Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

Novos horizontes

Cada vez mais me acontece ver uma moto estacionada e ter de ir olhar de perto para identificar a marca e modelo.

andardemoto.pt @ 13-3-2023 21:04:10 - Paulo Araújo

Isto devido à verdadeira invasão de dezenas de marcas chinesas indiferenciadas que proliferam e que por vezes nos parecem estranhas e têm nomes ainda mais estranhos.

Isto é verdade especialmente para as marcas que produzem apenas modestas 125 apontadas a uma nova geração que adotou a moto por razões práticas, sobretudo titulares de carta B que permite conduzir 125s.

Estas não deixam grande margem de comercialização e, portanto, os seus fabricantes não estão em hábito de se apresentar à comunidade internacional com eventos de lançamento em locais exóticos, mas vão aparecendo no mercado em circulação mesmo assim. Por um lado, isto mostra que necessito de um refresh, porque o reconhecimento já não é tão automático como era há 30 anos.

Por outro lado, pus-me a pensar se não seria assim exatamente que os Europeus viram a invasão japonesa, meio século atrás.

Ao contrário de agora, nesses distantes anos 70 do século passado, os nomes eram facilmente identificáveis e havia a vantagem de termos apenas quatro marcas em questão, Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki.

Que dizer agora de nomes que nos parecem muito estranhos, como Geely, Quiajiang, Lifan, Loncin, Zongshen, Jiashe, Haojin, Quingqi, Jialing, Shineray, HaoJue... e há ainda as que adoptaram um nome ocidental justamente para combater essa estranheza, nomes como Voge, Zontes, Macbor, CF Moto e outras do género.

Depois, há uma diferença fundamental: há 50 anos, a qualidade e fiabilidade dos motores japoneses nunca esteve em causa.

A inovação era a palavra de ordem, com arranques elétricos, distribuição por dupla árvore de cames, cabeças multi-válvulas e limites de rotação impensáveis para as europeias, além de equipamento completo, quando as europeias, na sua maioria, nem piscas traziam!

Onde as japonesas deixavam a desejar era na ciclística... os quadros eram medíocres, os travões, copiados dos já de si fracos europeus, eram ainda piores, e as suspensões seguiam a forma, mas esqueciam ou ignoravam a função. Mesmo os pneus não tinham o melhor comportamento nem inspiravam confiança.

Agora com as chinesas, pelo menos até há muito pouco tempo, passava-se exatamente o oposto: os motores eram versões licenciadas de unidades japoneses obsoletas, por vezes copiadas em massa sem a tal atenção aos acabamentos, materiais e tratamentos adequados, acabando por comprometer a fiabilidade.

Em nome da verdade, também aqui há um paralelo com as primeiras japonesas, mas de marcas que nunca ouviram falar, pois essa falta de qualidade logo ditou o seu desaparecimento. Quem se lembra das Lilac, Showa, Meguro, Abe, Marusho ou Hodaka?

Voltando às atuais chinesas, e ao contrário dos motores, do lado da ciclística é tudo do melhor: travões, suspensões e amortecedores de prestigiadas marcas como Kayaba, Paioli, Brembo, WP, Tokico, Nissin, mesmo na versão baixa da gama, garantem não só desempenho adequado mas familiaridade com os nomes de marcas estabelecidas. Ao mesmo tempo, providenciam um equilíbrio estético, uma paridade se quiserem, com as marcas que procuram atacar.

Entretanto, em ambos cenários, numa escassa dezena de anos, a melhoria de qualidade foi tão exponencial que então, há 50 anos, ditou o quase-desaparecimento das marcas europeias e agora, em vez de lutar, a maioria das marcas mundiais renderam-se ao inevitável e começaram a fabricar os seus modelos na China, em parcerias com estes fabricantes.

É hoje assim com a BMW, Benelli, KTM, Piaggio e Harley-Davidson, e até nas marcas japonesas há algum tempo que a maioria dos modelos de baixa cilindrada já não são fabricados no Japão.

É o ciclo da vida e uma mudança na indústria a que teremos que nos habituar e que, pelo menos, conseguiu atrair uma nova geração de utentes - hesito apelida-los de motociclistas - às duas rodas. Agora, estamos prestes a presenciar um novo capítulo com as eléctricas...

O futuro está aqui e é cada vez mais global!


andardemoto.pt @ 13-3-2023 21:04:10 - Paulo Araújo

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