Paulo Araújo
Motociclista, jornalista e comentador desportivo
OPINIÃO
Moto GP- Qual é o problema com a Yamaha?
Valentino Rossi está em segundo no Mundial de MotoGP à chegada à Holanda... mas a Yamaha ainda não venceu uma corrida em 2018...
andardemoto.pt @ 27-6-2018 23:49:53 - Paulo Araújo
Valentino Rossi e Maverick Viñales estão em dificuldades em 2018- isso não é segredo nenhum. Por esta altura em 2017, Viñales tinha ganho 3 corridas, e ficado em segundo noutra.
Valentino, que este ano parece ter-se adaptado melhor à YZFR M1, ou aos Michelin, está um pouco melhor, mas também ele já tinha dois segundos lugares e ganharia mesmo em Assen a caminho de um 5º lugar no final no campeonato, a 90 pontos de Márquez.
Este ano, Il Dottore tem conseguido uma série de pódios,
mas zero vitórias, decerto uma condição para se manter como candidato ao título
que já foi seu em sete ocasiões anteriores.
O que equivale a dizer que, com sete rondas disputadas, as Yamaha ainda não ganharam uma única corrida- num ano em que o número de vencedores vai em quatro, exatamente como em 2017 por esta altura.
A Honda, que confessa também estar em dificuldades por vezes, tem conseguido ser superior mesmo quando Marquez cai, enquanto a M1 perdeu competitividade, por várias razões que vamos tentar analisar.
Uma, é justamente, a súbita competitividade dos seus adversários principais. Não só Marquez lidera o Campeonato com 3 vitórias e 2 segundos (mas também duas ocasiões em que não pontuou) como as Ducati vencem com Dovizioso primeiro e, agora, com Lorenzo.
Mais: do lado da Honda há um piloto, chamado Cal Crutchlow, de uma equipa satélite, a Lucio Cecchinello Racing, também que vence. Para mais, o homem de Coventry, antigo Campeão Mundial de Supersport, venceu na Argentina, onde nem Rossi nem Marquez pontuaram!
Em suma, a M1 não é consistente e rápida como no início da época de 2017, quando parecia claramente a melhor moto da categoria rainha. A mais recente vitória de um piloto da casa dos três Diapasões data de Junho de 2017, justamente em Assen, o GP que agora se avizinha… talvez Rossi surpreenda tudo e todos e ganhe outra vez!
Entretanto, o italiano de 39 anos tem tentado, na sua habitual maneira franca, explicar os problemas com a sua moto:
“O Michelin dianteiro exige colocar a moto em curva de uma forma que parece contrária ao modo de trabalhar da ciclística da M1… não só temos dificuldades em entrar em curva, com o pneu a derrapar muito, e a forçar-nos a alargar a trajetória, mas depois, a meio da curva, a moto escorrega muito, pelo que também não se pode acelerar cedo!”
Há uma falta de sensação do chassis que, se a experiência de Rossi ainda lhe permite dar a volta e andar com a moto de forma rápida, baralha tudo no caso de Viñales, que é um piloto que guia muito pendurado na dianteira, estilo Stoner, coisa que sem confiança na aderência da frente, se torna impossível… A M1 gasta os pneus prematuramente, indicando talvez um problema de distribuição de peso.
A Yamaha começou a atrasar-se no desenvolvimento desde que, em 2016, a equipa mudou para o sistema de gestão de motor Magnetti Marelli. Como a Honda e Ducati já usavam o sistema há mais tempo, já sabiam melhor como tirar partido dele, e a marca de Ywata parece nunca mais ter recuperado totalmente desde então – a ponto de Johann Zarco, na moto satélite, ter batido ambos os pilotos da Movistar em pelo menos duas ocasiões, subindo ao pódio em ambas.
O lado difícil da coisa, mesmo com a actual telemetria a dar toneladas de informação para analisar é que, como se diz em filosofia, os extremos se tocam… carreguem demais o pneu contra o piso, e ele começa a esfarelar antes de escorregar. Mas se o carregarem de menos, fica levemente apoiado, e também derrapa e se deteriora, embora um observador experimentado seja normalmente capaz de distinguir o que causa a degradação.
Todas estas dificuldades vem jogando, no seio da equipa, a favor de Valentino, relativamente ao seu menos experiente colega de equipa…
Rossi não só sabe descrever o que está a acontecer, mas não raro, consegue adaptar a sua condução para contornar o problema. Viñales, aparentemente, pilota de uma maneira, e de uma maneira só, mais no limite, e com esta M1, simplesmente não o consegue fazer.
Pelo menos, velocidade de ponta não parece faltar – mas há poucas zonas de poucos circuitos onde isso possa fazer muita diferença.
Geralmente, é a capacidade de acelerar de forma estável à saída de curvas, o mais cedo possível, que faz a diferença – embora a entrada, como vimos com Lorenzo recentemente, também tem muito que se lhe diga.
Adiante, nalguns circuitos, o extraordinário talento de Rossi ainda lhe vai permitir superar os pontos menos conseguidos da M1 e lutar pela vitória.
Assen é um deles… será que vamos ter uma agradável surpresa?
andardemoto.pt @ 27-6-2018 23:49:53 - Paulo Araújo
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