
Paulo Araújo
Motociclista, jornalista e comentador desportivo
OPINIÃO
Curiosidades - Evinrude e os Davidson
Descubra a relação quase desconhecida entre um emigrante Norueguês nos Estados Unidos e
os criadores da Harley-Davidson.
andardemoto.pt @ 22-3-2018 07:10:56 - Paulo Araújo
Mesmo ao virar do século XX, em 1900, um imigrante norueguês dotado para a mecânica estabeleceu em Milwaukee a fábrica de motores Clemick & Evinrude.
Evinrude nascera, de facto, em Gjovik, na Noruega, a 19 Abril de 1877, mas foi com os pais, para os Estados Unidos, aos 5 anos de idade. A sua relação de amizade com os irmãos Davidson é pouco conhecida, mas terá dado aos fundadores de uma das mais antigas marcas de motos do mundo muitos dos seus primeiros ensinamentos mecânicos. Certamente, foi fundamental no desenvolvimento do primeiro motor da marca Americana.
Tudo por causa de um gelado
Evinrude conheceria fama como inventor do primeiro motor fora de bordo, uma ideia que, supostamente, lhe veio da necessidade de atravessar a remo um lago num dia quente de verão, para ir buscar um gelado à namorada.
Porém, a sua fama é relativa, se comparada com a
de dois irmãos adolescentes que trabalharam para ele na sua oficina de
Milwaukee: Estamos a falar de William e Arthur Davidson, que viriam a criar,
com a ajuda do amigo engenheiro William Harley, a mítica Harley-Davidson.
Ole Evenrudstuen Andreassen Aaslundeie, nascido numa quinta nos
arredores de Oslo mas trazido pelo pai para os EUA, adoptou o
mais sonante nome do lado materno e americanizou-o para Evinrude. Deixando a
sua casa de infância em Cambridge, do Estado de Wisconsin, e ultrapassando
objeções paternas, Ole mudou-se para Madison, conseguindo uma posição de
aprendiz de serralheiro na oficina de maquinaria agrícola Fuller & Johnson, à razão de 50 cêntimos por dia.
Seguiram-se outros trabalhos em Milwaukee,
Pittsburgh e Chicago, à medida que estudava engenharia à noite. Cada trabalho
sucessivo teve o condão de lhe ensinar diferentes aspectos da indústria
(siderurgia num, tornearia no outro, construção de motores no seguinte, depois
desenho e ensaio) até que o aprendiz se torna num serralheiro de primeira e
engenheiro autodidacta. Em 1900, com apenas 23 anos, Ole abre a sua primeira
empresa no Wisconsin e pouco após, chegou mesmo a criar o seu próprio
automóvel, que não conseguiu nunca comercializar.
Porém, a experiência adquirida e a
ideia de converter uma encomenda governamental de motores portáteis num
propulsor capaz de ser adaptado a um barco, levou-o a criar e comercializar o
seu primeiro motor fora de bordo, alimentado a gasolina e mistura dois tempos.
O motor era feito em aço e latão, e pegava através duma polia ligada directamente ao volante
do motor.
Em 1909, a Evinrude Motor Company foi fundada em Milwaukee , e três
anos depois, empregava já 300 operários. Embora Ole a vendesse pouco depois,
para cuidar da sua amada esposa que padecia de saúde delicada, o mais
extraordinário aspecto desse período foi a passagem pela firma, que então
desenvolvia motores para automóveis, de dois jovens notáveis que com ele tinham
travado amizade: os jovens William Harley e Arthur Davidson, que pela mesma
altura vinham desenvolvendo o seu próprio motor, acabando por fundar a sua Harley-Davidson, também em Milwaukee, na Juneau Avenue – a poucos quarteirões de distância da
Evinrude, situada em Lake Street, na mesma zona.
De uma amizade... nasce um motor
De facto, fora Evinrude que
sugerira, depois de ter conhecimento dos planos originais da motorização dos irmãos Davidson, optarem por um motor mais simples, refrigerado por ar, em vez do mais complexo e pesado motor de refrigeração por líquido que os irmãos tinham contemplado inicialmente.
Esse primeiro motor, um
monocilíndrico de 24,74 polegadas cúbicas (395 cc) apresentava um débito muito respeitável de 3 cavalos de potência, mas era muito grande para o quadro pensado
inicialmente, obrigando os irmãos a adaptar, no barracão atrás da sua casa, um
quadro tipo berço, como o utilizado pelas concorrentes Merkel,
A influência de Envirude no motor de William Harley e Arthur Davidson foi notável, e chega até aos dias de hoje, pois a Harley-Davidson usa o sistema de tuches de
válvulas e a alimentação de óleo à cambota, desenvolvidos inicialmente por Evinrude.
