Susana Esteves

Susana Esteves

Jornalista e motociclista

OPINIÃO

Inteligência ou mariquice?

Nesta vida não podemos ser ingénuos e na estrada ainda menos. Há coisas que as escolas de condução não ensinam, mesmo as mais empenhadas em formar bons condutores. Existem truques e técnicas que tornam toda a condução mais segura, mais eficiente, mais simples e mais confortável. A condução de uma mota não é complicada, mas obriga a regras que os carros não têm que seguir e está condicionada por um sem número de variáveis, desde o estado do tempo, às condições do piso, do trânsito e do cenário envolvente.

andardemoto.pt @ 18-9-2017 17:41:13 - Susana Esteves

Como se isto não bastasse, a estrada é uma selva e está cheia de espécies raras (infelizmente não estão em vias de extinção), que fazem tudo menos conduzir de uma forma consciente. Temos as aves raras que aproveitam para se maquilhar, fazer a barba, acertar as sobrancelhas e pentear; os que literalmente adormecem no meio das pausas do trânsito; os intelectuais que vão de jornal aberto em cima do volante; os que fazem diretos para o Facebook das suas capacidades vocais e das suas opiniões sobre os mais diversos tópicos; os que tiram fotos; os que mandam mensagens; falam ao telefone, tiram selfies, etc, etc, etc. Qual é a consequência de tudo isto? A atenção é reduzida, a condução é arriscada, as manobras são feitas de forma mais rápida e muitas vezes sem atenção ao ambiente em redor. 

Apesar de todas as campanhas de sensibilização, cada vez vemos mais pessoas ao telefone enquanto conduzem, em linha reta, nas curvas, em rotundas. Não interessa. Para quem anda de mota, telefone na mão significa carro aos Ss e perigo a dobrar. Como podemos conduzir num ambiente destes? Com cuidado extra e uma boa dose de loucura.

Os cursos de condução defensiva para motociclistas podem ser considerados por muitos uma mariquice desnecessária, nada digna dos pros do “punho a fundo” e dos adepto do “antigamente não havia nada disso e a malta aprendia na estrada, são modernices”. Mas a verdade é que muitas das técnicas, truques e dicas ensinadas são bastante úteis para uma condução mais ágil, segura e despreocupada. É obrigatório e essencial? Claro que não! Mas pode revelar-se particularmente importante para os mais jovens que se vão aventurar pela primeira vez na estrada com uma mota nas mãos, para os mais inexperientes, para quem necessita de uma dose extra de confiança ou simplesmente para quem quer “apurar” a condução. 


Estes cursos têm habitualmente uma componente teórica (pequena) e uma vertente prática importante, e muitos deles disponibilizam inclusive um simulador que coloca os condutores perante várias situações mais críticas: peões que surgem de repente, ultrapassagens arriscadas ou inesperadas, objetos e animais na estrada, piso escorregadio e em mau estado, chuva e vento, entre outros elementos. Na componente prática são ainda ensinadas técnicas de travagem para cada situação, com a utilização correta dos diferentes travões, de travagem de emergência, de slalom em diferentes velocidades com o travão de trás e com o motor, de utilização correta do centro de gravidade, com maior ou menor inclinação do corpo e distribuição do peso, de estacionamento, de movimentação da mota à mão, entre várias outras coisas. Um outro ponto positivo: As pessoas podem levar a sua própria mota, uma grande ajuda para quem pretende “reforçar os laços” com a sua nova aquisição, ou usar uma mota da escola. 

No final, ninguém sai deste curso um verdadeiro piloto de pista. Mas os conhecimentos e as técnicas transmitidas permitem uma melhor avaliação dos riscos e tomadas de decisão mais informadas e responsáveis. Quem faz estes e outros cursos não é mais “fraco”, mais “medricas” ou mais “aselha” que ninguém. É talvez mais ponderado e inteligente. Os conhecimentos que se adquirem podem revelar-se essenciais na estrada, evitar inúmeras situações desagradáveis e ajudar a criar motociclistas verdadeiramente bons e conscientes. A experiência dá calo e ensina, mas não transforma ninguém num guru das duas rodas. Às vezes cria apenas os típicos “espertalhões”, que até podiam aprender uma coisa ou outra com estes cursos.

andardemoto.pt @ 18-9-2017 17:41:13 - Susana Esteves

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