
Paulo Araújo
Motociclista, jornalista e comentador desportivo
OPINIÃO
Porque correm os Ingleses?
Quando nos interrogamos acerca da pobreza da nossa velocidade e das suas eventuais razões, é sempre bom analisar como se passam as coisas num país de sucesso.
andardemoto.pt @ 26-4-2017 18:57:56 - Paulo Araújo
Na Grã-Bretanha, para citar o melhor exemplo, o desporto vive-se intensamente. Qualquer desporto.
Em vez do facciosismo, da grosseira sobre-mediatização do
futebol (na prática, actualmente mais preocupada com a agressão ao árbitro ou o
adepto atropelado do que com o jogo em si!) em Inglaterra fala-se, e vê-se, futebol,
cricket, râguebi, ténis, snooker, remo, corridas de cavalos, e, claro, desporto
motorizado.
A explicação para esta proliferação, se é que há uma, provavelmente recua à própria revolução industrial em si, que fez com que em qualquer cidadezita de Inglaterra houvesse serralheiros, oficinas, fundições, soldadores, etc. Destes, há mais de um século, muitos se preocuparam em começar a construir veículos, por diversão, desafio, ou espírito empresarial.
Lembro-me de investigar a dada altura e haver 14 marcas de moto só começadas pela letra C! Segue que, para marcas concorrentes, uma das maneiras óbvias de mostrar o seu produto em utilização era competir com ele. Logo se criaram numerosas associações que organizavam rampas, trials, corridas em campos, e pouco depois, quando o fim da segunda guerra mundial deixou um número de apetecíveis aeródromos abandonados, circuitos de velocidade.
Neste momento, no Reino Unido, há 18 pistas – e julgava o leitor que a Espanha tinha muitas! Para que niguém diga que exageramos, já as vou nomear a seguir:
- No sul, há Brands Hatch, Snetterton, Lydden, Goodwood e Thruxton, logo de caras.
- Cheguemos às Midlands, ou região centro, e temos Silverstone, Mallory, Oulton, Donington, Rockingham, Pembrey e Castle Combe.
- Mais a norte, há ainda Cadwell, com a famosa montanha que se transpõe com um salto de 4 ou 5 metros pelo ar, Darley Moor, Croft, Scarborough, Knockhill na Escócia e Kirkistown na Irlanda do Norte...
O ponto é que, não é difícil ter pilotos, pilotos aos magotes, quando muitos deles o são de terceira ou quarta geração... quantos da nossa cena desportiva podem dizer que já o avô mexia em motos ou corria?
No Reino Unido, a cultura de competição está por todo o lado. Os comissários de pista são voluntários, cujo único pagamento é o prazer de assistir às corridas de perto! E ainda têm de trazer as suas própria luvas e equipamento.
Um clube como o grande BMCRC que tem 108 anos, tendo sido fundado em 1909, oferece aos seus membros /pilotos uma escolha de 12 classes, desde velhas MZ250, a forma mais barata de competir, às Thunderbike ilimitadas, passando pelas 2T, que agrupam dum lado motos de GP de outrora, TZs, RGs, etc, e doutro os equivalentes de estrada LCs, YPVS e afins e pelas fórmulas de iniciação (Mini Twins, 14 anos) e Séries 300 (13-18 anos) além de Rookies 600 e 1000, sidecars F1 e F2, Formula 400, Supersport e Powerbikes.
Além deste, há o Aintree, o Darley Moor, o New Era, o North East, e ainda os que se dedicam às clássicas, que estão apinhados de concorrentes... a conviver com antigos campeões e a correr com motos que frequentemente valem mais que um carro moderno!
Os treinos e as corridas são curtos e frenéticos, razão pela qual, em qualquer formula internacional, os pilotos ingleses são frequentemente os mais rápidos no arranque e nas primeiras voltas.
É raro uma grelha não ter, pelo menos, 27 pilotos, e o mais comum é ficarem de fora 3 ou 4, para os 36 que são autorizados a alinhar – ou fazerem-se repescagens com os que ficam de fora...
Seria impossível, como em Portugal, um novato correr misturado com os nacionais, visto que em Inglaterra há 4 graus de Licença (Novato, Restrita a Clube, Nacional e Internacional). No primeiro grau, de novato, tem de se correr com um colete laranja, para todos saberem que ali vai um piloto inexperiente...
