Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

As (minhas) motos ao longo dos anos

As motos são sempre o fulcro, ou pelo menos o ponto de partida, de praticamente todas as conversas entre motards.

andardemoto.pt @ 11-10-2022 01:07:49 - Paulo Araújo

Começamos com a que temos, os seus méritos relativos, razões da escolha, prós e contras – se houver contras, os mais ferrenhos tendem a só ver as qualidades – e isso inevitavelmente leva-nos às outras. As que tivemos antes, qual tivemos primeiro e por aí fora.  

É uma pergunta que me fazem amiúde e, nesse aspeto, a minha história deve ser atípica. Perguntem à esmagadora maioria dos portugueses e o normal é começar por uma motorizada (para muitos, a V5, Macal, Casal, Zundapp ou coisa do género), depois evoluir para uma Yamaha DT125 e então a primeira moto “grande”. Até nestas há geralmente pontos em comum: a Honda 600 ou Suzuki GSX-R 750 vão recorrer com alguma frequência.

Começarão a entender o que quero dizer por história atípica quando revelar que a minha primeira 50 (e já tive 4 ou 5) não foi a minha primeira moto, nem de longe.

Até por ser um bocado do contra, fiz questão de não começar com uma 50, mas com uma C70, daquelas Honda que são a moto mais vendida no mundo (mais de 10 milhões) e existem em Inglaterra em 50, 70 e 100cc. A vantagem da 70 para mim era poder andar nas auto-estradas, mas de resto como moto era limitada. Tanto que, quando uns meses depois de a adquirir e usar diariamente em Londres me apresentei a exame com ela, chumbei.

Compreendo a relutância de um examinador que vê chegar um candidato numa scooter de 6 ou 7 cavalos, travões medíocres e caixa automática de três velocidades de lhe passar um atestado que a seguir lhe permitiria conduzir cavalagens e cilindradas ilimitadas.

A seguir, comprei (notem que não disse troquei, ainda mantive ambas um tempo) uma Honda CB250. Não a feíssima K4, de escapes horizontais, normalmente verde escura e vulgar em Portugal, mas a muito mais graciosa G5, com os escapes curvos para cima e disponível em cores bonitas, azul, verde ou laranja metalizado. Por razões que não vêm muito ao caso, dessas tive duas, uma de cada, azul e laranja, e uns anos depois, até uma Dream, aquela que já tinha rodas prensadas Comstar como as Bol d’Or e um barulho de escape tendente a envergonhar qualquer motard digno desse nome.

Entre elas, graduei para uma CB400 Four (por esta altura já estão a ver que a Honda figurava proeminentemente nas minhas preferências), apenas uma de duas motos que comprei nova em 47 anos, e a seguir uma BMW R100RS, a moto de luxo da altura: primeira moto comercializada com carenagem integral, com relógio VDO e voltímetro, jantes, discos frente e trás, malas Krauser e, aposto que ainda hoje surpresa para muitos mas de origem nas séries 6 e 7, uma bomba de pneus escondida no quadro.

A 1000RS (nominalmente era uma 980!), como topo de gama que era, tinha ainda um estojo de primeiros socorros sob o assento e detalhes como borracha cinzenta no pedal das mudanças para não manchar os sapatos dos executivos que presumivelmente as iriam adquirir aos magotes.

Em Portugal não, claro, que um profissional de um certo estatuto social dificilmente se podia permitir ser visto em moto, não fossem pensar que era o seu único meio de transporte.

Com a BMW, vim várias vezes a Portugal, habituando-me, quando regressava de alguma paragem, a ter de furar através duma multidão para chegar ao pé dela, mas com menos paciência para a conversa que inevitavelmente se seguia:

“Quanto custou?”

“Oh, para aí 400 contos…”

“… mas com isso comprava um carro!” – estupefação.

“…ou 50 bicicletas ou 200 pares de sapatos… tudo depende se queremos uma moto, um carro, 50 bicicletas ou 200 pares de sapatos!” – dizia eu já com a resposta ensaiada.

Sem os maçar com a lista completa, tive também várias Yamaha, uma Suzuki 125 (agora 2), uma coisa com motor Kawasaki para as corridas e, mais recentemente, 1 Casal K276 e 1 Vespa.

Muitas de cilindradas médias foram adquiridas para poupar a moto “maior” (que inclui também uma Honda CB750F1) e neste caso estão uma Honda CG125 (ainda antes de serem feitas no Brasil!) uma CD200, uma SL125, uma H100 que não sabem o que é mas é basicamente uma RZ50 a dois tempos com motor maior, e a tal Suzuki.

Já em Portugal, passei pela inevitável Yamaha DT125, esquivei-me duma FJ1200 impecável que estive quase a comprar até ver que o “impecável” incluía um amachucão no depósito, um espelho a menos e ausência de bicha do conta-quilómetros, e lá acabei com outra nova Honda, uma VFR750.

Se compararmos os preços em termos relativos, dos meus começos em 1975 para agora, uma moto (quase) nova representava cerca de 4 meses de trabalho.

Agora, nem um ano daria… estou a pensar seriamente em comprar outra Honda VFR! Ah, e se querem mesmo saber, o total dá 29!


andardemoto.pt @ 11-10-2022 01:07:49 - Paulo Araújo

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