Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

Mundial Superbike – Retrospectiva 2017

A época de Superbikes de 2017 não deixou de ser interessante, pese embora o facto do resultado nunca ter parecido em dúvida...

andardemoto.pt @ 9-11-2017 09:07:12 - Paulo Araújo

Logo das primeiras corridas, Jonathan Rea e a Kawasaki dominaram de forma avassaladora, entrando, uma e outra vez, para as estatísticas do Campeonato, notavelmente como o único piloto até hoje a averbar 3 títulos consecutivos. Se não fosse a vitória solteira de Melandri na segunda manga de Misano, o piloto de Ravenna, bem abaixo do esperado dele, só 3 pilotos teriam ganho corridas este ano. Dois deles foram os homens da Kawasaki oficial. 

A diferença é que, tendo começad0 com uma inferioridade nítida que só lhe permitiu ganhar na 6ª corrida do ano, em Aragón, a Ducati regressou em grande forma e por algum tempo, no “miolo” do Campeonato. 

Parecia que Chaz Davies, que viria a fazer dobradinhas em Imola e Lausitz, podia vir a dar luta ao Norte-Irlandês da Kawasaki. Mesmo porque Sykes, na segunda Kawasaki, parecia ter dificuldades em acompanhar o seu “chefe de fila”, embora não tenha perdido a sua espantosa regularidade e conseguido averbar 15 pódios, só não pontuando na ronda de Portimão, quando fracturou um dedo nos treinos, e depois na última corrida do ano no Quatar, onde caiu aparatosamente. Mas apenas venceu duas mangas, contra as 7 conseguidas por Davies.

Aqui é que as estatísticas se tornam espantosas, e mostram bem as capacidades de Rea. É que além destes quatro pilotos, mais ninguém ganhou em 2017, e apesar de quatro outras equipas de fábrica presentes (a Aprilia, a MV Agusta, a Honda e a Yamaha) apenas mais quatro pilotos pisaram o pódio.

Rea venceu 16 das 26 mangas, seis vezes com dobradinhas, foi ao pódio em TODAS as corridas que acabou (e só por uma vez em terceiro!) e já agora, só não acabou duas por raras quedas. Um piloto que raramente comete erros, tem uma capacidade espantosa de atacar a liderança logo de início, facto que terá contribuído em grande parte para desmoralizar eventuais adversários. Mesmo nas segunda mangas, que por alteração ao regulamento de 2017, passaram a ter as primeiras duas filas invertidas, ou seja, o vencedor da primeira corrida sai em 9º lugar, era vulgar Rea estar à frente logo à 2ª ou 3ª volta.

Com tudo isto, ainda assim Rea permanece calmíssimo e descontraído, partilhando a atenção aos seus dois miúdos Jake e Tyler, com a esposa Tatia, não poupando sequer elogios aos seus adversários nas declarações pós-corrida. 

Foi visível a sua preocupação quando em Misano, sem culpa sua, atropelou Chaz Davies quando o galês caiu mesmo à sua frente na primeira manga. Logo na volta de honra, Rea veio à curva saber do estado do rival e amigo, pois permanece uma realidade neste campeonato que os pilotos mantêm um alto nível de camaradagem entre si.



Perante este estado de coisas, quase podemos ser desculpados em esquecer, ou menosprezar, outros grandes feitos desta época... como a prestação consistente do Inglês Alex Lowes, a caminho de um 5º lugar – justamente o primeiro a seguir às quase imbatíveis Kawasaki e Ducati – através de 4 pódios que incluíram 2 segundos lugares. Por vezes, Lowes esteve mesmo perto da vitória, mas à custa de andar tanto no limite com a R1 da Pata, não pontuou em 6 ocasiões... duas a mais que o colega de equipa Michael V D Mark, que no entanto só conseguiu um segundo lugar, entre os seus 2 pódios.

E se estes dois ainda são pilotos de fábrica, que dizer então do privado Forés? O Espanhol que já participou na nossa velocidade há uns anos, e que ficou em 7º neste Campeonato de 2017, aproveitando a boa forma da Ducati da Barni para bater, em pelo menos 5 ocasiões, Marco Melandri na moto da casa mãe, e liderar as corridas por vezes por várias voltas?



Ou de Leon Camier? Que, sozinho na ultrapassada moto única da MV Agusta, fazia impossíveis, chegando a ficar em 4º lugar duas vezes e raramente fora dos primeiros seis? A sua recompensa já chegou, e vai ter um lugar na equipa Honda para 2018...

Por falar na Honda, este teve uma época de calvário! Que começou pela tragédia que nos roubou Nicky Hayden e deixou a equipa à procura de pilotos que pouca diferença fizeram no agregado, nem tendo sido sequer capazes de desenvolver a nova CBR1000RR a um nível em que, pelo menos, não envergonhasse o primeiro fabricante mundial. 

Stefan Bradl, cujo expoente máximo foi um 14º posto no campeonato, com apenas um solitário 6º lugar, como melhor resultado, e afastado a meio da época por lesão.

Nas 5 provas em que ainda participou, Hayden fez ainda pior, e o somatório dos 35 pontos marcados por Giugliano, Gagne e Takahashi, nem dão para equiparar aos pontos marcados por Sykes só na primeira prova do ano...

Em nono, mais a mais com uma moto apenas semioficial, teríamos de contabilizar o esforço de Jordi Torres na BMW S1000RR da Althea. Não só o espanhol de Barcelona bateu duas equipas de fábrica, a Aprilia e a Honda, mas teve por vezes brilhantes desempenhos numa moto que foi uma espécie de "travessia do deserto" para a equipa de Genesio Bevilacqua.

Que dizer da Aprilia? Equipa semioficial, ou equipa privada, equipada com motos de fábrica? Qual é o caso da formação de Shaun Muir?

 A equipa inglesa com as cores da Milwaukee teve de combinar os seus melhores técnicos com os especialistas da marca de Noale, que vieram com Savadori, mas nem este nem Laverty, cujo melhor foram dois quartos lugares, concretizaram o que por vezes parecia sem uma promessa forte. Pelo contrário, ambos foram várias vezes envergonhados pelo privado Leandro Mercado da Ioda Project, que pelo menos 4 vezes acabou à frente deles com uma moto de 2016.

Dos que “também lá andaram” teríamos de mencionar Roman Ramos, o Basco que fez impossíveis com a Kawasaki da GoEleven, sendo verdade que nenhuma outra Kawasaki anda tanto como as de fábrica da formação oficial.



Como ficamos para 2018? 

Sem grandes novidades no plantel, quase todas as equipas de ponta mantêm os mesmos pilotos, uma possível novidade sendo a entrada da MV Agusta com duas motos e Jordi Torres, mas sem segundo piloto confirmado para já... e um aumento do esforço da Kawasaki Pucetti com o discípulo de Sofuoglu, Toprak Razgatlioglu a que se deve juntar outro piloto, que poderá ser Leon Haslam ou Sylvain Guintoli.

Do lado dos regulamentos, o falhanço da táctica de inverter a grelha na segunda manga já se confirmou como indo dar azo a novas limitações: Parece que agora, quem mostre superioridade, vai ter a moto limitada nas suas rotações máximas po ruma aprelho instalado em todas, o que parece disparatado, mas é uma tentativa da Dorna de trazer mais algum interesse às corridas e impedir os melhores das SBK de envergonharem a MotoGP, como quando Rea bateu o recorde destas em Jerez com a sua Kawasaki...


andardemoto.pt @ 9-11-2017 09:07:12 - Paulo Araújo

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