Pedro Pereira

Pedro Pereira

Só ando de moto em 2 locais: na estrada e fora dela!

OPINIÃO

A, B, C do equipamento “fora de estrada” - Parte II

Depois de no artigo anterior nos termos dedicado à Parte I (cabeça e pescoço), ficou prometido continuar “por aí abaixo”. Como “o prometido é devido”, vamos agora ao tronco e membros superiores.

andardemoto.pt @ 2-5-2019 16:11:10 - Pedro Pereira

Considerámos que na parte I está a Sala de Controlo da máquina que é o nosso corpo. Aqui podemos dizer que temos a Casa das Máquinas!

Conclusão óbvia: não passam uma sem a outra, pelo que necessitamos de ambas! Sendo que em termos de área e volume o tronco e os membros superiores são, de longe, os que costumam sofrer mais lesões, de diversa gravidade e com eventual necessidade de intervenções cirúrgicas, além de possíveis sequelas que facilmente ficam para o resto da vida!

De entre as lesões mais habituais no fora de estrada por situações de queda, embate, movimentos de torção, atrito… há as pequenas lesões como queimaduras, entorses, arranhões, pequenas luxações, equimoses (para os mais distraídos podem ser nódoas negras), unhas negras, calos (sim, não é só a trabalhar que se faz calos e existem proteções para a palma das mãos) e também as situações de maior gravidade. Refiro-me concretamente às fraturas (expostas ou não) de ossos vários (sendo o mais vulgar, provavelmente, a clavícula e as costelas, sobretudo as flutuantes), mas há muitos outros, desde as mãos (e cada uma tem apenas 27 ossos) às omoplatas, o rádio, o cúbito, o esterno...

Há ainda as lesões em zonas de ligamentos e afins, em especial na região dos cotovelos e na zona do ombro. São comuns, por exemplo, as luxações na articulação acrómio clavicular que, consoante a sua gravidade, podem necessitar de um tratamento conservador (não cirúrgico) ou implicar cirurgia e recuperação longa, talvez com direito a sessões de fisioterapia de fazer chorar… e não é de alegria!

Temos, por fim, as lesões mesmo graves. Aquelas que atingem os órgãos mais nobres e que facilmente podem ter consequências mortais, sobretudo se o socorro não for rápido! Refiro-me por exemplo, a perfurações nos pulmões, fígado ou mesmo no coração, hemorragias internas, fratura de vértebras e por aí adiante! Estas são aquelas que nos devem preocupar mais e fazer raciocinar sempre que formos andar de mota, seja ou não fora de estrada!

Portanto, já ficaram com um quadro global da importância desta região do corpo humano e de como é essencial fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para a proteger, nem que seja tendo por base a velha máxima: equipamento de proteção para andar de mota não é um custo. É um investimento!


A minha mochila é a mala do Sport Billy

Recomendo que nada do nosso corpo deve estar diretamente exposto quando se anda de mota e nos membros superiores e no tronco é mesmo uma máxima! Até tremo quando vejo gente a andar de mota sem luvas ou apenas de t-shirt, seja ou não no alcatrão!

O blusão, que no TT é acima de tudo um elemento de conforto e não de proteção (essa função cabe ao colete), pode ou não ser dispensável (obrigatório para viagens maiores ou temperaturas mais baixas) e não fazer falta nenhuma para as voltinhas domingueiras, com temperaturas mais agradáveis ou para ir fazer apenas uns saltos ou uns obstáculos numa pista em que a assistência (que pode ser apenas um atrelado ou uma carrinha) está ali a 2 passos…

Por cima do blusão (ou se não o usarem, por cima da camisola, jersey, corta-vento…) uso sempre uma mochila e recomendo vivamente.

Não é propriamente uma peça de proteção, mas sem ela sinto-me nu, passe a expressão, e para mim nada a substitui, o que não invalida que não se opte antes, consoante os casos, por uma mala traseira ou lateral da mota de aventura, um saco de cintura (mais conhecida por sacoche) ou qualquer outra solução, mas sou fã da mochila e facilmente se percebe porquê.

A minha mochila é a mala do Sport Billy! Para os menos jovens a piada fácil faz sentido. Para os outros não tanto, pelo que vou dar uma ajuda: na década de 80 existiam uns desenhos animados que contavam os aventuras de um jovem extraterrestre, vindo do planeta Olympus, chamado Sport Billy! Viajava numa nave em forma de despertador e tinha uma mala muito especial onde cabia praticamente tudo e de lá saíam as coisas mais incríveis! De fazer inveja a muitas malas de Senhora atuais!

Assim é a minha mochila, parceira de muitas aventuras e de lá saem as coisas mais incríveis, indo muito para além da tradicional mini-mochila de água (também conhecida por camel bag) que apenas transporta líquidos e uma ou duas barras energéticas!

Quando a despejo para lavar até me admiro com o que por lá anda: tem um “saco de água” com capacidade para 2 litros de uma qualquer bebida isotónica (que podem facilmente fazer em casa), mas muito mais que isso: numa bolsa acolchoada vai o telemóvel, por lá anda a carteira, documentos da mota, chaves de casa, pensos rápidos, batom para os lábios, 2 ou 3 barras energéticas, bateria extra caso se use action cam ou gps, um pacote de lenços de papel, luvas descartáveis ou de nitrilo (que, no caso de serem usadas, não são despejadas na natureza, mas trazidas para o respetivo contentor). E muito mais coisas: o kit de ferramenta da mota (que, no meu caso já tem mais umas ferramentas adicionais),  óleo para a mistura (costumo andar numa mota a 2 tempos que não tem depósito separado), uma fita/correia com cerca de 3 metros para o caso de ser necessário rebocar alguma mota ou tirar uma mota de um buraco (e já foi usada várias vezes) uns óculos ou luvas suplentes se necessário, abraçadeiras plásticas,  e até um preservativo!

