Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

Quando menos era mais...

Quem se lembra de mais de 70 pilotos e 20 marcas a competir na categoria rainha do Mundial?

De repente, fala-se muito da sensacional entrada de um sexto fabricante, a KTM, na classe mais alta do Mundial, nomeadamente marcando os primeiros pontos na mais recente corrida na Argentina, com Pol Espargaró em 14º e Bradley Smith em 15º...

andardemoto.pt @ 19-4-2017 14:10:36 - Paulo Araújo

A KTM é o 6º fabricante em 2017... mas em 1971 havia 24!

A KTM é o 6º fabricante em 2017... mas em 1971 havia 24!

Comecemos por dizer que não pretendemos com este artigo inferir qualquer demérito ao esforço de quem, para todos os efeitos, é um pequeno fabricante (180.000 motos em 2016 incluindo a produção da Husqvarna, contra quase 3 milhões dum fabricante como a Honda nos seus anos dourados).

Não, não há nada a criticar relativamente à KTM... apenas às memórias curtas – ou interesses actuais- que proclamam uma vitória na chegada de um 6º fabricante ao Mundial...

E se lhe dissesse que, há quarenta anos, MAIS de 70 pilotos pontuavam – note bem, PONTUAVAM, não é PARTICIPAVAM.

E olhe que não se pontuava até ao 15º como agora! Nesse tempo, o Mundial era menos profissionalizado, menos mediático, muito mais perigoso (o GP de Inglaterra corria-se na Ilha de Man, só para dar uma ideia!) e no entanto, muito mais concorrido!

 Escolhamos um dos anos gloriosos de Giacomo Agostini, já que continua por bater no seu total de 15 títulos Mundiais (13 só na classe rainha)... Digamos, 1971...

Uma olhadela ao livrinho da FIM revela que, nesse ano, pontuaram 74 pilotos (se-ten-ta-e-qua-tro, leu bem!) de... 13 nacionalidades. Estas incluíam um Russo, Finlandeses, Checos, Neo-Zelandeses e Holandeses além da habitual dieta de Italianos e Britânicos, com uma pitada de Australianos, Franceses, Suecos e Alemães pelo meio...

Contra isto, e se as estatísticas não me enganam, actualmente há apenas 6 nacionalidades entre os pilotos de MotoGP... e 10 deles, ou quase metade da grelha, são espanhóis, facto que mal mostra sinais de grande variedade ou renovação efectiva para a categoria...

Se em 2017 o Campeonato se estende a 14 países, nesse aspecto, sim, mais global que na versão 1971 que só contemplava a Europa, em todos os outros aspectos, nomeadamente no número de concorrentes, perde na comparação...

Só no 18º lugar de 1971 empataram, com 8 pontos cada, 7 pilotos, sendo um deles Phil Read, a demonstrar que o Campeão inglês nem sempre andou na mó de cima...

Mas o espantoso, mesmo, eram as marcas de moto presentes! Nada menos do que 23, com a MV Agusta a vencer, mas com todas as 4 grandes japonesas representadas, além de marcas agora tão conhecidas como a Norton, BMW, Matchless ou Bultaco a marcar presença, ao lado de outras agora completamente esquecidas como as Seeley, Monark, Linto ou Konig!

Colin Seeley, nome que não será estranho a quem acompanha mais as clássicas, ou que costume ir ao Salão de Stafford, já que ele é agora consultor da leiloeira Bonhams, tinha 8 motos nos pontos, e o sonhador Signor Patoni, da célebre 500 verde do mesmo nome (OK, Paton), já aparecia em 16º, que considerando o total pontuado já referido, era equivalente a ficar em 4º na actual grelha de 23 motos...

A Konig Sueca era, se bem recordo, uma moto feita a partir de um motor de barco, e as demais configurações iam do sofisticado 4 em linha DOHC da MV Agusta, às mais que obsoletas Norton Manx monocilíndricas, passando por bicilíndricas Suzuki e Yamaha a 2 tempos, ou pela mítica Kawasaki tricilíndrica, a H1R.

Completavam o ramalhete das 23 marcas as Arter, Husqvarna (ah, pois!), Ducati, Metisse, Cowles, Coleman, Padgett (Kawasaki e Yamaha) e Hurst.


Giacomo Agostini - 13 títulos mundiais na classe raínha

Giacomo Agostini - 13 títulos mundiais na classe raínha

Mas nem esse ano foi raridade, pois pouco antes, em 1969, com Agostini a vencer também, corriam 20 marcas, com nomes como Aermacchi, URS ou Kuhn, que pouco depois desapareciam... I

Isto vale o que vale, e não há dúvida que nunca houve corridas como as da actual geração de pilotos, a lutar até à última volta em derrapagem, com os super aderentes pneus modernos e as cavalagens extremas de uma 1000 de MotoGP cheia de electrónica... mas os anos de outrora não foram menos gloriosos, e honrá-los lembrando isso mesmo, só enriquece mais o espectáculo de que desfrutamos hoje!


