Susana Esteves

Susana Esteves

Jornalista e motociclista

OPINIÃO

Viagens longas de 125: há rabo que aguente?

Bom tempo, férias e passeios de mota é uma combinação obrigatória para qualquer motociclista que tenha realmente as duas rodas nas veias. Está na hora de rodar punho e de pensar nos muitos passeios que se podem fazer: a “missa” de domingo nos locais da praxe (Como o Cabo da Roca), o fim de semana com amigos para descontrair, ou mesmo as férias em família.

andardemoto.pt @ 15-6-2018 15:20:24 - Susana Esteves

É nesta altura que alguns motociclistas com scooters de baixa cilindrada se sentem mais limitados, começam a contar os tostões e a pensar no tal upgrade para uma mota maior. Vou de férias numa 125? Vou fazer centenas de quilómetros numa 125? Depois da pergunta feita, em poucas horas passam de consultar um site de motas usadas (só por curiosidade), para um encontro com um vendedor (só mesmo para ver) e acabam numa compra (…olha, agora já está).


A verdade é que qualquer um pode fazer uma viagem de centenas de quilómetros numa scooter 125, ir de férias descansado e aproveitar cada dia ao máximo. Aliás, há mesmo alguns benefícios em relação a outras motas de maior cilindrada. Mas comecemos pelo mais importante:

- Vou demorar horas a fazer 300 km. Verdade. Dependendo da mota, dificilmente irá passar dos 100 km/h. Mas e então? Porque não começar as férias com um trajeto diferente? Pode ir para o Algarve pela costa vicentina, aproveitar para conhecer outros locais, parar nas várias praias, dar um mergulho, tirar fotos, almoçar confortavelmente no Alentejo e chegar ao Algarve com um primeiro dia de férias calmo e divertido. Vai para o Norte? Pare em Óbidos para uma ginjinha (só uma!), em Aveiro para uns ovos-moles, suba a Serra da Estrela e pare nas fantásticas praias fluviais e barragens, conheça as aldeias de xisto e outros locais mais escondidos do nosso país. Em suma, aproveite para conhecer melhor Portugal. Estude bem a rota. Devagar e sem tempo contado vai conseguir descobrir locais fantásticos.

- É muito desconfortável fazer viagens de scooter, não há costas nem rabo que aguente. Na verdade esta questão depende muito da scooter (e do rabo). Há modelos 125 mais confortáveis que outros, mas em nenhum deles é aconselhável fazer mais do que uma hora de estrada seguida. A suspensão das scooters não é um dos seus melhores atributos e as estradas portuguesas também não ajudam. Entre buracos, remendos, crateras, tampas de esgoto com meio metro de altura, empedrados e trilhos dignos de carros de bois, nem as tradicionais almofadinhas “donut” ajudam. Aproveite as paragens para esticar as costas, relaxar as pernas e movimentar o glúteo (vulgo: esticar o rabo até que volte ao seu formato original). Aliás, esta regra aplica-se a qualquer cilindrada. Fazer uma viagem longa numa CBR, ou em qualquer outra mota mais desportiva com uma posição de condução inclinada, é igualmente desconfortável. A exceção a esta regra aplica-se talvez às motas de Turismo, que já oferecem um nível de conforto e de estabilidade maior. As cintas ajudam a reduzir os impactos e a estabilizar a zona lombar. No final do dia, seja em que mota for, fazem toda a diferença. Com várias paragens, a viagem não se torna cansativa ou sequer castigadora para o corpo. Falo por experiência.

E a mota, aguenta? As 125 são tipicamente motas menos possantes, mais ágeis e muito orientadas para um circuito na cidade. Isto não significa que não consigam fazer Portugal de Lés-a-Lés. Desde que bem estimadas e em boas condições de funcionamento, vão onde as levar.  Em vez de adquirir uma nova mota, poderá investir apenas num pequeno upgrade de suspensão ou num forro de banco mais confortável. São pequenos pormenores que podem fazer a diferença em viagens longas.


E agora as vantagens:

Gasta menos. Com o preço dos combustíveis ao rubro, toda a poupança é uma boa poupança. Com uma Scooter 125 pode demorar mais tempo a chegar, mas vai poupar imenso em combustível. O que sobra vai poder investir nas suas férias.

Condução descontraída. As mudanças automáticas, nas motas ou nos carros, nem sempre reúnem muitos fãs. Mas gostos não se discutem. A verdade é que a condução de uma scooter permite-nos relaxar um pouco mais: acelerar, travar, estacionar em qualquer lugar, passar facilmente as filas de trânsito… Não há mais simples que isto.

Maior arrumação. Assumo que esta é uma vantagem discutível, tendo em conta as inúmeras opções de armazenamento que existem atualmente no mercado. Mas a verdade é que, sem grande investimento, conseguimos transportar connosco bastante mais equipamento. A área debaixo do banco é geralmente generosa, as top cases (com muito jeitinho) até elefantes transportam, e a zona do pendura quando bem aproveitada consegue envergonhar o porta bagagens de qualquer citadino mais pequeno de quatro rodas. Não consegue transportar um chapéu-de-sol? Leve uma tenda. Existem inúmeros modelos que cabem em qualquer buraquinho.

Se está preocupado em fazer 300 ou 600 km, então vale a pena saber que há quem já tenha feito muitos mais. Artur Brito, foi de PCX 125 até ao Nepal e aos Picos da Europa, existem roadtrips de 125 pelo velho continente, muitos exemplos de quem já tenha feito Portugal de Lés-a-Lés, e muitos outros exemplos semelhantes.

É claro que há regras a cumprir, seja uma 125 ou uma 1000. Antes de qualquer viagem é preciso fazer o check-up da praxe: travões, pneus, óleo, ferramentas, seguro, etc. A qualidade das viagens e das férias não se mede pela cilindrada de uma mota. De 1200 ou de 125, com maior ou menor conforto, com maior ou menor velocidade, o que importa é o espírito, a companhia e o descanso.

Boas curvas

andardemoto.pt @ 15-6-2018 15:20:24 - Susana Esteves

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