
Paulo Araújo
Motociclista, jornalista e comentador desportivo
OPINIÃO
Meninas e Motos
Parece que muitos só repararam que (também) há mulheres a
correr em moto após a recente vitória de Ana Carrasco no Mundial de Supersport
300, em Portimão a 17 de Setembro do ano passado... mas elas são cada vez mais numerosas.
andardemoto.pt @ 17-5-2018 00:00:01 - Paulo Araújo
Antes de Maria Carrasco, já houve numerosas senhoras a competir, desde que, em 1962, a Inglesa Beryl Swain colocou a sua Itom 500 à partida para o Tourist Trophy, acabando na 22ª posição. As senhoras continuam em minoria, mas uma minoria já considerável, a ponto de países como a França (Coupe Moto Eve) e Itália (Trofeo Femminile) terem Troféus separados para as senhoras.
Poderíamos mencionar também que outra senhora, Maria Herrera, acabou pouco atrás de Carrasco em sétimo lugar no exigente traçado italiano. Há muitas razões para Ana Carrasco ter ganho agora (e voltado a repetir a dose há dias em Imola, liderando agora o Mundial). Por um lado, a classe de Supersport 300 é acessível financeiramente, apesar da boa divulgação que atrai, depois é disputada com motos leves, não-intimidantes e com um mínimo de preparação autorizada.
A popularidade das duas rodas na sua Espanha natal faz com que, inevitavelmente, entre as centenas de varões a competir, apareçam também algumas meninas – e há famílias em que se respira motos e competição há 3 gerações, como os Busquet de Barcelona ou os Rossell de Valencia, (Elena Rossell representou Espanha há uns anos na Copa Suzuki e já dava cartas a muitos homens, antes de se aventurar na Moto2, em 2012, tornando-se na primeira mulher a fazê-lo).
Nos EUA, é bem conhecida Melissa Paris, que de resto é
casada com o ex-piloto da equipa de Supersport da Parkalgar Josh Hayes e compete expressamente nos
campeonatos abertos, ou seja, está habituada a ser a única senhora entre
homens. Mais recentemente, começou ela própria a promover outras raparigas,
como Shelina Moreda (com quem fez história ao participar nas 4 Horas de Suzuka,
evento de apoio à prova japonesa do Mundial) ou Jamie Astudillo, uma jovem latina que
corre para a equipa de Melissa com uma KTM. Há ainda Elena Myers na velocidade
e noutra modalidade muito à EUA, Lesley Porterfield bate recordes de velocidade com a
sua Hayabusa.
Do lado da Alemanha, o caso mais conhecido é Nina Prinz, mas
há outras. Há uns anos, a filha do importador da Suzuki para a Itália e
Alemanha, uma tal Katja Poensgen, correu com algum sucesso no Mundial de 250,
(marcou 2 pontos de 14ª em Itália em 2001 com uma Aprilia) antes de se virar
para as Superstock com a equipa Alstare Suzuki, também com algum sucesso. Katja
é agora, além de mãe, embaixadora para a velocidade da Comissão para as
Mulheres no Motociclismo da FIM.
Antes dela, uma pequena Finlandesa, Taru
Rinne, dera que falar tanto pelas suas prestações numa Honda 125 no Mundial
(pontuou 6 vezes, com um melhor resultado de 7º na Alemanha em 1989) como pelo fotogenia,
graças ao cabelo ruivo e olhos verdes. Também da República Checa, por essa
altura, andou no Mundial de 125 Marketa Janakova. Até na Ásia, há o caso de
Tomoko Igata, que também correu e pontuou no Mundial de 125 entre 1994 e 1995.
Recuando mais ainda, nos meus tempos de corridas de clube em
Inglaterra, tinha pelo menos duas colegas nas LC350, Tisha Rowe e Laura
Brightman, já para não falar da menina prodígio Ione Holmes, que acabou por
casar com o também piloto e agora
conhecido jornalista e ensaiador Roland Brown. Alguns anos depois, após uma
batalha mais ou menos longa contra alguma oposição de “velhos do Restelo”,
Maria Costello tornou-se na primeira mulher da era moderna a ser autorizada a competir na Ilha
de Man, seguida pouco depois no
Britânico de SBK pela talentosa Jenny Tinmouth, que competia com uma Fireblade preparada pela própria...
As Italianas poderiam
gabar-se de uma Paola Cazzola, Alessia Polita ou Samuela DeNardi, entre várias
outras que integram as grelhas locais. No final dos anos 80, no Mundial de Resistência, apareceu
uma dupla de Canadianas, Kathleen Coburn e Toni Sharpless, que com a francesa
Veronique Parisot alinharam no Bol d’Or em 1989 salvo erro... lembro-me de as
entrevistar e as histórias eram parecidas... família doida por motos, pai, mãe
e irmãos competiam, e era quase inevitável que elas viessem a experimentar
também. A experiência foi repetida em 2017 por uma tripla que incluía a
Holandesa Jolanda Van Westrenen em parceria com as francesas Muriel Simorre e
Amandine Creusot.
Uns anos antes, em 2008, a Luís Tuning tinha trazido a Portugal uma tripla de meninas para competir nos 500Km do Estoril , duas francesas , Eliane Pscherer e Marie-Pierre Vintaer e a sul-africana Wilmarie VanRensburg. Esta organiza mesmo uma escola de pilotagem na África do Sul, com várias mulheres a optar recentemente pela competição, como Janine Davies e Zoe Bosch, que corre com uma Kawasaki ZX-6R na África do Sul. Até na Índia, onde as coisas hão-de ser ainda mais difíceis para uma mulher, Alisha Abdullah compete em velocidade e gaba-se de ser a única!
Por último, mas nunca de somenos importância, em Portugal teríamos de lembrar a “nossa” Fernanda Ramos, que competiu vários anos no Troféu Honda CBR e, como única concorrente feminina, dava mais retorno que os eventuais vencedores do Troféu... enquanto agora, com as novas fórmulas de iniciação à velocidade, há várias meninas a competir, como a Bruna Lopes, Márcia Reis ou Beatriz Ramos, e nem temos aqui espaço para as numerosas concorrentes que passaram nas disciplinas de Todo-terreno, desde a Joana Lemos ou Elizabete Jacinto às menos conhecidas Mariana Portela de Morais, Sónia Catarino, ou mais recentemente a “menina” do Motocross Vanessa Hilário... Em resumo, as mulheres sempre estiveram nas motos, e hoje, cada vez mais.
andardemoto.pt @ 17-5-2018 00:00:01 - Paulo Araújo
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