Teste BMW S 1000 R - Lobo em pele de cordeiro
A BMW S 1000 R está mais refinada e muito bem equipada com opcionais e extras que elevam a sua performance para um patamar superior. A powernaked alemã pode parecer um cordeiro… mas é um verdadeiro lobo!
andardemoto.pt @ 13-7-2021 12:00:00 - Texto: Bruno Gomes | Fotos: Luis Duarte
Num
dos segmentos mais concorridos do momento, as powernaked ou hypernaked,
conforme preferir denominar estas naked de alta performance, não podia faltar a
proposta bávara S 1000 R, devidamente atualizada para 2021 para cumprir com as
normas Euro 5.
A BMW Motorrad não foi atrás dos números de performance que nos fazem “brilhar”
nas conversas entre amigos no café. Podia tê-lo feito, pois a base da nova S
1000 R é a fantástica S 1000 RR, a superdesportiva com mais de 200 cv. Na
realidade, e tal como me foi confidenciado em 2014 quando estive na
apresentação da primeira geração da S 1000 R, os engenheiros alemães podiam ter
facilmente chegado aos 200 cv já nessa altura!
Mas numa naked, uma moto em que a proteção aerodinâmica é extremamente reduzida
para não dizer nula, será que ir à procura dos 200 cv seria o melhor caminho a
seguir nesta nova geração da S 1000 R?
De acordo com a BMW Motorrad, esse não seria o caminho a seguir. Em vez disso,
preferiram ganhar performance de outra forma. E de certa forma sou obrigado a
concordar com os “Zie Germans”. Não me interprete mal! Eu sou o primeiro a
“babar” por uma powernaked de mais de 200 cv. Adorei a Ducati Streetfighter V4
S quando a testei. Mas também concordo que será possível encontrar formas de tornar
uma moto mais eficaz e divertida sem ir à procura de potência ao nível de uma
superdesportiva.
Então como é que a BMW Motorrad conseguiu melhorar a S 1000 R para a colocar
novamente ao nível das rivais mais poderosas, sem apresentar uma potência e binário
tão elevados? A resposta a esta questão é simples: peso!
Atualmente estamos tão habituados a ouvir os grandes fabricantes regozijarem-se
com potência e binários estratosféricos que quase nos esquecemos que basta
começar a retirar quilos ao conjunto para imediatamente ganharmos “potência”,
maximizando a relação peso / potência da moto. E aí a S 1000 R ganha aos pontos
às suas rivais, particularmente quando conta com extras e opcionais como o Pack
M que inclui, entre diversos componentes especiais, umas esbeltas jantes
forjadas e uma bateria mais leve.
Mas, e aproveitando a época do ano que vivemos, a “dieta do biquíni” na naked
alemã não se fica por aqui. Para conseguir reduzir o peso anunciado da S 1000 R
“Pack M” num total de 12 quilos em comparação com a geração anterior (a versão
base pesa menos 7 kg) a BMW Motorrad reformulou por completo o motor. Caso queira
reduzir ainda mais o peso, basta adicionar ao equipamento as jantes opcionais
em fibra de carbono.
Mantendo a sua arquitetura quatro cilindros em linha com 999 cc, o
tetracilíndrico que empurra os 194 kg a cheio da S 1000 R com o Pack M está
mais leve e pesa agora 58,5 kg, menos 6%, sendo notável também o trabalho
realizado pela equipa de desenvolvimento do motor que conseguiu torná-lo bastante
compacto, reduzindo em 12 mm a sua largura.
É certo que estamos a falar de milímetros, mas a verdade é que este é um
daqueles detalhes milimétricos que acabamos por notar assim que nos sentamos
aos comandos da S 1000 R, e percebemos que as pernas ficam mais próximas, o que
proporciona uma posição de condução mais agradável.
Ainda no motor, e ao contrário da RR, a S 1000 R não dá uso à fabulosa
tecnologia ShiftCam, abertura variável das válvulas. A justificação para a não
utilização do ShiftCam é simples: a naked não deverá ser muitas vezes explorada
acima das 10.000 rpm. Por isso não fazia sentido adicionar o sistema ao motor,
o que iria certamente elevar a complexidade mecânica e, claro, o preço final.
Ainda assim, com 165 cv às 11.000 rpm e com um binário máximo de 114 Nm às
9.250 rpm, a BMW S 1000 R não deixa ninguém triste com a sua performance.
