Contraponto Power Cruisers - Ducati Diavel V4 vs Harley Davidson Sportster S vs Triumph Rocket 3 R
A vida é feita de sonhos. Sonhos que alimentam a esperança, sonhos que justificam empenho e criam objetivos, sonhos de felicidade, superação, conquista, prazer… O sonho é uma constante da vida. Como diz o poeta, cada vez que um homem sonha o mundo pula e avança. Com as motos que aqui lhe trago, o sonho faz o mundo pular e avançar muito muito rapidamente.
andardemoto.pt @ 29-8-2023 07:00:00 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte
Há diversas formas de encarar o motociclismo. Todos sabemos isso e não vou aqui entrar em filosofias baratas. Mas é certo que comprar uma moto é sempre um exercício de equilíbrio entre a razão e a paixão.
Com o mercado e as ruas a serem inundados por motos económicas, versáteis e simples, para uma utilização sobretudo urbana resultante de uma decisão racional, não passam despercebidos os esforços dos fabricantes europeus e americanos em colocar no mercado verdadeiras obras de arte, completamente fora do conceito de racionalidade, mas inspiradoras de enorme paixão. É o caso destas 3 motos.
Completamente diferentes entre si, tanto pelo tipo de motor ou número de cilindros, como pelo sistema de transmissão final, pela estética ou ainda pelo seu desempenho dinâmico, estas 3 motos têm em comum a reação que despertam em quem nelas põe os olhos, ainda que de motos perceba pouco ou praticamente nada.
As linhas voluptuosas, as ponteiras de escape ostensivas e intimidantes, os grandes blocos dos motores e o exagero das medidas dos pneus, revelam imediatamente que não se trata de motos simples, mas antes de objectos de culto e desejo, de vaidade e afirmação, que se revelam um regalo para a vista e uma verdadeira inspiração.
Por isso decidi revisitá-las, uma vez que anteriormente já tinha tido oportunidade de as testar (abaixo encontra os links para os respectivos testes).
Cada uma com a sua personalidade muito própria, todas elas chamam a atenção por onde passam e devolvem o investimento nelas feito com um enorme prazer de condução e um grande orgulho na sua ostentação.
Não são (mas até podiam ser) motos de corrida; são antes motos para passear, para saborear, cada uma delas à sua maneira muito própria, mas todas elas dignas de serem admiradas pelas suas linhas e detalhes, estéticos ou tecnológicos.
Continuando com a politicamente correta ordem alfabética já usada no título, passo a analizar cada uma destas 3 impressionantes motos.
Ducati Diavel V4 - Prazer infernal
Como referi no teste que pode ler se clicar no link, a Diavel é uma cruiser com ambições, que consegue desassossegar tudo e todos, com a sua atitude pouco digna para a sua classe, a classe das Power Cruisers.
Além das linhas estonteantes, o seu motor V4 Granturismo de 1158 cc, com os seus 168 cv e 126 Nm de binário proporciona potência instantânea e avassaladora, capaz de transformar qualquer semáforo numa grelha de partida e garantir o holeshot. Mas também transforma qualquer recta numa dragstrip e qualquer estrada de curvas numa empolgante montanha russa.
A relação peso/potência de 1,4 kg/cv da Diavel V4 é melhor do que, por exemplo, a de uma Kawasaki Z900 (1,68cv/kg) ou de uma Honda CB1000R (1,48 cv/kg), levando ainda de vantagem um binário consideravelmente superior ao de ambas (aproximadamente mais 20%).
Isto permite que a Diavel V4 registe um arranque de 0 aos 100km/h em apenas 3 segundos e uma extrema facilidade em atingir quase instantaneamente velocidades perfeitamente obscenas, com uma compostura difícil de alcançar em motos mais leves e com distâncias entre eixos mais curtas. E numa estrada de curvas, não se inibe de criar imensos sorrisos de orelha a orelha, sobretudo graças à alucinante capacidade de travagem e tração na saída das curvas.
Como grandes argumentos, a Diavel V4 apresenta além de um grande aprumo ciclístico, um completo pacote eletrónico de ajudas à condução que proporcionam uma enorme confiança em qualquer circunstância. A grande suavidade do motor, mesmo a baixa rotação, também contrasta com a facilidade com que sobe de regime, mesmo nas relações de caixa mais altas.
