
Pedro Pereira
Só ando de moto em 2 locais: na estrada e fora dela!
OPINIÃO
A moto (também) é um veículo de carga!
A afirmação não é minha, mas de um colega motard e deixou-me a pensar…
andardemoto.pt @ 2-3-2022 02:03:10 - Pedro Pereira
Efetivamente, esse meu colega Motard, tal como muitos outros motociclistas, acabam por fazer das suas motos verdadeiros veículos de carga, indo muito para além da função de veículo de de lazer para transporte do condutor e eventual pendura.No caso dele, que vive sozinho e não tem carro, a situação chega a ser algo cómica porque consegue transportar tanta coisa na moto que faz pensar que em vez da moto ele tem é um veículo ligeiro de mercadorias!
Recordo-me que quando o ajudei a fazer mudanças (a nova casa finalmente com garagem para a sua amada moto) lá o convenci a alugar uma carrinha para transportar os objetos mais volumosos e pesados, caso dos móveis, porque todo o resto ele ia transportando de moto!
Refiro-me a livros, computadores, roupas, pequenos eletrodomésticos e mais um sem fim de bugigangas que temos nas nossas casas e que só descobrimos ter nestas situações…
O que podemos carregar nas nossas motos?
A pergunta não é retórica e se for o meu amigo a responder é bem capaz de resumir numa só palavra: Tudo!
Já todos vimos em vídeos ou na TV, sobretudo em países mais pobres, as coitadas das motos a transportarem carregos verdadeiramente impensáveis, com pesos várias vezes superiores para o que foram criadas e em situações de equilíbrio tão periclitante, que parece que o desastre está mesmo para acontecer, mas que a maioria das vezes não acontece!
Porque o fazem? Essencialmente por dois motivos: por um lado, na maior parte desses casos, a moto é o único veículo que possuem e não há outra escolha. Por outro, existe o beneplácito das autoridades policiais que deixam que isso aconteça, cientes também da inexistência de outras opções em economias mais débeis, além de problemas extremos de tráfego ou vias de comunicação limitadas.
Por cá, felizmente, a situação já não chega a esses extremos e não contam as tradicionais acrobacias que, em tempos, os guardas da GNR faziam com uma dezena de pessoas em cima de uma moto, num verdadeiro carrossel! Que saudades de uma exibição dessas!
Hoje o mais radical que encontramos, além das entregas em que a mochila de carga consegue ser maior e mais volumosa que o condutor, são as motos com mala traseira (vulgo topcase), eventualmente com alguma carga ainda em cima (por exemplo uma tenda), malas laterais (que podem ser alforges), uma pequena mala sobre o depósito e talvez, no lugar do pendura, ou até mesmo sobre o guarda-lamas dianteiro, um saco redondo de viagem.
Aquelas imagens de aventureiros inconformistas que transportam um pouco disto tudo e ainda mais 2 ou 3 pneus e 1 ou 2 jerricans de gasolina reportam a viagens em condições verdadeiramente inóspitas e violam uma série de regras e leis que impedem que circulem no nosso país e em muitos outros, por serem perigosas e desnecessárias.
Longe vão os tempos em Portugal das “motorizadas” a transportarem famílias inteiras, a puxarem um pequeno atrelado ou com um ceirão (armação feita geralmente de vime com duas partes iguais e assente na estrutura traseira da moto) que servia para levar de tudo, incluindo os famosos garrafões de 5 litros de vinho, um de cada lado!!!
A perspetiva legal e o bom senso
Uma ressalva preliminar: não sou jurista, nem pertenço a nenhuma força policial com competências rodoviárias, mas de forma informal ouvi a opinião de ambas as partes para me ajudarem a formar a opinião que aqui partilho.
Muito se tem especulado sobre as autuações em virtude de utilizar malas não homologadas ou outras formas de carga nas motos. Até à data, não conheci nenhum caso prático em que isso tenha ocorrido (mas não significa que não tenha acontecido).