A acompanhar o novo motor que está instalado no denominado Flex Frame, uma
estrutura dupla trave em alumínio que utiliza o motor como reforço para
garantir uma rigidez torsional ideal, mantendo o peso o mais baixo possível,
encontramos uma transmissão 7% mais leve mas, mais importante, com as três
últimas relações de caixa mais longas 2%, 4% e 8% respetivamente.
O objetivo desta modificação foi de dotar a S 1000 R de melhores capacidades
“touring”, baixando rotações a velocidades de cruzeiro, o que reduz vibrações,
mas acima de tudo os consumos que conforme verificámos neste teste passam
facilmente dos 6,5 litros de média caso o condutor se entusiasme demais com o
acelerador.
E isso é algo que facilmente acontece, pois a naked alemã, apesar da sua
estética mais convencional e menos agressiva quando comparada com rivais mas
também com a anterior geração, é na realidade um lobo à espera do momento certo
para atacar!
Frente a frente com a nova S 1000 R de 2021 a minha primeira reação foi de
surpresa pela BMW Motorrad ter abandonado a estética assimétrica na dianteira.
Este era um dos seus destaques, e embora não fosse um elemento do agrado de
todos os motociclistas, com o passar dos anos confesso que passei a achar muita
piada às óticas assimétricas. Agora a S 1000 R está mais agradável à vista,
menos agressiva, embora as pequenas carenagens laterais estejam maiores e
pronunciadas, abraçando inclusivamente as bainhas da forquilha.
A unidade aqui testada está equipada com o denominado Headlight Pro, sistema de
iluminação que, para além de ser “Full LED”, tal como na variante base,
adiciona a função de iluminação em curva graças a um conjunto de LEDs
adicionais que acendem conforme o ângulo atingido em inclinação.
A perna passa facilmente por cima do assento M posicionado a 830 mm de altura
do solo. Não é um assento baixo, mas, tal como referi acima, o motor e quadro
mais estreito resultam numa zona de união entre o assento e o depósito de
combustível que é mais esguia, facilitando chegar com os pés ao solo.
Com uma posição de condução bastante modificada, a primeira sensação que temos
aos comandos da nova BMW S 1000 R é, para além da leveza do conjunto, a forma
como nos obriga a deitar mais sobre o depósito de combustível de forma a
agarrar os punhos. Isto acontece porque o guiador adota um desenho totalmente
plano, e os apoios do guiador deixam-no mais abaixo do que antigamente.
Isto resulta numa posição de condução mais desportiva do que esperava, e embora
não seja de todo cansativa, é um ponto que torna a condução da S 1000 R um
pouco mais exigente em estrada. Presumo, pois não tive a oportunidade de a testar em pista, que
esta moto com os acessórios do Pack M seja muito mais eficaz em pista. Alguém
sabe se o Troféu Naked do Campeonato Nacional de Velocidade está a aceitar
novas entradas em 2022? A S 1000 R certamente seria uma máquina a ter em conta
neste ambiente.
Não posso deixar de referir que o seletor de caixa, com um curso muito, muito
curto, tem um desenho demasiado agressivo. As minhas botas REV’IT! Mission não
resistiram ao desgaste das trocas de caixa, e nem mesmo a zona mais protegida
no peito do pé impediu o seletor de causar uma pequena ferida no pé.
Por outro lado, as trocas de caixa são precisas, suaves, com um tato
ligeiramente mecânico nas reduções. E a verdade é que muitas vezes o condutor
vai sentir-se tentado a reduzir de caixa desnecessariamente apenas para ouvir o
borbulhar do sistema de escape Akrapovic, com os habituais “pops & bangs”,
bastante audíveis quando selecionamos os modos de condução Dynamic ou Dynamic
Pro.
A ignição “keyless” que faz parte do Pack Comfort (581,30€) permite ligar o
motor rapidamente sem ter de rodar a chave no canhão da ignição. A chave apenas
é necessária para abrir o tampão do depósito de combustível, uma situação algo
incompreensível tendo em conta que isso obriga a tirar a chave do bolso numa
moto que funciona sem ela na ignição.