Junta-se a isto o conforto a bordo, proporcionado tanto pelo excelente desempenho da suspensão como pelo perfeito encaixe no assento e por um triângulo ergonómico muito bem estudado, que garante muitos quilómetros de prazer.
Comparada com as suas rivais neste contraponto, a Diavel é a mais desportiva, a mais potente e a mais cara. O seu maior óbice é conseguir manter os limites legais de velocidade, ou conseguir escapar incólume à malha apertada dos radares de velocidade.
Harley-Davidson Sportster S - Cruiser do Futuro
A nova desportiva da marca de Milwaukee, além da silhueta baixa e esguia de contornos bem definidos, pouco tem a ver com as velhas, modestas e simples Sportsters de antigamente,
Submetida a uma profunda operação de rejuvenescimento que se estendeu dos cilindros ao quadro e à suspensão, e a um refinamento tecnológico até então inexistente numa cruiser, menos ainda numa do seu segmento, a Sportster S faz agora justiça à sua designação, mostrando-se incomparavelmente mais rápida e controlável que as suas obsoletas antecessoras.
Linhas mais estilizadas tornam-na extremamente atrativa, menos vibrações e uma nota de escape muito interessante, mas bastante longe do velho e típico “potato potato potato”, dotaram a nova Sportster S de um desempenho que mais faz lembrar a V-Rod do que as suas antecessoras.
A Sportster S delicia-nos com o seu desempenho dinâmico e conquista-nos com o prazer de condução, revelando-se bastante intuitiva e fácil de inserir em curva e até mesmo de manobrar. O assento, colocado a apenas 734 mm do chão, favorece as estaturas mais baixas e manobrar os 228 kg de peso a cheio é uma tarefa relativamente fácil.
A transmissão final por correia contribui para um reduzido nível de vibrações e ruído, que potencia a sensação de solidez que o conjunto oferece.
Comparada com as suas rivais neste contraponto, a Sportster S é a que melhor se adapta a uma utilização urbana, cenário ideal para sua maior agilidade e onde a falta de proteção aerodinâmica não é uma desvantagem. Todo o conjunto incute na condução um espírito rebelde e uma atitude descontraída. É das 3 a mais leve e a mais barata, a que se mostra mais radical em linhas e na posição de condução, mas é também aquela cuja herança do seu nome a torna mais apetecível. E esse é o seu maior óbice, sobretudo para quem tiver uma personalidade recatada e tiver que se ver confrontado por estranhos a babarem-se para cima dela!
Triumph Rocket 3 R - O Poder do Músculo
Um verdadeiro hino ao prazer de condução, uma ode à estética, um desafio ao convencional. Não, não foi mais ninguém que o disse, fui eu mesmo!
Com 2.500cc de cilindrada, uma potência de 167cv e um binário máximo de 221Nm, a Rocket 3 R é a moto de produção em série com maior cilindrada e com mais binário.
As suas linhas formam uma verdadeira escultura voluptuosa que permite horas e horas de contemplação na descoberta de todos os pequenos pormenores que escondem a muita tecnologia e engenho necessários para pôr em andamento aquele enorme motor entre apenas duas rodas.
Mais impressionante do que isso, é a inacreditável suavidade de funcionamento do tricilíndrico e a respectiva entrega de potência. Uma fonte inesgotável de binário cujo objectivo é catapultar-nos para a frente, acompanhados pela melodia única e viciante que lhe sai pelos belos escapes. Uma enorme potência completamente controlada por um pacote eletrónico muito completo e um interface simplificado.
E tão ou mais digno de nota é o comportamento dinâmico do conjunto, com um impressionante comportamento em curva, sobretudo a alta velocidade, suportado por equipamento de alto nível tanto na suspensão como na travagem, que gerem o elevado peso com enorme competência.
Claro que se lhe nota o peso, a inércia não perdoa, mas a qualidade de construção inspira uma enorme confiança. Aos seus comandos não me saia da cabeça a velha alegoria do elefante a saltar delicadamente de nenúfar em nenúfar.
Das 3 motos aqui referidas é a que apresenta o maior binário (quase o mesmo que as outras duas juntas) e a única que tem transmissão por veio e cardã, com todas as vantagens que isso proporciona. Em termos estéticos é a mais interessante e consensual e em termos de condução é a que proporciona a experiência mais refinada e memorável. O seu maior óbice será a curta duração do pneu traseiro se não se conseguir resistir à tentação de fazer rolling burnouts.
andardemoto.pt @ 29-8-2023 07:00:00 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte
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