Kim Newcombe na sua Konig 680cc  persegue a Norton F750 de John Williams em Silverstone 1972

Kim Newcombe na sua Konig 680cc persegue a Norton F750 de John Williams em Silverstone 1972

andardemoto.pt @ 19-4-2017 14:10:36 - Paulo Araújo

Outros artigos de Paulo Araújo:

Ligar o complicómetro

Oliveira da Serra (Algarvia)

O Dakar e os portugueses

As tribos motard

Quando o cliente é o menos importante

A questão da Honda Repsol

Novos horizontes

A MotoGP em 2023: Mais eletrónica, mais técnica, mais difícil

Decidir sem pensar

As (minhas) motos ao longo dos anos

A hora da Ducati

Aonde vai isto parar?

Oliveira e os descrentes

Época tola na MotoGP: Tudo muda em 2022

A evolução da espécie

E as Superbike ?

A esbater as fronteiras

Miguel Oliveira - De herói a vilão

Os que ficaram em 2021

MotoGP, Testes pré-época em Valencia

O Campeão tranquilo

Milão mostra as tendências globais

Superbike - Rea é o culpado da crise?

Marquez, 7 vezes Campeão - De outro mundo

Leon Haslam vence Britânico de Superbike - Meio século de glória para o clã Haslam

Por dentro dos Grand Prix Legends...

Das duas para as quatro rodas

Frank Sinatra e Eddie Lawson: a teoria do afastamento precoce

Departamento de truques sujos

Curiosidades - As marcas e os nomes

Mundial de Superbike chega a Portimão ao rubro – previsão

MotoGP 2018 - Decisão histórica

O preço de economizar

As motos e os miúdos

Porquê raspar o joelho?

Recordes em pista - A tender para zero?

Bons velhos tempos nas Superbike

A Honda RC30 tem 30 anos

A alegria do faça-você-mesmo

Superbike- Irá a nova BMW fazer diferença?

Mundial Superbike 2018 – Uma época à procura de maior equilíbrio

Moto GP- Qual é o problema com a Yamaha?

MotoGP - Silly season - a época tola

História repetida?

Uma crónica acerca de... nada!

"Tudo é possível" - uma aventura em Vespa

Ilha de Man 2018 - Recordes batidos, e ainda vamos nos treinos!

Barry Sheene, as motos e o marketing

Meninas e Motos

A Norton Commando

Mundial SBK - A evolução da Yamaha YZF-R1

Do avião à moto

Convivendo com Graziano Rossi

O jogo do empresta

Curiosidades – Os homens da Força Aérea Sueca

Histórias do Mundial - Santiago Herrero: Campeão sem coroa

Curiosidades - Evinrude e os Davidson

MotoGP - Previsão de uma época histórica

Mundiais de Velocidade - A YZR500, ou OW – A 500 de GP da Yamaha

Mundiais de Velocidade - A Honda NS/NSR500

Foi-se Tony Scott

Mundiais de Velocidade – A Suzuki RG500 - Parte II

Mundiais de Velocidade – A Suzuki RG500 - Parte I

Mundiais Velocidade - A evolução

Oportunidades perdidas

Moto GP – Como vai ser 2018? – 3ª Parte – A Suzuki e a KTM

Moto GP – Como vai ser 2018? – 1ª Parte – A Honda e a Yamaha

Os famosos e as motos – Uma inevitável atração?

Corridas de moto no Natal?

Histórias do Mundial – Gary Nixon, o campeão que nunca chegou a ser...

Histórias do Mundial – As poderosas 500

Histórias do Mundial - Degner, Kaaden e a MZ

Pneus de MotoGP

Retrospectiva – MotoGP 2017

Grande Prémio de Macau de 1986 - O primeiro com portugueses - 1ª parte

Mundial Superbike – Retrospectiva 2017

Mundial Moto 3- Retrospectiva

A Moriwaki – Um prodígio à Japonesa

Quando os Grandes Prémios serviam para sonhar - A ELF500

Yoshimura, o mago dos motores

Harris YZR500 - A aventura no Mundial

O que vem a seguir em Moto2?

Técnica MotoGP - “Chatter” e como o evitar

Porquê raspar o joelho?

GP San Marino Moto GP – A ausência de Rossi

A Ducati e Doug Polen

Curiosidades do Mundial de outrora...

Mundial de Superbikes - A corrida no México

O que é o Northwest 200?

As gloriosas 350

O Mundial de velocidade, como era há 30 anos...

Recordando as 8 Horas de Suzuka

As corridas de Clube em Inglaterra

Recordando a magia de Spa- Francorchamps

Ainda as Superbike...

Como resolver a crise nas SBK?

McLaughlin e a criação das Superbike

Karma, ou o ciclo da vida…

Mundial MotoGP - Itália - Chega o novo Michelin

É tempo de Ilha de Man de novo

Regresso às origens nas SBK

Nicky Hayden, o adeus

As origens da KTM de Miguel Oliveira

Recordando momentos...

Jerez de la Frontera: Destino obrigatório

Mundial de Superbikes chega a Assen

Porque correm os Ingleses?

Quando menos era mais...

Parentescos - Porque há cada vez mais famílias no MotoGP?

A propósito de Motoshows por esse mundo fora...

Moto2 revela equilíbrio antes da prova inicial em Losail, no Qatar

Novos pneus Michelin em foco nos treinos MotoGP

O Artesão dos Escapes

Adeus, Sir John

O adeus às asas traz mais problemas do que os que resolve?

O Regresso das SBK


Clique aqui para ver mais sobre: Desporto