
Paulo Araújo
Motociclista, jornalista e comentador desportivo
OPINIÃO
Retrospectiva – MotoGP 2017
Continuando a nossa série de retrospectivas da época de 2017, faltava a da classe rainha...
andardemoto.pt @ 23-11-2017 09:49:09 - Paulo Araújo
Não há dúvida que a época de MotoGP 2017 foi das mais competitivas e imprevisíveis dos últimos anos, embora com bem menos que os 8 vencedores de 2016 (apenas os primeiros cinco, Marquez, Dovi, Viñales, Pedrosa e Rossi, pisaram o mais alto degrau do pódio) a época foi marcada por uma série de domínios alternantes, primeiro da Yamaha, depois da Ducati e finalmente da Honda, que viria a conseguir o título com Marquez.
Do início no Quatar, parecia que Maverick Viñales não iria ter rivais, ainda por cima com Valentino a juntar-se a ele no pódio, anunciando a vantagem Yamaha... Viñales ainda foi vencer a segunda corrida, na Argentina, onde o resultado foi 1-2 Yamaha com Rossi de novo atrás do recém-chegado à equipa da Movistar. Só que essa vantagem esfumou-se mais adiante, como veremos.
Quando parecia que nada iria contrariar o domínio azul, eis que
Marquez surge com uma corrida dominante no circuito das Américas, para
vencer o GP dos EUA, com Viñales a não pontuar por queda, e ainda por
cima, com Pedrosa a juntar-se a Rossi no pódio, em 3º lugar, configurando o
aparente regresso da Honda Repsol.
Por esta altura, a único pódio de
Andrea Dovizioso, em segundo no Quatar, poderia parecer um daqueles
resultados atípicos, mais devido à garra do piloto italiano do que à
capacidade real da marca de Bolonha, que não vencia desde 2001, aparte
uma vitória solitária de Iannone na Áustria o ano passado, que nada fazia
prever que poderia passar a andar na frente consistentemente, como viria
a acontecer.
A chegada do circo à Europa, com Jerez de la Frontera no programa, nada fez para contrariar essa percepção: Pedrosa voou para a vitória com uma exibição perfeita que nos lembrou os seus anos nas 250, e Marquez seguiu-o no pódio, com o terceiro lugar de Lorenzo, até aqui muito apagado, atribuído à determinação deste de brilhar “em casa” visto tratar-se do GP de Espanha.
Nem Viñales, nem Valentino, ficaram sequer nos primeiros 5, dando azo ao começo de rumores que se prendiam com a dificuldade da YZR M1 em curvar eficientemente.
Nesta fase, nada fazia ainda prever o que se seguiria com a Ducati, a colocar-se nos lugares cimeiros nas corridas seguintes: Em França, Dovi foi quarto e viria a ganhar as duas provas seguintes, em Itália e em Barcelona.
Seguiu-se a “Catedral”, Assen, e
Valentino Rossi mostrou que está longe de acabado, com uma vitória
emocional sobre... Danilo Petrucci e Marc Marquez.
Vantagem de novo para Marquez, na Alemanha e Checa, com o pequeno catalão a ser apoiado no pódio por Pedrosa em ambas, terceiro no “Ring” e segundo em Brno... as Honda estavam de volta, ou só parecia?
Dovizioso regressaria em força a seguir, com vitórias na Áustria e em Inglaterra. No entanto, as Yamaha não andaram longe, pois quer “Vale” quer Viñales pisam o pódio em Donington, enquanto Lorenzo, que parecia cada vez mais apagado, apenas consegue um 4º lugar na Áustria...
Mais lá atrás, sem fazer ondas, poucos terão notado que as KTM começaram a entrar regularmente nos pontos, especialmente com Pol Espargaró, já que Bradley Smith se mostrava algo irregular e foi mesmo batido pelo piloto de testes da equipa, Mika Kalio, nas duas ocasiões em que este pontua, na Áustria e Aragón.
