Paulo Araújo
Motociclista, jornalista e comentador desportivo
OPINIÃO
Decidir sem pensar
Um editorial do Times de 1894 fazia as contas à quantidade de estrume libertado pelos estimados 50.000 cavalos que circulavam em Londres na época e concluía que, em 50 anos, a cidade estaria soterrada por uma camada de cerca de 3 m de estrume.
andardemoto.pt @ 26-10-2022 18:07:00 - Paulo Araújo
O que o autor do artigo não podia prever, entretanto, era o advento do veículo automóvel que fez, claro, com que a previsão alarmista nunca chegasse a concretizar-se.
Atualmente estamos numa situação semelhante com o petróleo: os velhos do Restelo já preveem o fim do planeta e preconizaram para já a mudança obrigatória, não facultativa, para veículos elétricos em nome de maior limpeza e menos emissões poluentes. Muitas autarquias e até governos, sem mais delongas e sem se apoiarem sequer em investigação credível, pularam na carroça e começaram a emitir limitações e proibições. Tudo muito lógico e politicamente correto, mas irrefletido.
Tanto que já há vozes dissidentes a sugerir, não, a afirmar categoricamente, que os veículos elétricos não são a solução, entre elas a de um senhor de que talvez tenham ouvido falar de nome Carlos Tavares, CEO da Stellantis, que funde a Peugeot Citroën e a Fiat Chrysler, e que, pelo caminho, apanhou e salvou também a Opel, marca emblemática do espetro dos fabricantes Europeus. Ou seja, que sabe minimamente do que está a falar...
A verdade nua e crua é que nem o petróleo está em perigo de acabar, nem a solução elétrica, que implica criar mais poluição na fase antes do fabrico do carro do que durante toda a sua vida em circulação, é uma solução sequer a médio prazo.
A solução real e sustentável há de passar por muitas pequenas alterações na forma como encaramos e utilizamos veículos e já está a acontecer. Para já, passa por bicicletas assistidas a baterias, trotinetes elétricas e veículos a pedal. E, certamente pelas motos, mais pequenas, mais manobráveis, mais económicas, ocupando muito menos espaço no tecido urbano e danificando muito menos - se de todo - as superfícies onde rolam. As motos teriam sempre que ser equacionadas como parte da solução e nunca como parte do problema, como está a acontecer agora nalgumas vilas alemãs, com uma proibição global à sua circulação, que não faz distinção dos veículos elétricos, apesar destes não fazerem barulho e não poluírem, que são os dois elementos principais na origem da proibição em primeiro lugar.
Burocracia cega, surda e muda e, pelos vistos, estúpida, está portanto a excluir o que seria para já uma das soluções, o que mostra, se não outra coisa, os perigos de legislar irrefletidamente e deixar certos grupos e certos lobbies dominar o pensamento coletivo em nome do politicamente correto.
No futuro, a solução real pode muito bem passar por motores de hidrogénio ou motores de combustão altamente eficientes, que já foram testados em alguns contextos com bons resultados... ou por uma forma de energia que neste momento nem suspeitamos existir, ainda por descobrir.
Seja como for, não ir cegamente atrás de soluções fáceis é o primeiro passo.
andardemoto.pt @ 26-10-2022 18:07:00 - Paulo Araújo
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