Pedro Pereira

Pedro Pereira

Só ando de moto em 2 locais: na estrada e fora dela!

OPINIÃO

Andar de Moto pela Capital

Não sou munícipe de Lisboa, mas desloco-me à cidade com frequência, sobretudo por questões de natureza laboral. O meu objetivo é partilhar a minha perceção da situação atual e, ao mesmo tempo, alertar os incautos para algumas das ratoeiras que existem!

andardemoto.pt @ 22-3-2021 15:39:15 - Pedro Pereira

A capital do nosso país, que já foi Império e é agora um pequeno Estado da União Europeia, é muito conhecida pela sua orografia irregular que lhe valeu o epíteto das 7 colinas, a saber: Colina do Castelo de S. Jorge, Colina de S. Vicente, Colina de Sant’ana, de S. André, das Chagas, de S. Catarina e, por último, de S. Roque. Davam uma boa crónica, mas vai ficar para outra oportunidade…

A designação tem vários séculos (não é à toa que a maioria tem nomes de Santos e mesmo a das Chagas é nome de igreja), mas a cidade de Lisboa foi-se expandindo e crescendo de forma mais ou menos harmoniosa até chegar à cidade que temos hoje, sendo que as colinas por lá continuam, ainda que vítimas da ação humana.

Nela subsistem e confluem ruelas estreitas e vielas com vias rápidas, piso deplorável, carris, lombas, crateras e estradas de várias faixas de excelente piso em que os limites de velocidade impostos não fazem qualquer sentido. Para cúmulo, imagine-se, até temos ruas pintadas!

O trânsito é, regra geral, caótico, confuso e nota-se a falta de civismo das pessoas, não apenas dos condutores, mas também de peões, ciclistas, dos que fazem entregas, dos profissionais de transporte de passageiros públicos e privados, entre outros…


Por outro lado, os transportes públicos, na maior parte dos casos, pecam por insuficientes, bastante caros (menos no caso dos passes cujo preço foi finalmente alvo de redução), vão frequentemente lotados e, para agudizar, existem sérias limitações em termos de oferta sobretudo para os concelhos à volta da capital, a chamada Grande Lisboa. Experimentem um comboio da Linha de Sintra, por exemplo, em hora de ponta!

Com o seu efeito aglutinador e macrocéfalo é na capital que está o Governo da nação, a sede dos ministérios, muitos organismos públicos, hospitais, universidades, embaixadas, escritórios de muitas empresas, nomeadamente multinacionais, o principal aeroporto e até um aberrante porto bem no seu centro, que obriga a um enorme trafego de veículos pesados que cruzam a cidade.

Assim, gera-se um vaivém intenso de muitos milhares de pessoas que entram e saem diariamente da cidade. Há estudos para todos os gostos, mas é apontado um número a rondar o meio milhão de pessoas e mais de 300.000 automóveis por dia! Neste momento, com a Covid, o confinamento, o teletrabalho, o desemprego… será menos, mas fica como referência.

Como bem sabemos, o estacionamento, seja na periferia, seja no interior da cidade, é escasso e muito caro, o que associado a transportes públicos nem sempre adequados e ao medo da Covid aumenta a pressão para uso do automóvel ou transportes alternativos, como é o caso das motos, mas já lá vamos!


A 21 de Junho de 2018, Lisboa foi distinguida com o galardão de Capital Verde Europeia para o ano de 2020. Esta distinção foi anunciada pelo Comissário Europeu do Ambiente, Assuntos Marítimos e Pescas, Karmenu Vella, com pompa e circunstância, como convém aos políticos, mas nem tudo foram, ou são, rosas!

A má gestão, a especulação imobiliária, o turismo, o mercado de arrendamento ineficiente, entre outros, forçaram e continuam a forçar cada vez mais pessoas a ir viver para longe da cidade, mas que continuam ter que se deslocar para a capital por razões profissionais, e o teletrabalho  não as vai retirar de lá todas, nem perto disso.