A marca viria a ficar à frente das Aprilia, mas atrás da Suzuki, que ainda teve um 4º lugar no Japão por Andrea Iannone, igualado por Rins na prova final de Valencia.
Antes disso, Valentino Rossi saltaria San Marino, com uma perna fracturada num acidente com uma moto de Enduro.
Incrivelmente, e contra todas as previsões, o Italiano de 38 anos regressaria apenas 20 dias depois, na ronda de Aragón.
Longe de estar em forma no GP, ganho por Marquez que fazia a dobradinha de San Marino, Rossi acabou quinto mas marcou pontos úteis. Por esta altura, Marquez e Dovi estavam perto na pontuação, com 5 vitórias para o Espanhol e 4 para o Italiano.
Seguia-se o GP do Japão, disputado sob condições de borrasca, e Rossi teve sorte duma enorme queda o ter apenas afastado sem agravar a sua lesão anterior. O duelo das últimas voltas no molhado, disputado taco a tacto, curva a curva entre Marquez e Dovizioso, como se de uma pista seca se tratasse, ficará para a história do Campeonato.
O veredicto pertenceu a Dovi, apesar do piloto da Honda Repsol lhe atirar com tudo o que tinha.
Os dois estavam agora a 7 pontos um do outro, a apenas 3 corridas do fim...
Danilo Petrucci voltou a mostrar que há que contar com ele quando as condições são menos que ideais, pisando o pódio à frente de nomes como Lorenzo, Zarco ou Rins.
A Austrália, a seguir, acabou com outra vitória de Marquez e o regresso “a sério” de Valentino Rossi, que ficou em segundo à frente de Johann Zarco. Este, já agora, liderou vários Grandes Prémios, e a dada altura parecia estar iminente uma vitória do Francês, que no entanto nunca viria a concretizar-se...
Na Malásia, mais chuva tropical,
de novo a favorecer a Ducati e Dovizioso, com a diferença que aqui,
também Lorenzo pisaria o pódio, depois de ter apoquentado os
responsáveis da Ducati ao liderar quase até final, aparentemente
ignorando ordens de equipa para deixar passar Dovi... um alargamento
providencial viria a colocar o italiano à frente, num dia em que Marquez
acabou apenas quarto, com Zarco a pisar o pódio mais uma vez...
Marquez ainda levava, no entanto, 21 pontos de avanço para o encontro final em Valencia. Ao multicampeão da Honda Repsol bastava-lhe acabar em 12º, mesmo que Dovizioso ganhasse, para se tornar no mais jovem campeão com quatro títulos na classe rainha.
Nem por isso a corrida final foi menos
tensa: Com Zarco a liderar boa parte da prova, Marquez teve um daqueles
momentos que o distinguem talvez de todos os pilotos até aqui... derrapa
de frente e, para todos os efeitos, cai ao tentar ultrapassar Zarco no
final da recta, mas incrivelmente, numa manobra que correu o mundo, consegue “apanhar” a moto de novo, entrando pela gravilha já direito, e perdendo
apenas alguns lugares.
Sem problemas, já que, pouco depois, foi a vez de Dovi, que caiu mesmo, deixando a Ducati fica de fora a 4 voltas do final, Marquez, que recuperara o terceiro lugar, a seguir a Johann Zarco, confirmava assim o título que a dada altura parecia ameaçado, mas que acabou por ser dele por 37 pontos. Outro recorde ainda lhe escapou por pouco, pois com 27 quedas não conseguiu igualar Sam Lowes, que conseguiu cair com a Aprilia 31 vezes ao longo da temporada!
A Ducati lambeu as feridas, consciente do que tinha feito, ao lutar todo o ano pelo título depois de algumas épocas muito difíceis. A Yamaha, em terceiro com Viñales, tem de procurar novas qualidades na antes dócil M1...