Mais
tarde, em 1919, Ole Evinrude inventaria outro motor náutico, ainda mais leve e
simples, já que o aço e latão foram substituídos em grande parte por alumínio, e que foi o primeiro da sua nova empresa, a ELTO (Evinrude Light Twin
Outboard) Motor Company, que fazia frente à entretanto surgida concorrência da Johnson de Indiana.
Após muitas fusões e solavancos financeiros, a companhia fundada por Ole Evinrude ainda hoje
existe, fazendo parte da bem conhecida multinacional Canadiana, Bombardier.
Quanto a Bill Harley e aos
irmãos Davidson, todos sabemos que viriam a desenvolver a mais carismática marca de motos do mundo,
equipando motociclistas individuais, além de forças policiais e militares por
todo o planeta, e criando ao mesmo tempo uma verdadeiro mito, que apaixona
milhares de motociclistas pelo mundo inteiro.
andardemoto.pt @ 22-3-2018 07:10:56 - Paulo Araújo
Outros artigos de Paulo Araújo:
Quando o cliente é o menos importante
A MotoGP em 2023: Mais eletrónica, mais técnica, mais difícil
As (minhas) motos ao longo dos anos
Época tola na MotoGP: Tudo muda em 2022
Miguel Oliveira - De herói a vilão
MotoGP, Testes pré-época em Valencia
Milão mostra as tendências globais
Superbike - Rea é o culpado da crise?
Marquez, 7 vezes Campeão - De outro mundo
Leon Haslam vence Britânico de Superbike - Meio século de glória para o clã Haslam
Por dentro dos Grand Prix Legends...
Frank Sinatra e Eddie Lawson: a teoria do afastamento precoce
Curiosidades - As marcas e os nomes
Mundial de Superbike chega a Portimão ao rubro – previsão
MotoGP 2018 - Decisão histórica
Recordes em pista - A tender para zero?
Bons velhos tempos nas Superbike
Superbike- Irá a nova BMW fazer diferença?
Mundial Superbike 2018 – Uma época à procura de maior equilíbrio
Moto GP- Qual é o problema com a Yamaha?
MotoGP - Silly season - a época tola
Uma crónica acerca de... nada!
"Tudo é possível" - uma aventura em Vespa
Ilha de Man 2018 - Recordes batidos, e ainda vamos nos treinos!
Barry Sheene, as motos e o marketing
Mundial SBK - A evolução da Yamaha YZF-R1
Curiosidades – Os homens da Força Aérea Sueca
Histórias do Mundial - Santiago Herrero: Campeão sem coroa
Curiosidades - Evinrude e os Davidson
MotoGP - Previsão de uma época histórica
Mundiais de Velocidade - A YZR500, ou OW – A 500 de GP da Yamaha
Mundiais de Velocidade - A Honda NS/NSR500
Mundiais de Velocidade – A Suzuki RG500 - Parte II
Mundiais de Velocidade – A Suzuki RG500 - Parte I
Mundiais Velocidade - A evolução
Moto GP – Como vai ser 2018? – 3ª Parte – A Suzuki e a KTM
Moto GP – Como vai ser 2018? – 1ª Parte – A Honda e a Yamaha
Os famosos e as motos – Uma inevitável atração?
Histórias do Mundial – Gary Nixon, o campeão que nunca chegou a ser...
Histórias do Mundial – As poderosas 500
Histórias do Mundial - Degner, Kaaden e a MZ
Grande Prémio de Macau de 1986 - O primeiro com portugueses - 1ª parte
Mundial Superbike – Retrospectiva 2017
A Moriwaki – Um prodígio à Japonesa
Quando os Grandes Prémios serviam para sonhar - A ELF500
Harris YZR500 - A aventura no Mundial
Técnica MotoGP - “Chatter” e como o evitar
GP San Marino Moto GP – A ausência de Rossi
Curiosidades do Mundial de outrora...
Mundial de Superbikes - A corrida no México
O Mundial de velocidade, como era há 30 anos...
Recordando as 8 Horas de Suzuka
As corridas de Clube em Inglaterra
Recordando a magia de Spa- Francorchamps
Como resolver a crise nas SBK?
McLaughlin e a criação das Superbike
Mundial MotoGP - Itália - Chega o novo Michelin
É tempo de Ilha de Man de novo
As origens da KTM de Miguel Oliveira
Jerez de la Frontera: Destino obrigatório
Mundial de Superbikes chega a Assen
Parentescos - Porque há cada vez mais famílias no MotoGP?
A propósito de Motoshows por esse mundo fora...
Moto2 revela equilíbrio antes da prova inicial em Losail, no Qatar
Novos pneus Michelin em foco nos treinos MotoGP
Clique aqui para ver mais sobre: Opiniões