Assim que ligamos a moto o painel de instrumentos de 6,5 polegadas acende-se e
apresenta uma animação exclusiva e bem conseguida. Imediatamente ficamos com a
sensação de estar aos comandos de uma moto “premium”, sensação essa que é
depois exponenciada quando analisamos a qualidade impecável dos acabamentos e
construção. Neste painel bastante colorido as informações são muitas, bem
legíveis, e a roda no punho esquerdo permite navegar pelas diversas opções e
menus de forma lógica e rápida.
A unidade testada conta com os modos de condução normais – Rain, Road e Dynamic
– mas graças ao Pack Dynamic o botão no punho direito desbloqueia um quarto
modo de condução denominado de Dynamic Pro, que permite que tanto o motor como
a eletrónica mostrem o que valem com parametrizações mais apropriadas para
utilização em pista.
Tendo em conta que nos dias em que tive a S 1000 R para testar não estava a
chover, apenas experimentei o modo de condução Rain por breves instantes. Foi
mesmo apenas para confirmar que a entrega de potência se reduz
significativamente e que o tato do acelerador eletrónico se torna muito mais
progressivo.
Rapidamente percebi que o modo Road é o mais agradável para condução em
estrada. Com o acelerador progressivo e as suspensões DDC eletrónicas a
absorverem os ressaltos de forma mais suave do que me recordava da S 1000 R,
esta naked revela-se uma moto muito contida em termos de reações a baixos
regimes.
O quatro cilindros apresenta um funcionamento muito refinado, sem grandes
vibrações, e o calor que emana não é exagerado, o que acaba por ser uma
mais-valia em termos de utilização em meios urbanos. Para uma condução “normal”
em cidade, a postura em cima da moto é mais agressiva do que seria ideal, as
pernas fletem um pouco mais e os braços bem abertos acabam por cansar se
estivermos no habitual “pára-arranca” nos semáforos.
Nota positiva para as suspensões semi-ativas DDC, que em modo Comfort se
mostram perfeitas para rolar de forma descontraída e sem transmitir para o
condutor a sua firmeza.
Mas basta encontrar um percurso de estrada mais aberto e tudo começa a encaixar
melhor. O assento M garante um enorme apoio nas acelerações, e enquanto
rapidamente troco para modo de condução Dynamic, sinto perfeitamente as
suspensões eletrónicas a tornarem-se menos complacentes com as irregularidades
do asfalto.
As trocas de direção acontecem com uma facilidade estonteante. É aqui que a BMW
S 1000 R fará a diferença para as rivais. O menor peso e um controlo mais
direto da direção, fruto do guiador redesenhado, ajudam a sentir de forma
imediata o que o conjunto está a fazer, e colocar a frente na trajetória
desejada é uma “brincadeira de crianças”. Basta pensar, olhar e apontar. A S
1000 R fará exatamente o que queremos, traçando trajetórias agressivas e mantendo
uma velocidade de passagem em curva muito assinalável.
A forquilha dianteira torna-se também num elemento muito importante em toda
esta dinâmica.
Aguenta perfeitamente as transferências de peso da traseira para a dianteira do
conjunto enquanto abusamos dos travões monobloco fabricados pela Hayes e com
“branding” BMW. A forma como a frente reage, mantendo a estabilidade nas
travagens mais fortes, é perfeita, permitindo depois posicionar a moto na
trajetória mesmo quando necessitamos de reagir de forma mais reativa porque
entrámos demasiado depressa numa curva mais apertada.
O motor quatro cilindros revela-se bastante dócil até chegar às 6.000 rpm. A
partir daí e até cerca de 9.500 rpm os 165 cv realmente fazem-se notar, e é
necessário agarrar com força os punhos para garantir que não ficamos para trás
na aceleração. A entrega de potência acontece de forma linear, sem falhas, e ao
mesmo tempo contundente. Rapidamente, e mesmo sem darmos conta, estamos a
circular a velocidades bem acima do permitido pelo Código da Estrada.
Com uma distância entre eixos de apenas 1450 mm a tendência para levantar a
roda da frente em aceleração é notória, e precisamos de nos equilibrar de forma
a colocar mais peso na frente nestes momentos. Porém, aqui também contamos com
a preciosa ajuda dos sistemas eletrónicos como o controlo de tração, sensível à
inclinação graças à utilização de uma plataforma de medição inercial de 6
eixos.
O controlo de tração em modo de condução Dynamic revela-se um pouco mais
intrusivo do que esperava à saída das curvas. Para evitar acionar o sistema
será necessário controlar os impulsos no acelerador.