Leram bem! Ando sempre com um na minha mochila! A sua função não é a habitual: em caso de necessidade, abre-se, sopra-se e serve para fazer a “transfega” de combustível de uma mota para outra! O que lá anda agora já não sei se ainda está na validade, mas pode ser a salvação num momento de aflição em que uma mota fique sem gasolina no meio de “nenhures” e a vários quilómetros da civilização. É prático, ocupa pouco espaço e resulta, mas só uma vez… tal como os outros!

Caso, tal como eu, optem pela mochila, deixo ainda algumas recomendações: que seja bastante confortável, robusta e bem “ajustada” ao corpo de modo a não dificultar movimentos e não dançar. Na prática, o ideal é que esteja ligada ao corpo como se dele fizesse parte! Escusado será dizer que devem verificar sempre os respetivos fechos antes de sair! Recordo-me sempre de um colega que arrancou sem o fazer e perdeu, num espaço de umas centenas de metros, o kit de ferramenta, a carteira, chaves e o telemóvel até um de nós se aperceber e o fazer parar! Giro foi depois ver 4 ou 5 pessoas a palmilhar terreno, metro a metro, para encontrar tudo! Nada faltou e apenas a carteira ficou muito enlameada, mas havia lá uma nota intata que serviu para pagar as fresquinhas no final da volta dominical!


O colete que salva vidas

Mais por baixo e ainda antes de chegar à pele existe um elemento de proteção fundamental e peço que nem sonhem em andar sem ele no fora de estrada: o colete! Pode ser de uma ou de duas peças (eu uso de duas), mas é quase tão importante como o capacete e a sua escolha deve ser cuidadosa e é mais um exemplo de que o barato pode sair caro! Um colete de 50 euros é natural que proteja menos que um mais caro, com mais ajustes e zonas de proteção e até compatível com um colar cervical, algo que muitos não são, mas antes um mais baratinho e até já usado do que nenhum!

É também importante que tenha uma cinta, ou equivalente, para fazer uma maior compressão na região dos rins e quanto mais proteger… tanto melhor, mesmo que numa primeira fase se fique com a impressão que os nossos movimentos são menos fluídos, tipo cavaleiro medieval, protegido na sua armadura. Tudo isso passa a secundário numa situação de queda ou da “simples” projeção de uma pedra por outro motociclista. Imaginem uma pedra de 100 gramas (estou a ser simpático), projetada pela roda traseira de outra mota e vir na nossa direção! Se facilmente consegue partir a ótica do farol… se vos atingir no peito o estrago será parecido, mais ainda sem a proteção adequada!

Por baixo do colete (que nem o calor do verão serve de desculpa para não usar) deve estar uma peça de roupa leve e confortável, com maior proteção térmica para o inverno e mais fresca para o tempo mais quente, mas nunca usem o colete diretamente sobre a pele até porque o atrito causado pode fazer estragos em regiões sensíveis, nomeadamente nos mamilos e não estou a brincar!

Por último. Na extremidade dos braços temos as nossas simpáticas mãos! As tais que permitem teclar estas linhas, mas também segurar os punhos da mota, acelerar, (des)embraiar, usar o travão da frente e um sem número de funções, incluindo pegar na mota quando é necessário levantá-la… ou empurrar!

Luvas para motas de estrada não são a mesma coisa que para fora dela e vice-versa! As proteções são diferentes, tal como os materiais que as compõem ou a necessidade de flexibilidade que tem que ser muito maior e a proteção, por exemplo contra o frio e a chuva, é sentida de forma muito diferente! Dito de outra forma, cada macaco… mas sem luvas é que nunca!


Falando de tamanhos…

Ainda que caindo no risco de parecer redundante, também nesta zona corporal a escolha do tamanho é importantíssima e a recomendação habitual que já mais parece uma ladainha: medir-nos e testar antes de comprar até porque a  correspondência com a nossa roupa habitual pode não ser total!

Para (des)ajudar, diferentes fabricantes propõem tamanhos que não são bem iguais, há escalas distintas, mas toda esta informação está facilmente disponível para consulta online, o que pode não substituir a ida a uma loja especializada (infelizmente há bem poucas no nosso país) ou o simples conselho dos outros colegas. Pessoalmente, valorizo muito a experiência dos outros motards e vejo de bom grado o pessoal a trocar experiências e opiniões sobre equipamentos de segurança, seja presencial, seja em fóruns...


As tabelas que se anexam são apenas um guia orientador e não um modelo absoluto, até porque há variações que podem ocorrer em algumas regiões do corpo. Por exemplo, se perderem 15 kg (eu contentava-me com um terço desse valor) o vosso perímetro abdominal muda completamente, mas as mãos continuam iguais e podem não ser exatamente do mesmo tamanho uma da outra! Na dúvida, sugiro comprar sempre o tamanho acima, mas fica ao vosso critério além de que, no caso da camisola, a mesma terá que ficar por cima do colete, logo, tendencialmente um tamanho acima, tal como o blusão/casaco!

No caso das crianças e jovens em fase de crescimento, que geralmente têm tamanhos específicos, há que ter presente que o equipamento, roupa incluída, vai ser usado pouco tempo. É maravilhoso ter uma filha ou um irmão mais novo a andar connosco, mas há que ter presente que o equipamento dela/e vai deixar de servir ao fim de pouco tempo. Aceitem uma sugestão: coloquem-no logo à venda quando deixar de servir! Vai ajudar a pagar o novo! Também o podem doar a outro/a praticante! Sejam altruístas!

Termino o massacre por aqui. A parte III fica para o próximo número.

andardemoto.pt @ 2-5-2019 16:11:10 - Pedro Pereira

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