Tudo isto advém daquilo que, se calhar nos falta, ou temos em números irrisórios: paixão... ah, se fossemos mais!
(Já agora, quantos reconhece na foto acima, da grelha de Donington? Da esquerda para a direita, estão Ron Haslam (5), Wayne Gardner (8), Steve Parrish (6), Keith Huewen (16) e Roger Marshall (11)...)
andardemoto.pt @ 26-4-2017 18:57:56 - Paulo Araújo
Outros artigos de Paulo Araújo:
Quando o cliente é o menos importante
A MotoGP em 2023: Mais eletrónica, mais técnica, mais difícil
As (minhas) motos ao longo dos anos
Época tola na MotoGP: Tudo muda em 2022
Miguel Oliveira - De herói a vilão
MotoGP, Testes pré-época em Valencia
Milão mostra as tendências globais
Superbike - Rea é o culpado da crise?
Marquez, 7 vezes Campeão - De outro mundo
Leon Haslam vence Britânico de Superbike - Meio século de glória para o clã Haslam
Por dentro dos Grand Prix Legends...
Frank Sinatra e Eddie Lawson: a teoria do afastamento precoce
Curiosidades - As marcas e os nomes
Mundial de Superbike chega a Portimão ao rubro – previsão
MotoGP 2018 - Decisão histórica
Recordes em pista - A tender para zero?
Bons velhos tempos nas Superbike
Superbike- Irá a nova BMW fazer diferença?
Mundial Superbike 2018 – Uma época à procura de maior equilíbrio
Moto GP- Qual é o problema com a Yamaha?
MotoGP - Silly season - a época tola
Uma crónica acerca de... nada!
"Tudo é possível" - uma aventura em Vespa
Ilha de Man 2018 - Recordes batidos, e ainda vamos nos treinos!
Barry Sheene, as motos e o marketing
Mundial SBK - A evolução da Yamaha YZF-R1
Curiosidades – Os homens da Força Aérea Sueca
Histórias do Mundial - Santiago Herrero: Campeão sem coroa
Curiosidades - Evinrude e os Davidson
MotoGP - Previsão de uma época histórica
Mundiais de Velocidade - A YZR500, ou OW – A 500 de GP da Yamaha
Mundiais de Velocidade - A Honda NS/NSR500
Mundiais de Velocidade – A Suzuki RG500 - Parte II
Mundiais de Velocidade – A Suzuki RG500 - Parte I
Mundiais Velocidade - A evolução
Moto GP – Como vai ser 2018? – 3ª Parte – A Suzuki e a KTM
Moto GP – Como vai ser 2018? – 1ª Parte – A Honda e a Yamaha
Os famosos e as motos – Uma inevitável atração?
Histórias do Mundial – Gary Nixon, o campeão que nunca chegou a ser...
Histórias do Mundial – As poderosas 500
Histórias do Mundial - Degner, Kaaden e a MZ
Grande Prémio de Macau de 1986 - O primeiro com portugueses - 1ª parte
Mundial Superbike – Retrospectiva 2017
A Moriwaki – Um prodígio à Japonesa
Quando os Grandes Prémios serviam para sonhar - A ELF500
Harris YZR500 - A aventura no Mundial
Técnica MotoGP - “Chatter” e como o evitar
GP San Marino Moto GP – A ausência de Rossi
Curiosidades do Mundial de outrora...
Mundial de Superbikes - A corrida no México
O Mundial de velocidade, como era há 30 anos...
Recordando as 8 Horas de Suzuka
As corridas de Clube em Inglaterra
Recordando a magia de Spa- Francorchamps
Como resolver a crise nas SBK?
McLaughlin e a criação das Superbike
Mundial MotoGP - Itália - Chega o novo Michelin
É tempo de Ilha de Man de novo
As origens da KTM de Miguel Oliveira
Jerez de la Frontera: Destino obrigatório
Mundial de Superbikes chega a Assen
Parentescos - Porque há cada vez mais famílias no MotoGP?
A propósito de Motoshows por esse mundo fora...
Moto2 revela equilíbrio antes da prova inicial em Losail, no Qatar
Novos pneus Michelin em foco nos treinos MotoGP
Galeria de fotos
Clique aqui para ver mais sobre: Desporto