Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

Oliveira e os descrentes

Já lá dizia o outro que até para saber que nada sabemos, temos que saber um bocadinho. Isto aplica-se às mil maravilhas à presente discussão ao rubro nas redes sociais sobre a saída de Miguel Oliveira da KTM.

andardemoto.pt @ 17-6-2022 11:51:26 - Paulo Araújo

A primeira peça do puzzle já foi encaixada no tabuleiro há dias, com a confirmação de que Jack Miller vai estar ao lado de Binder na KTM para o ano.

Falta confirmar para onde irá Miguel Oliveira, sendo a Ducati Gresini a aposta mais provável.

Até aqui tudo bem, agora, não percebemos é a atitude de críticos de bancada que sem poderem ter conhecimento real do que se está a passar nos bastidores opinam como autênticos experts:

Uns criticam Miguel Oliveira pela sua falta de resultados, esquecendo que é o único piloto da KTM que já tem uma vitória este ano, e um de apenas 5 pilotos que o fizeram.

Outros são severos críticos da KTM, alvitrando comentários que imediatamente revelam a sua total ignorância de como é gerida uma equipa de MotoGP ao mais alto nível: uma das teorias avançadas é que a KTM está a dar o melhor material a Brad Binder para prejudicar Miguel Oliveira, o que traduzido por miúdos significa que um investimento de milhões estaria a ser subvertido e deitado por água abaixo, em nome de uma birra para favorecer um piloto sobre o outro quando os resultados tem muito  pouco por onde escolher:


Binder é mais agressivo e consegue fazer coisas com a moto quando ela não está a funcionar plenamente. Coisas que por vezes dão resultados espetaculares: Uns, no pódio e outros na gravilha.

Oliveira é mais cerebral e não arrisca a fundo quando não sente que está tudo bem. Este ano está a provar-se um exceção para o piloto de Almada, que raramente cai e protagonizou praticamente duas épocas de Moto2 com apenas uma queda não há muito tempo atrás.

Como cada queda pode facilmente chegar aos seis algarismos no custo de reparações, não é difícil adivinhar qual das duas aproximações uma equipa que pretenda andar na frente e desenvolver a sua moto escolheria.

Também há os que se enraivecem com a suposta rejeição da KTM a Oliveira quando lido entre as entrelinhas, é patentemente óbvio que foi o contrário que sucedeu: a marca começou a falar de alternativas porque o piloto disse à equipa que não tinha intenção de renovar por uma moto que andou para trás na competitividade, e nem a suposta promessa de um aumento substancial de salário veio fazer a diferença.

Com quatro vitórias em MotoGP, Miguel é dos pilotos mais credenciados da grelha, basta lembrar que pilotos da frente com estatuto oficial como Pol Espargaró, Johann Zarco, Takaaki Nakagami, Alex Márquez ou Luca Marini nunca venceram ainda na classe rainha.

Depois, a própria premissa de que uma equipa se daria ao trabalho de fazer alinhar um piloto, a um custo de milhões, para lhe dar equipamento inferior, é ridícula.

E tornada ainda mais risível pelo facto de que Oliveira é tão importante como afinador, que já no tempo da Tech3 as suas dicas de afinação eram passadas para cima à equipa de fábrica para ajudar Pol Espargaró, que até à data tinha os melhores resultados com a RC 16, nomeadamente na altura um pódio em terceiro.

O que é evidente é que algumas melhorias para 2022 não funcionaram (leia-se conjugação do chassis com os avanços dos slicks Michelin) e a KTM deu um passo atrás este ano, ou, mais precisamente, falhou em acompanhar o passo em frente que os outros deram:

Na Aprilia esse passo foi enorme, na Honda e Suzuki houve progressos, a Ducati sempre lá esteve e só a Yamaha pareceu levar um bocadinho mais de tempo para acompanhar o ritmo, mas consegue fazer ondas onde interessa, na mão do titular Quartararo, que lidera agora o campeonato e está a defender bem o seu título.

Assim Oliveira vai em busca de novos ares. Se a passagem de Oliveira à Gresini se concretizar, é um novo capítulo na sua carreira no Mundial, a primeira mudança de marca do piloto, que desde há muitos anos está sob a alçada da KTM.

Se o conjunto de moto-piloto, ajudado pela temível velocidade de ponta da Desmosedici, der a Miguel o que ele não tem conseguido até agora, a capacidade de qualificar mais perto de frente, grandes coisas poderão estar no horizonte...

Tenham um bocadinho de fé, o jogo não está acabado, antes recomeça agora com o nosso homem na MotoGP mais forte do que nunca.

andardemoto.pt @ 17-6-2022 11:51:26 - Paulo Araújo

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