Susana Esteves
Jornalista e motociclista
OPINIÃO
Foge que é pendura!
Tenho medo de andar à pendura! Assumo! Como é que isso é possível tendo em conta que ando de mota todo o ano? Pois não sei!
andardemoto.pt @ 14-9-2018 13:37:00 - Susana Esteves
Sempre que me sento à pendura, fico nervosa e ansiosa, desconfortável, tensa, faz-me confusão não ver a estrada, tenho sempre a sensação que estou demasiado perto de tudo e que a velocidade é altíssima. Circular no meio dos carros é um pânico.
Mas isso é uma parvoíce!
Sim. Mas não consigo evitar, mesmo tentando todas as dicas e “terapias” generosamente dadas pelos amigos e companheiros de viagem:
- Relaxar: Não dá.
-Fechar os olhos: Ainda é pior.
- Levar música: Nem a oiço. Só consigo pensar que nunca mais chego ao destino.
- Apreciar a paisagem e pensar noutra coisa: Não dá. Em parte do caminho sigo a dica dos olhos fechados, em outras tento distrair-me com o meu reflexo no capacete do condutor que mostra a minha cara de pânico (para não dizer outra coisa).
- Deixa fluir: Impossível. Nada flui. Andar no IC19 a 40/h assemelha-se a um qualquer desporto radical perigoso de alta adrenalina, daqueles que experimentamos uma vez e já chega.
- Andar com pessoas de confiança: É igual. Independentemente de ter 2 meses de carta ou 40 anos de experiência.
Dito isto, tenho a maior consideração por todos os penduras. Para mim são pessoas fortes e destemidas, que aguentam a dureza daqueles assentos altamente desconfortáveis com um sorriso nos lábios, que acenam a terceiros no caminho, que tiram fotos, que quase fazem o pino com a maior facilidade, e que saem de cima da mota com um ar descontraído de quemesteve a última meia hora deitado num sofá topo de gama e que até gostou da experiência.
É pieguice a mais da minha parte? Provavelmente sim. É quase impossível não me sentir meio “alien” quando todos me dizem que um motociclista não tem qualquer problema em ser pendura.
Mas a verdade é que o desconforto que sinto supera toda a experiência positiva de poder andar despreocupadamente de mota e usufruir de todo o prazer associado. Tudo isto faz de mim uma má pendura, daquelas verdadeiramente irritantes que se queixam muito, que dão cabeçadas no capacete da frente, que dizem muitas vezes: “Falta muito?”, “Cuidado”, “Tenho que me mexer”, “Tenho o rabo quadrado”, “É a última vez que venho aqui”, “Desculpa, estou a escorregar”, “Tenho o pé dormente”, etc, etc, etc.
Qual é o ponto positivo no meio de tudo isto? Ando muito poucas vezes no banco de trás. Ser pendura não é complicado, mas exige o cumprimento de algumas regras básicas que são essenciais para uma viagem segura e mais prazerosa. Mas os melhores não são os que conhecem as regras (essas também eu as sei). São sim aqueles que mesmo não conduzindo têm o “bichinho” e aquele espírito irresistível que adoro.
Boas curvas, em ambos os assentos.
andardemoto.pt @ 14-9-2018 13:37:00 - Susana Esteves
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