Stealth
Calças
– REV’IT! Orlando H2O
Luvas
– Ixon RS Slick HP
Botas
– REV’IT! Mission
Galeria de fotos Ducati Monster+
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