
Paulo Araújo
Motociclista, jornalista e comentador desportivo
OPINIÃO
Mundial de Superbikes - A corrida no México
Em finais de 1992, a gestão do Mundial de Superbikes pelos
irmãos Flaminni, na prática exercida no dia a dia pelo Belga Francis Batta, mais tarde manager da Suzuki Alstare, estava
praticamente consolidada. Faltava adicionar mais alguns países à lista.
andardemoto.pt @ 23-8-2017 08:40:07 - Paulo Araújo
Em 1992, o Campeonato Mundial de Superbike estava bem estabelecido, tinha alguma cobertura televisiva, equipas e pilotos de muitos continentes (Europeus, Americanos, Australianos e até um ou outro Japonês) e faltava adicionar alguns países fora da Europa, em nome da verdadeira internacionalização.
Como o Campeonato visitava os Estados Unidos, mas já não o Canadá (tinha ido a Mosport em 1988 e 1989), a forma óbvia de arranjar uma segunda corrida no Continente Americano era o México. As autoridades do país tinham interesse em projectar a prova, e assim, deslocaram-se à Europa para convidar pilotos a realizar uma corrida extra-campeonato como ensaio geral para colocar o circuito Pedro Rodríguez no Mundial em 1993.
Na reunião, transpareceu, apesar das melhores garantias dos Mexicanos, que ninguém tinha grande interesse em deslocar-se ao México para uma prova que não pontuava para o Campeonato. A Ducati e a Honda Rumi, praticamente as únicas formações oficiais, declararam-se logo de fora, obrigando os Mexicanos a incentivar os privados com um pacote muito atraente: transporte para as motos a partir de Amsterdão, 4 bilhetes pagos, estadia e 2.000 dólares para alinhar a cada piloto.
Com isto, conseguiram uma lista de privados razoável, alguns dos quais nem sequer eram regulares do Campeonato.
De França, vinham Hervé Moineau e Jean-Yves Mounier, de Itália Piergiorgio Bontempi numa Ducati emprestada, o saudoso Baldassare Monti, (que faleceria em 2008 num acidente semelhante ao que vitimou Nicky Hayden há pouco), Davide Tardozzi, Aldeo Presciutti e outros que não recordo agora. A equipa de luxo era a Ducati Fast by Ferracci, com a vantagem de só terem de atravessar do Texas. Eraldo Ferraci alinharia com Doug Polen, ostentando o Nº 1 do seu renovado título Mundial de SBK, e com um jovem Canadiano francês de nome Pascal Picotte, que passou o tempo a dormitar nas boxes até ser hora de sair na moto e impressionar todos.
Havia também um par de locais rápidos, mas como motos que não estavam bem à altura dos regulares das SBK, o Holandês Jeffry de Vries e Terry Rymer na Ducati da Pepsi-Galp.
A corrida foi disputada no fim do verão, com tempo quente, mas a coisa mais impressionante para os participantes à chegada não foi o tempo, mas sim a dimensão da Cidade do México, onde se situa o Circuito. É uma metrópole de tal modo extensa, que os próprios locais não sabem dizer o número exacto de habitantes, estimado entre 22 e 24 milhões...
Os motoristas de táxi, como viríamos a descobrir, conhecem só a sua “zona” da cidade, e quando saem dela, param para pedir indicações... No mapa da cidade, a distância que percorríamos diariamente no autocarro oficial para ir do Hotel à pista, por comparação a um mapa da Grande Lisboa, seria o equivalente a ir do Saldanha ao Campo Grande... e levava 1 hora e quarenta minutos.
Ao fim de uma ou duas viagens, produziu-se um efeito interessante: os primeiros a chegar sentavam-se todos do lado esquerdo do autocarro... para ver os acidentes por que íamos passando ao longo do caminho, que nunca eram menos de 4 ou 5...
A pista, por seu lado, também não era isenta de problemas. A Ducati Ferracci quase não pode participar quando as autoridades Mexicanas decidiram que o Camião da Dunlop, carregado de pneus até ao teto, só podia ser contrabando e não o deixaram entrar...
Os caixotes com as motos começaram a chegar à pista horas DEPOIS da hora marcada por os primeiros treinos livres... com o chorrilho de anedotas sobre a noção de tempo dos Mexicanos que poderão imaginar!
Pior, Pedro Rodriguez está situado numa gigantesca área verde pública, e foi mesmo muito difícil convencer os Mexicanos que naquele dia, não, não podiam fazer “jogging” na pista porque ia haver uma corrida de motos... tiveram de vir elementos do exército para impedir o público de sair para o traçado a meio dos treinos com ténis e calções de atletismo.
Os elemento do exército, de capacete e arma automática ao ombro, eram tão rigorosos que também impediam os jornalistas de estar na pista a fotografar... até receberem algumas moedas ou um maço de tabaco.
Enfim, a corrida, disputada em duas mangas, teve boa acção, com a final disputada entre os quatro mais rápidos, Picotte, Bontempi, Polen e Rymer, que primeiro tivera de se livrar de Tardozzi, hoje manager da equipa de MotoGP, numa manobra que deixou o italiano muito irritado.
Ah, e como toda a gente sabe as mulheres mexicanas são gordas, baixinhas e com bigode, não é? Vejam a foto! Enfim, os problemas sentidos nesta corrida não foram mais que um prenúncio dos problemas sentidos na corrida que terminaria o Campeonato um ano mais tarde, em 1993...
Quando um cão se atravessou à frente da Kawasaki de Aaron Slight em plena reta, foi a gota de água final num fim de semana cheio de problemas que levou ao abandono da prova... e o Campeonato ficou decidido a favor de Scott Russell, o primeiro título da Kawasaki, pelo resultado anterior em Portugal!
andardemoto.pt @ 23-8-2017 08:40:07 - Paulo Araújo
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