Por outro lado, o DTC avançado conta com controlo integrado do levantar da roda
dianteira, fazendo com que a roda se mantenha perto do asfalto e garantindo
assim que somos catapultados de curva em curva enquanto os 114 Nm de binário
obrigam o pneu traseiro na medida 200 a agarrar-se ao asfalto como pode.
A travagem está também num nível elevado. A “mordida” inicial é mais
progressiva do que senti quando rodei com a S 1000 RR, mas sente-se que a
potência disponível é muita, com as pinças monobloco de quatro pistões a não
revelarem qualquer receio perante o esforço de morder os discos de 320 mm de
diâmetro.
Um detalhe relevante tendo em conta o Pack M e uma possível utilização em
circuito é o facto dos discos, nesta versão mais exótica (e dispendiosa!),
apresentarem uma espessura de 5 mm em vez dos 4,5 mm da versão base. Uma
pequena diferença que se torna numa grande diferença para garantir uma travagem
mais constante.
E para que fique com uma melhor ideia do nível de equipamento e valores dos diferentes extras e opcionais instalados na BMW S 1000 R aqui testada, aqui fica a lista completa:
- Iluminação adaptativa: 174,80€
- Farol dianteiro Pro: 162,60€
- Pack M: 2.353,66€. Inclui corrente M Endurance (sem manutenção), M-GPS Lap
Trigger, ponteira de escape Sport da Akrapovic, assento M, bateria M, jantes
forjadas M
- Kit assento do passageiro: 44,72€
- Pack Comfort: 581,30€. Inclui ignição “keyless”, ficha USB, punhos aquecidos
e “cruise control”
- Pack Dynamic: 967,48€. Inclui MSR (gestão efeito travão motor), assistente de
passagem de caixa Pro, suspensões semi-ativas DDC, modos de condução Pro, spoiler
inferior do motor e kit de passageiro
- Controlo da pressão dos pneus: 199,19€
- Pára-brisas desportivo: 113,82€
- Sistema de alarme: 203,25€
- Chamada de emergência: 308,94€
- 5 anos de garantia: 345,53€
O PVP recomendado da versão base da nova BMW S 1000 R começa nos 15.184€. Já a versão
ensaiada, que conta com todo o equipamento adicional referido, tem um PVP de 21.894,01€.
Veredicto BMW S 1000 R
Mais musculada e eficaz, a nova geração da powernaked alemã
brilha pelas suas reações dinâmicas bastante diretas e pelo motor que, embora
não dando uso à mais avançada tecnologia ShiftCam da S 1000 RR, é uma unidade
motriz com muito pulmão e com uma resposta a médios regimes que nos deixa de
sorriso nos lábios.
Para mim, e esta, claro é uma opinião pessoal, penso que o novo design,
embora mais civilizado, faz com que a S 1000 R perca o seu carisma irreverente que a diferenciava das rivais. Na verdade, o design assimétrico típico das
BMW Motorrad está a desaparecer do catálogo alemão.
É impossível dissociar o excelente comportamento dinâmico da generosa (e
dispendiosa) quantidade de opcionais e extras que tivemos à disposição neste
teste. Aconselho vivamente a aquisição do Pack M pelas jantes forjadas e
corrente M Endurance. E o Pack Dynamic também deve estar no topo das suas
prioridades caso queira adquirir a S 1000 R, pois as suspensões semi-ativas
estão bem afinadas e os modos Pro têm um funcionamento mais pormenorizado.
A qualidade de construção e acabamentos colocam a S 1000 R acima de qualquer crítica. É uma proposta verdadeiramente “premium”. É uma naked que pode parecer um cordeiro ao não apresentar cifras recorde de potência. Mas na estrada, onde interessa conseguir que essa potência passe para o asfalto, a nova BMW S 1000 R é um verdadeiro lobo pronto a devorar a concorrência.
Neste teste utilizámos os seguintes equipamentos de proteção
Capacete – X-lite X-803 RS Ultra Carbon
Blusão – REV’IT! Hyperspeed Pro
Calças – REV’IT! Orlando H2O
Luvas – REV’IT! Chevron 3
Botas – REV’IT! Mission
Galeria de fotos BMW S 1000 R
andardemoto.pt @ 13-7-2021 12:00:00 - Texto: Bruno Gomes | Fotos: Luis Duarte
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