Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

Curiosidades – Os homens da Força Aérea Sueca

Há equipas apoiadas pelas Forças Armadas em vários países, mas só uma tinha como corredores pilotos militares em serviço activo.  

andardemoto.pt @ 4-4-2018 23:15:04 - Paulo Araújo

Skold em Macau, 1986

Skold em Macau, 1986

Não é de todo inédito, ou sequer raro, em certos paises, ver ramos das Forças Armadas patrocinar equipas de competição. Tipicamente, nos países mais desenvolvidos da Europa ou América do Norte, os exércitos são profissionalizados e têm um orçamento para atrair recrutas, por vezes com feroz competição entre os vários ramos, isto é, Marinha, Força aérea, exército, etc.

Umas das formas aceites de investir nessa promoção ao recrutamento é patrocinar uma equipa de corridas, já que os valores básicos de competitividade, agressividade controlada, masculinidade (embora haja cada vez mais senhoras a competir também!) são partilhados por ambas e são os próprios militares por vezes a funcionar em equipa preparando as motos e fornecendo a assistência em prova- quando valores como espírito de equipa, disciplina, e esforço conjunto são também reforçados.

A Polícia Francesa também tinha uma equipa de velocidade, nomeadamente com Marc Granie, um agente que, motard a 100%, fazia parte da escolta do Presidente e corria nas Formula TT na Ilha de Man e Vila Real.



A equipa da RAF em acção

A equipa da RAF em acção

Nos Estados Unidos, o exército teve uma equipa de velocidade durante algum tempo (com as motos, previsivelmente, pintadas em verde oliva e negro mate) e neste momento patrocina uma equipa de “dragsters”.

No Britânico de Superbikes compete, e já venceu corridas, uma equipa patrocinada pela Royal Air Force Reserves, com os mesmos intuitos, ou seja, atrair potenciais jovens recrutas e convencê-los a alistar-se em vista do muito que podem fazer uma vez parte da arma. A nível mais amador, uma equipe do exército compete em corridas de resistência de clube.

O que já não é tão vulgar, pensamos mesmo que seja inédito, é serem os próprios pilotos a correr. Afinal, com os riscos de queda e lesão constantes associados às corridas, teria de ser uma Força Aérea particularmente benevolente para deixar os seus pilotos correr enquanto estão no activo, quanto mais apoiá-los activamente. Parece que a Força Aérea Sueca está neste caso, pois é isso exactamente que ela faz!



O Viggen vê-se claramente no guarda-lamas da Honda RS

O Viggen vê-se claramente no guarda-lamas da Honda RS

A primeira vez que entrámos em contacto com a sua equipa foi no Grande Prémio de Macau de 1986, quando duas Honda RS500 azuis exibiam o logo “Flygvapnet” nas laterais. Mesmo que o significado da palavra não fosse de certo modo óbvio, a silhueta dum jacto militar algures na moto não deixava grande margem para dúvidas. Claro que tínhamos de falar com os pilotos e logo descobrimos que o esquema era simples: em troca de os libertar para correr pelo mundo fora entre Abril e Outubro, os dois “comprimiam” nos restante meses do ano as missões de voo que tinham de fazer nos jactos Saab Viggen – Sendo a Suécia uma dos poucos países do mundo suficientemente rico e ferozmente independente para utilizar os seus próprios aviões militares em vez de versões adquiridas às grandes potências como os EUA, Grã-Bretanha, França, ou no caso do bloco de Leste, Rússia ou China.

Foi assim que conhecemos, e encetámos uma relação de amizade que dura há mais de 30 anos, com os dois "Peters": Skold e Linden. Os dois eram, além de colegas de profissão e adversários em pista, muito diferentes em aspecto e personalidade:

Skold, alto e magro, também mais sério e reservado, só correu mais uns anos e penso que acabou a trabalhar para a Ohlins após sair da Força Aérea- em vista do muito que sabia, sem dúvida, após correr cerca de 12 anos pelo mundo fora trabalhando, em grande parte, mas suas próprias motos , que foram das Honda RS500 a 2 tempos dos anos oitenta às RC30 com que participou nalgumas provas de Superbike depois.



Linden, que aliás venceu a derradeira prova do Europeu de 500 disputada em Sintra – ironicamente na Base Aérea Nº 1! – era totalmente diferente. Pequeno, roliço, sempre a sorrir, divertia-se à brava com a vida em geral e com as corridas em particular e custava a crer que, nos últimos anos, já estava retirado do serviço como piloto activo e era, em vez disso... instrutor!

Fez parte da equipa que venceu as 8 Horas do Estoril em 2000 com a Phase One Endurance, e a dar prova do humor que sempre o acompanhou, quando caiu na última volta da corrida, por o pneu dianteiro ter perdido ar, quase deitando a perder a prova, declarou: “Eu estava tão cansado e a gravilha do Estoril parecia tão macia, que me apeteceu experimentá-la!”

O resultado, juntamente com um segundo em Spa, foi suficiente para o coroar Campeão Mundial de Resistência esse ano, só para que se perceba que não estamos a falar de um mero participante para fazer números. Um aspecto que quase passava despercebido na dedicação destes homens às corridas era que metade do ano, não podiam tocar em álcool porque estavam a pilotar... e a outra metade, porque estavam a correr de moto. O resultado, quando alguém lhe pôs uma Imperial em frente numa discoteca de Macau, foi termos de o levar em braços para o carro, pois a resistência a qualquer bebida alcoólica era zero, no mínimo pouco habitual para um nórdico!

Linden acabou por correr em Clássicas, e ainda há pouco fez o Classic Bol d'Or em Magny Cours com a sua “velha” equipa Phase One numa Kawasaki de 1978. Ao mesmo tempo, consegui envolver outro Campeão da Resistência, o Belga Stéphane Mertens, na sua outra paixão, pelos aviões, tendo-o levado a voar no seu jato a dada ocasião... uma rara personagem, que durante anos ajudou a dar às corridas o seu colorido muito particular.

andardemoto.pt @ 4-4-2018 23:15:04 - Paulo Araújo

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