Uma coisa é certa: os fans do MotoGP mal podem esperar por 2018!
andardemoto.pt @ 23-11-2017 09:49:09 - Paulo Araújo
Outros artigos de Paulo Araújo:
Quando o cliente é o menos importante
A MotoGP em 2023: Mais eletrónica, mais técnica, mais difícil
As (minhas) motos ao longo dos anos
Época tola na MotoGP: Tudo muda em 2022
Miguel Oliveira - De herói a vilão
MotoGP, Testes pré-época em Valencia
Milão mostra as tendências globais
Superbike - Rea é o culpado da crise?
Marquez, 7 vezes Campeão - De outro mundo
Leon Haslam vence Britânico de Superbike - Meio século de glória para o clã Haslam
Por dentro dos Grand Prix Legends...
Frank Sinatra e Eddie Lawson: a teoria do afastamento precoce
Curiosidades - As marcas e os nomes
Mundial de Superbike chega a Portimão ao rubro – previsão
MotoGP 2018 - Decisão histórica
Recordes em pista - A tender para zero?
Bons velhos tempos nas Superbike
Superbike- Irá a nova BMW fazer diferença?
Mundial Superbike 2018 – Uma época à procura de maior equilíbrio
Moto GP- Qual é o problema com a Yamaha?
MotoGP - Silly season - a época tola
Uma crónica acerca de... nada!
"Tudo é possível" - uma aventura em Vespa
Ilha de Man 2018 - Recordes batidos, e ainda vamos nos treinos!
Barry Sheene, as motos e o marketing
Mundial SBK - A evolução da Yamaha YZF-R1
Curiosidades – Os homens da Força Aérea Sueca
Histórias do Mundial - Santiago Herrero: Campeão sem coroa
Curiosidades - Evinrude e os Davidson
MotoGP - Previsão de uma época histórica
Mundiais de Velocidade - A YZR500, ou OW – A 500 de GP da Yamaha
Mundiais de Velocidade - A Honda NS/NSR500
Mundiais de Velocidade – A Suzuki RG500 - Parte II
Mundiais de Velocidade – A Suzuki RG500 - Parte I
Mundiais Velocidade - A evolução
Moto GP – Como vai ser 2018? – 3ª Parte – A Suzuki e a KTM
Moto GP – Como vai ser 2018? – 1ª Parte – A Honda e a Yamaha
Os famosos e as motos – Uma inevitável atração?
Histórias do Mundial – Gary Nixon, o campeão que nunca chegou a ser...
Histórias do Mundial – As poderosas 500
Histórias do Mundial - Degner, Kaaden e a MZ
Grande Prémio de Macau de 1986 - O primeiro com portugueses - 1ª parte
Mundial Superbike – Retrospectiva 2017
A Moriwaki – Um prodígio à Japonesa
Quando os Grandes Prémios serviam para sonhar - A ELF500
Harris YZR500 - A aventura no Mundial
Técnica MotoGP - “Chatter” e como o evitar
GP San Marino Moto GP – A ausência de Rossi
Curiosidades do Mundial de outrora...
Mundial de Superbikes - A corrida no México
O Mundial de velocidade, como era há 30 anos...
Recordando as 8 Horas de Suzuka
As corridas de Clube em Inglaterra
Recordando a magia de Spa- Francorchamps
Como resolver a crise nas SBK?
McLaughlin e a criação das Superbike
Mundial MotoGP - Itália - Chega o novo Michelin
É tempo de Ilha de Man de novo
As origens da KTM de Miguel Oliveira
Jerez de la Frontera: Destino obrigatório
Mundial de Superbikes chega a Assen
Parentescos - Porque há cada vez mais famílias no MotoGP?
A propósito de Motoshows por esse mundo fora...
Moto2 revela equilíbrio antes da prova inicial em Losail, no Qatar
Novos pneus Michelin em foco nos treinos MotoGP
Clique aqui para ver mais sobre: Desporto