Ambas as pessoas que ouvi foram mais ou menos coincidentes ao afirmar que deve haver bom senso de todas as partes, e que as cargas a transportar devem obedecer a alguns princípios que tento agora enumerar de forma aleatória, por questões de segurança, razoabilidade ou para evitar contraordenações:
- Não podem interferir diretamente na condução, por exemplo, por condicionarem a visibilidade ou desequilibrarem o veículo;
- Toda a carga deve estar devidamente presa/amarrada/fixada para não haver o risco de se perder ou causar acidentes e os objetos mais pesados devem sempre ser colocados na base;
- A carga ou objetos a transportar não podem exceder o comprimento ou a largura da moto;Não podem jamais ocultar a iluminação (frente, traseira, piscas), a respetiva chapa de matrícula ou os espelhos retrovisores;
- Atenção aos limites do peso bruto. Essa informação consta do livrete/certificado da matrícula e resulta da soma de todas as partes, carga incluída;
- Cuidado com a pressão dos pneus e eventual regulação das suspensões, caso exista. Mais peso pode e deve ser compensado;
- Atenção às fichas técnicas dos fabricantes. Por exemplo, se o topcase menciona um limite de 10 kg não colocar nele um saco de cimento que pesa 25 kg;
- Diferentes materiais têm diferentes especificações e custos. Alumínio é diferente de plástico ou de fibra de carbono, couro ou cordura;
- Especial cuidado à velocidade. Mais carga e volume representam resistência acrescida à deslocação do ar, além de maior distância de travagem;
- Cuidado com a meteorologia. Se chover e a carga não estiver devidamente protegida ou não for impermeável vai molhar-se, causar eventuais danos e ainda aumentar de peso;
- Os pontos mais quentes da moto, caso de toda a linha de escape, não podem ser ignorados. Facilmente queimam a bagagem até causar um incêndio por contato direto;
- O recurso à mochila não deve ser compatível com passageiro e importa que esta esteja devidamente unida ao tronco, como se os fosse um só com o condutor;
- Em viagens, sobretudo mais longas, vá fazendo paragens e verifique como está acondicionada a carga, sobretudo com estruturas mais improvisadas ou piso degradado.
A experiência do nosso dia-a-dia
Cada motociclista é diferente dos outros. Tem necessidades distintas, possui uma moto (ou mais) a que dá um uso específico e sabe que há motos mais adequadas para transportar cargas que outras, sendo que, por exemplo, nas motos de turismo essa caraterística é intrínseca à construção da moto.
Já para quem gosta de andar “fora de estrada” é de todo lógico que quanto menos peso… melhor!
Se possível, deve-se evitar cargas, malas ou outros apetrechos e contentar-se com o essencial, por exemplo uma pequena mochila às costas ou simplesmente uma bolsa, também conhecida por sacoche, amarrada à cintura ou mesmo ao guarda-lamas. Nada de complicar!
Se as malas laterais não forem necessária, a minha sugestão é que sejam simplesmente retiradas. Esteticamente até podem ficar muito bem montadas (mesmo havendo quem lhe chame jocosamente tupperwares), mas não trazem ganhos acrescidos, tirando talvez para ajudar a levantar a moto após eventual queda e são um peso e volume adicional com reflexo na condução e nos consumos.
Para um uso mais citadino, as scooters, sobretudo as de roda baixa, continuam a ser praticamente imbatíveis neste quesito: boa capacidade de carga (incluindo debaixo do assento), muita economia e a forma como se esgueiram pelo trânsito é incrível.
Resumindo, que o artigo já vai extenso, as motos podem e têm capacidade para transportar não apenas o seu condutor/a passageiro/a, mas também cargas de vários tamanhos e feitios.
Cabe depois a cada um de nós fazer a adaptação às respetivas necessidades e gostos, tendo sempre presente que existem os limites físicos, legais ou mesmo monetários!
andardemoto.pt @ 2-3-2022 02:03:10 - Pedro Pereira
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