Nesta ânsia de melhorar a cidade de lisboa, de a tornar mais amigável e descarbonizada tem valido tudo: plantar árvores (excelente iniciativa), aumentar as áreas e ruas pedonais (nem sempre com bom senso), criar ciclovias (muitas delas quase sem uso), retirar áreas de estacionamento e taxar outras (até faz algum sentido), não autorizar a entrada na cidade de veículos mais poluentes (medida que considero positiva)…


O próprio aumento do turismo veio trazer uma nova realidade, com o surgimento e utilização ainda mais massiva de trotinetes, tuks-tuks, bicicletas… que têm de estar estacionadas algures, geralmente de forma abusiva, quando não estão a circular e que, em circulação, também não voam, embora às vezes até pareça!

A situação pandémica deu mais uma ajuda e as entregas, sobretudo de comida, efetuadas de moto, tiveram um crescimento exponencial. É um trabalho complicado, com muitos riscos, imagino que não muito bem pago, em que mesmo os mais profissionais cometem erros de bradar aos céus e atropelos ao Código da Estrada que nem vale a pena detalhar!

Não tenho números, nem sei se existem, mas o número de mulheres e homens que andam de moto pela capital tem crescido de forma substancial nestes últimos anos. Direi que se tomarmos como referência o ano de 2000, certamente que se multiplicaram várias vezes até à data. Imagino que esse fenómeno se verifique noutras cidades do país, caso do Grande Porto, mas em Lisboa é particularmente visível.


A maior parte de vós conhece as aventuras bem divertidas do nosso famoso motociclista Tom Vitoín, fruto do génio criativo do Luís Pinto Coelho. Muitas delas são passadas na capital e arredores e contam situações caricatas com um realismo atroz…

No seu célebre “Auto da Barca do Inferno” Gil Vicente usa a famosa expressão latina “ridendo castigat mores” que é como quem diz, a rir se denunciam os costumes! Certamente que ainda não andava de moto, mas este dramaturgo brilhante tem tudo a ver com o nosso Tom e certamente que muitos motards já sentiram na pele muitas das situações denunciadas.

Um exemplo flagrante é a escassez de estacionamento e o seu uso de forma abusiva. Sempre que possível, estaciono em lugares reservados para motos. Porém, nem sempre existem ou são respeitados por outros veículos, incluindo automóveis! Indo mais longe, tenham atenção ao estacionamento em cima dos passeios. Há vários casos da Polícia Municipal a rebocar ou a multar motociclos por mau estacionamento!

Por outro lado, há regiões de Lisboa onde a “saturação motociclística” é mais evidente e os cuidados devem ser ainda maiores! Basta ir às bandas do Saldanha, zona da Expo, do Campo Grande, Benfica ou da Baixa para perceber melhor o que estou a escrever e ver a confusão que se gera. Claro que ainda não chega ao extremo de Barcelona, Paris ou de Roma, mas já esteve mais longe!

Os limites de velocidade são outra ratoeira, e ainda há pouco recebi uma cartinha em casa: fui “fotografado” acima do limite legal que era de 50 km/h em plena capital! Isto numa via rápida, com duas faixas para cada lado, sem passadeiras ou semáforos! Não há pachorra! Estava no lugar errado à hora errada! Parece-me mais caça à multa que prevenção!

Aplaudi a decisão de tornar possível a circulação dos motociclos nas faixas BUS. Era suposto ser experimental e apenas em alguns locais da cidade. Já se viu que resulta. Estão à espera de quê para expandir essa possibilidade a toda a cidade? Já fui mandado parar pela PSP e alertado (de forma muito educada e meramente preventiva) para o facto de aquela faixa de BUS não estar ainda autorizada, mas 500 metros à frente já o poderia fazer!

Com tantas motos de diferentes tipos, e motociclistas com mais ou menos experiência, muitos deles muito apressados, faço ainda um pedido: sejam mais tolerantes! Não apenas uns com os outros, mas também com os restantes utilizadores das vias! A segurança tem de ser a prioridade de todos e em todo o lado!

Lisboa tem mudado bastante, nem sempre para melhor, mas não se pode tornar uma selva! Para os descontentes com a gestão atual, lembro ainda que há eleições autárquicas em setembro ou outubro próximo, em todas as autarquias, e que os motociclistas podem e devem ir votar!

andardemoto.pt @ 22-3-2021 15:39:15 - Pedro Pereira

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