Teste Ducati Monster SP - Emoções ao rubro
Se não gosta de emoções fortes, se não quer perder pontos na carta de condução, se não está em boa forma física, se preza o conforto e não pretende usar muito a caixa de velocidades nem limpar mosquitos do blusão, do capacete, das luvas e das botas, então não leia este artigo.
andardemoto.pt @ 30-3-2023 10:18:33 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte
A Monster SP é uma máquina infernal. Literalmente. Consegue encantar-nos e, ao mesmo tempo, fazer-nos odiá-la, sendo simultaneamente encantadora e pavorosa. Passo a explicar:
Ciclisticamente a Monster SP é uma obra de arte tecnológica. Compacta, leve, ágil, fácil de inserir em curva, dotada de uma suspensão inabalável em qualquer piso e a qualquer velocidade e duma travagem irrepreensível com potência e dosagem mais do que suficientes em qualquer situação, esta “pequena” Ducati tem um manancial desportivo verdadeiramente incrível.
Mas como nem só de ciclística vive uma moto, os engenheiros de Bolonha instalaram-lhe um dos seus clássicos bicilíndricos desmodrómicos, o Testastretta 11°, capaz de debitar 111cv de potência, registados a umas alucinantes 9.250 rpm.
A caixa de velocidades, suave e precisa, ajudada por uma embraiagem de accionamento extremamente leve, beneficia ainda de um quickshifter integral de funcionamento irrepreensível a qualquer regime. Pelo escape, a Monster SP emite uma musicalidade completamente irresistível, sedutora até, mas sem ser ensurdecedora.
A posição de condução é desportiva, sem carregar muito peso nos punhos nem forçar demasiado os joelhos. O assento é confortável e bastante espaçoso. A suspenção encarrega-se de alisar com extrema eficácia as irregularidades do piso. A altura livre dos poisa-pés ao solo transmite confiança e promove uma aproximação despreocupada às curvas, permitindo desfrutar do excelente comportamento dos pneus Pirelli Diablo Rosso IV.
Manobrar é extremamente fácil. O assento estreito permite colocar os pés bem assentes no chão, a brecagem é excelente e o peso extremamente contido (186kg a seco) tornam qualquer inversão de marcha ou estacionamento numa simples brincadeira. Curiosamente, apesar do seu aspecto compacto e da minha estatura avantajada, não me senti acanhado aos seus comandos encontrando, pelo contrário, uma posição de condução bastante confortável e proactiva.
Mas (há sempre um mas…) o grande senão desta Monster SP não é um, são dois. O primeiro, à semelhança de qualquer moto naked, é a falta de proteção aerodinâmica. Sendo praticamente impossível resistir à tentação de abusar dos quase 100 Nm de binário, todas as espécies de insectos parecem não resistir também à tentação de se esborracharem em qualquer superfície do corpo do condutor, que não fique escondida pelo diminuto depósito de combustível.
O segundo senão também influencia o primeiro. É que o Testastretta não gosta, em absoluto, de baixos regimes. Engasga-se, soluça, chocalha, obriga a trabalhar bem a caixa de velocidades e a embraiagem, e só começa a ganhar compostura já para lá do meio da escala do taquímetro, quando se começa a revelar perfeitamente ao nível da ciclística, devolvendo em compensação, momentos de condução verdadeiramente épicos.
Claro que por essa altura, ter-se-ão já atingido ritmos de andamento próprios de autódromo, completamente condenáveis se postos em prática na via pública.
Seria no entanto, precisamente a esses ritmos que se daria conta da facilidade com que se atingem altas velocidades e se denotaria a escassa capacidade do depósito, que nos obrigaria a parar para reabastecer a cada 35/40 minutos, depois de completar pouco mais de 100 quilómetros.
Ou se poderia apreciar o excelente desempenho do quadro e da suspensão, completamente indiferentes às deformações do asfalto, mantendo as rodas sempre bem coladas ao chão, mesmo quando abusando das ajudas eletrónicas. Realmente desaconselhável!
Até porque o pacote eletrónico adapta-se perfeitamente a uma condução em circuito. Além dos Riding Modes Sport, Touring e Wet, a Monster SP tem Cornering ABS, Traction Control e Wheelie Control, qualquer deles ajustável em vários níveis de intervenção e nem sequer lhe falta um dispositivo de Launch Control que garante arranques memoráveis, mas algo obviamente desnecessário para a saída de um semáforo.
Outro fator que impressiona é a qualidade de construção e o equipamento de alto gabarito, como a forquilha dourada Öhlins NIX30, o monoamortecedor Öhlins totalmente regulável, as pinças de travão dianteiras monobloco Brembo Stylema, o silenciador homologado Termignoni, o ecrã TFT a cores de 4.3″, a iluminação Full LED, o amortecedor de direção e a bateria de iões de lítio, que tornam o conjunto altamente desejável, mesmo aos olhos dos menos esclarecidos.
Os puristas, fieis devotos da M900 Monster lançada no mercado em 1993 e que criou legiões de fãs por todo o mundo, tiveram alguma dificuldade em contornar a ausência do quadro em treliça e do monobraço e condenaram a adopção da refrigeração por líquido, mas a verdadeira essência deste modelo continua bem presente nos dias de hoje, com a vantagem de, comparativamente com a concorrência, estar ainda melhor.
A facilidade com que muda de direção, o excelente comportamento em ângulo e a aceleração alucinante na saída das curvas, a par com a elevada capacidade de travagem, fazem dela um instrumento de precisão no ataque ao cronómetro, completamente desperdiçado numa utilização na via pública.
O seu preço de 15.595 € pode não ser acessível a muitas bolsas, mas é perfeitamente justificado pelo nível de equipamento e inclui uma garantia de 48 meses com quilometragem ilimitada. Os intervalos de serviço a cada 15.000 km ou 24 meses, são complementados com uma afinação do sistema desmodrómico (afinação de válvulas) a cada 30.000 km.
Equipamento
Neste teste utilizámos os seguintes equipamentos de proteção:
andardemoto.pt @ 30-3-2023 10:18:33 - Texto: Rogério Carmo | Fotos: Luis Duarte
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